Um paranaense que dá aula sobre “polaquês”, utilizando conhecimentos da vida em que conta acontecimentos de um povo guerreiro e vibrante. A história de Ulisses Iarochinski, natural de Harmonia, atual Telêmaco Borba, comprova que o esforço deu resultado e virou documentário sobre o Holocausto, o assassinato em massa de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, o maior genocídio do século XX.
Ulisses é jornalista, locutor, repórter, ator de teatro, TV e cinema, autor de 19 livros e produtor de conteúdo nas redes socais. A admiração pelo Polônia é desde pequeno, apesar da pouca relação com os descendentes da família polaca.
“Meu pai morreu quando eu era muito novo, então minha relação familiar é mais do lado mineiro. Na minha infância, era chamado de polaco. Aceitava aquilo como apelido, mas quando cheguei em Curitiba em 1975, cidade com a maior colônia polaca da América Latina, comecei a sentir que aquilo não era bem visto. Era como xingar a pessoa. A partir disso, começo a procurar as minhas raízes”, disse Ulisses.
Já adulto e trabalhando em Comunicação, Ulisses percebeu que realmente existiam pessoas que não gostavam no termo polaco. “Teve uma vez que presenciei a revolta. Fui para Palmeira, na Colônia Santa Bárbara, e fui entrevistar o presidente de uma associação. Comecei a perguntar usando a palavra polaco, o homem foi ficando irritado e mandou eu calar a boca. Voltei para Curitiba intrigado com isso, e comecei a estudar o assunto. Não é errado falar polaco ou polonês, mas ainda tem essa “briga”, ironizou o jornalista.
Ao ter mais documentos e ilustrações da Polônia, Ulisses começou a dedicar boa parte do tempo com reportagens e programas de televisão sobre os costumes, lugares e tradições do país europeu. Em 2000, escreveu o livro “Saga dos Polacos – a Polônia e Seus Emigrantes no Brasil”. Com a obra, o consulado polonês, conseguiu uma bolsa de estudos em doutorado em História em Cracóvia, cidade no sul da Polônia, perto da fronteira com a República Tcheca.
“O cônsul me deu algumas ilustrações e vídeos sobre a Polônia e nada estava em português. Produzi reportagens e fui especializando sobre o assunto. Tive a ajuda de muitas pessoas, fui lendo, armazenando conteúdo e arquivando. Já na Europa, um amigo indicou uma agência de turismo para trabalhar de guia. Eu falo italiano, inglês, francês e espanhol, e levava os turistas para vários cantos, inclusive nos campos de concentração”, comentou Ulisses.
Clima tenso e de pressão
Ulisses chegou a visitar centenas de vezes os campos de concentração e extermínio alemão nazista de Auschwitz e Birkenau. No entanto, jamais esqueceu quando foi pela primeira vez ao local em 1995, na época, um simples visitante. “Um dia fui para dois campos. Naquela vez, fiquei alterado. Era muita pressão, tem uma sala com os cabelos que se transformavam em tecidos, muito pesado. Como guia, indo mais de 100 vezes, virou rotina. Naturalmente sentia a reação de quem estava acompanhando e lembrava de 95”, reforçou o jornalista.
Cemitério sem tumbas
Em 2005, produziu o documentário “Cemitério sem tumbas”, com 20 minutos de duração. Embora tenha sido produzido há 20 anos, quando Ulisses registrou as comemorações os 60 anos da libertação dos campos de concentração e extermínio nazistas, só agora está sendo exibido para o público. Em Curitiba, o documentário foi mostrado no dia 5 de fevereiro, no Teatro Universitário de Curitiba (TUC).
“O Roberto Cabrini quase levou o material todo para a Bandeirantes, em 2006. Depois passei para amigos de Portugal em DVD, e lá deu certo. Agora estamos passando por cidades que tenham o interesse de divulgar”, afirmou Ulisses.
O documentário mostra cenas chocantes e depoimentos dolorosos de ex-prisioneiros, bem como a história dos campos nas cidades de Oswiecim e Brzezinka. Está registrada no filme uma das tantas comemorações da liberação dos campos.
“Na solenidade de 60 anos de liberação, teve a presença de reis, presidentes e primeiros-ministros de vários países, fora os pronunciamentos de sobreviventes. Fiz sozinho, filmei e editei. O resultado do documentário tem uma carga violenta, é motivo de reflexão, e pior que depois tantos anos depois, ainda existe a grande chance de termos uma nova guerra”, completou Ulisses.
Em março, “Cemitério sem tumbas” vai ser exibido em Castro e Telêmaco Borba, região dos Campos Gerais, ainda sem data definida. Para este mês de fevereiro, existe a possibilidade de exibição na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP).
