Uma experiência iniciada em 2005 em Curitiba está servindo de exemplo no trabalho de prevenção e respostas rápidas a emergências em escolas. O programa Conhecer para Prevenir (CPP), fruto de uma parceria entre a Defesa Civil e a rede de ensino da capital paranaense, serviu como base para um guia publicado por uma empresa especializada em gestão de crises com orientações sobre como aprimorar a segurança e lidar com desastres no ambiente escolar.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Nelson Ribeiro, coordenador da Defesa Civil de Curitiba, explicou que o projeto foi se modificando ao longo dos anos. A primeira abordagem era voltada a atendimento de ocorrências como desastres naturais. A principal ameaça identificada inicialmente foram os incêndios, o que levou a equipe do CPP a criar protocolos gerais e específicos para cada unidade escolar de prevenção e combate ao fogo, primeiros socorros e um plano de preparação para emergências.
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“O projeto foi criado para atender a uma demanda por mais segurança nas escolas. De lá para cá houve um engajamento muito grande por parte do poder público, uma vez que o programa está presente em 100% das escolas municipais. É uma preparação que habilita a todos no ambiente escolar, professores, funcionários e os estudantes, que acabam levando isso para as próprias casas, no sentido de instruí-los a identificar os riscos existentes e o consequente enfrentamento desses riscos, seja com ações preventivas, seja com a aplicação do protocolo no momento do desastre para minimizar o número de vítimas”, detalhou Ribeiro.
Protocolos foram evoluindo com o tempo
Os protocolos evoluíram para outros atendimentos, como enchentes, alagamentos e desabamentos. Como um caminho natural, explicou Ribeiro, foi necessário adequar o CPP para casos de invasão do ambiente escolar. Mas o cenário era bem diferente dos ataques registrados recentemente no Brasil.
“Nosso foco era como prevenir aqueles casos de pessoas que entravam para praticar pequenos furtos. Esse era o tipo de ataque que havia então. No máximo, uma invasão feita por um assaltante, por exemplo, em rota de fuga da polícia e que entrava na escola com a única motivação de escapar dos policiais, e não de provocar danos ou vítimas lá dentro”, pontuou.
Equipes da Defesa Civil fazem simulados de ataques em escolas
Os treinamentos agora englobam também os casos de agressores ativos, explicou Ribeiro. As ações de instrução são feitas em parceria com a Guarda Municipal (GM) de Curitiba, com uma periodicidade mínima de seis meses. Para garantir que as instruções sejam assimiladas por toda a comunidade escolar, também são feitos simulados de ataques.
“Nesses simulados, a gente percebe se tem algum ponto que está precisando de um trabalho mais forte de instrução. Dessa forma, vamos atualizando os nossos protocolos de forma a deixar esse trabalho o mais adequado possível para a realidade de cada uma das escolas do município”, disse Ribeiro, que é inspetor da GM.
O inspetor classificou o convite para participar da elaboração do guia da Cosafe como “uma honra” após 25 anos de serviço na Defesa Civil. Segundo ele, após a publicação, várias cidades têm procurado a prefeitura de Curitiba para replicar o CPP. Além dessa procura, Ribeiro confirmou que escolas particulares da capital do Paraná também buscaram a Defesa Civil para aplicar o programa.
“É importante que todas as escolas, públicas ou particulares, tenham bem definida uma série de medidas básicas para esse enfrentamento. É preciso ter plano e brigada de emergências instituída, com cada integrante sabendo qual é o seu papel neste trabalho, de forma a quando acontecer uma emergência as ações estarem internalizadas. É preciso ter protocolos de ação bem definidos para situações de ataque. Uma escola que cumpre esses requisitos, faz essa instrução e esses simulados certamente estará bem-preparada para enfrentar cenários de crise”, concluiu.
Evolução da tecnologia ajuda no combate aos crimes
Procurado pela reportagem, o secretário de Defesa Social de Curitiba, Péricles de Matos, avaliou que a evolução tecnológica tem provocado uma mudança sensível na forma como esse tipo de crime vem sendo planejado e executado. Para ele, o chamado “terrorismo da Nova Era” não é espontâneo no Brasil, e sim importado de países europeus e dos Estados Unidos. “O nosso criminoso daqui acaba copiando essa forma de ataque. É um efeito de imitação, apropriado principalmente pelas redes sociais”, avaliou.
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Porém, Matos entende que essa mesma evolução tecnológica pode facilitar a prevenção e o combate desses crimes. Em Curitiba, disse o secretário, há uma interação entre as redes de Educação e de Segurança baseada no sensoriamento das escolas por meio de câmeras de segurança, botão de pânico e a presença da patrulha escolar no entorno das unidades.
“Caso haja o acionamento do botão de pânico ou mesmo via telefone, nós começamos a selecionar as câmeras e as imagens de onde a crise está ocorrendo. Aliada a essa tecnologia, está a nossa equipe de pessoas, extremamente qualificada e capacitada por meio de exercícios simulados, para seguir os nossos protocolos. Este é o triângulo de proteção, que segue sendo atualizado inclusive com esses casos que infelizmente vem ocorrendo pelo país”, disse.
País teve avalanche de anúncios na tentativa de ampliar segurança nas escolas
O aumento no patrulhamento no entorno das escolas e a presença mais ostensiva das forças de segurança dentro desses locais têm sido a tônica de muitas das ações que estão sendo tomadas por municípios e estados como resposta aos recentes casos de ataques a instituições de ensino. Para financiar tais medidas, o governo federal anunciou, no último dia 12, um edital de R$ 150 milhões para que estados e municípios ampliem a segurança no entorno de escolas.
É o que vem sendo feito, por exemplo, em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Por lá, a prefeitura determinou um aumento nas rondas ostensivas no entorno das escolas do Município após ameaças de ataque e rapto de crianças. Além da Guarda Municipal, PM e Polícia Civil também foram convocadas a atuarem de forma mais próxima às escolas.
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Assim também foi em Caraguatatuba (SP). A prefeitura organizou uma série de treinamentos em todas as unidades educacionais da cidade, públicas e privadas, para o uso do botão do pânico, uma ferramenta que possibilitará o contato imediato com forças de segurança em caso de ataques. Além disso, estão sendo estudadas pela administração municipal a criação da Patrulha Escolar Municipal, realizada pela Guarda Municipal em escala extra, a intensificação do acompanhamento do horário de entrada e saída dos alunos, assim como uma maior frequência de rondas da Polícia Militar.
Em Pelotas (RS), a administração municipal apresentou, no último dia 11, um plano de contingência à violência nas escolas da cidade. O documento foi elaborado pela equipe do Observatório de Segurança Pública do Município e, entre outras ações, indica um reforço na presença de policiais militares e guardas municipais nos horários de entrada e saída das escolas, como forma de ampliar a segurança.
Na Assembleia Legislativa do Paraná começou a tramitar um projeto que prevê a criação de uma Política Estadual de Segurança Escolar. O projeto propõe que todas escolas e creches do Paraná, públicas ou privadas, passem a ter detectores de metais em seus acessos, cercas elétricas em cima de seus muros e monitoramento por câmeras. De acordo com o projeto, serão ampliadas as medidas de prevenção tornando-as perenes, além de preparar a comunidade escolar diante de possíveis situações de violência ou ameaças à segurança dentro das escolas.