Preservação

Empresários se unem para restaurar Mata Atlântica do Litoral do Paraná

Foto: divulgação.

Foi em 2018, quando Fulgêncio Torres, fundador e presidente da empresa Porto Morretes – fabricante das cachaças Novo Fogo e Porto Morretes, produzidas no município de Morretes, litoral do Paraná, em conjunto com os parceiros de negócio Dragos Axinte e Luke McKinley, da Novo Fogo, – se depararam com a dificuldade de comprar barris de madeiras brasileiras nativas da Mata Atlântica para trabalhar com o envelhecimento das cachaças de exportação da marca Novo Fogo, que os empresários perceberam que estavam diante de um “alerta vermelho”.

“Descobrimos que as madeiras das quais precisávamos, de espécies como castanheiras, amburana e araribá, assim como a maioria das madeiras brasileiras usadas para envelhecer bebidas, todas nativas da Mata Atlântica, ou estão ameaçadas de extinção, ou já foram extintas”, conta Dragos, da Novo Fogo. “Queríamos iniciar um projeto para causar um impacto positivo no ecossistema da Mata Atlântica, removendo ativamente algumas dessas árvores da lista de espécies ameaçadas.”

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Diante do cenário, na época já estava cada vez mais difícil comprar barris feitos com madeira obtida de forma sustentável. Muitas, hoje já têm o corte de qualquer exemplar proibido, como no caso da árvore que fornece a castanha-do-pará, ou castanha-do-brasil, por exemplo.

Foi então que o grupo decidiu buscar parcerias para criar um programa que contribuísse para a conservação da Floresta Atlântica, onde a empresa está instalada. Depois de muita conversa, decidiram produzir mudas e cultivar árvores raras e ameaçadas de extinção no litoral do Paraná, como jequitibá, pau-óleo, canelas, baguaçu, pau-sangue, entre outras, fortemente exploradas em décadas passadas para extração de madeira e usos diversos.

Ainda em 2018, o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, estabelecido em Florianópolis (SC), e o parque de experiências ecológicas Ekôa Park, localizado no município de Morretes, no litoral do Paraná, assumiram o desafio de idealizar, criar, planejar e conduzir o programa.

“Acreditamos que o programa poderia representar um passo importante para contribuir com o enriquecimento de áreas de floresta com algumas espécies nobres e uma perspectiva para que, no futuro, dentro de 20, 30 anos, considerando a realidade dos nossos negócios, os barris de madeira usados no processo de envelhecimento das cachaças sejam originários de fontes sustentáveis, e não de ilegais”, explicou Fulgêncio.

Faz parte dos objetivos do programa, portanto, distribuir mudas pelo território do litoral do Paraná para enriquecimento de florestas exploradas no passado que estão empobrecidas e onde essas espécies faltam, assim como para prover informação ao público sobre temas ambientais.

O Instituto Hórus é uma organização não governamental fundada em 2002 que trabalha em prol da restauração de áreas naturais e do desenvolvimento de iniciativas de gestão e manejo de espécies exóticas invasoras para fins de conservação da diversidade biológica.

Já o Ekôa Park atua desde 2018 ofertando a visitantes, públicos escolares e empresas experiências imersivas na natureza. Atua na maior área contínua de Mata Atlântica existente no Brasil, conhecida por Grande Reserva Mata Atlântica, um contínuo de quase três milhões de hectares, envolvendo os estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, uma das áreas de maior diversidade biológica do Brasil e do planeta. 

Nascia, então, no mesmo ano, o Programa “Salvando Árvores da Extinção”, The Un-Endangered Forest Project™, em inglês. Coube ao Instituto Hórus a idealização técnica do programa, em duas fases: a primeira, da base conceitual e estrutural, que incluiu a identificação e o mapeamento de espécies raras e/ou ameaçadas de extinção no interior de florestas do litoral paranaense. Especialistas em botânica conhecedores dos ambientes litorâneos da região foram mobilizados para identificar e marcar a localização das árvores matrizes para coleta das melhores sementes. A segunda, a criação de estratégias para a produção de mudas, a distribuição, o plantio e o registro de todos os processos em uma base de dados dedicada ao programa.

Foi em função da criação do viveiro no Tekôa (área de sustentabilidade do parque), também em 2018, que o Ekôa Park foi a outra entidade a entrar na parceria. Nesse local, dentro do Ekôa Park, é onde ocorre a produção de todas as mudas do projeto, provendo condições adequadas para que elas cresçam saudáveis e com a máxima qualidade. O viveiro ganhou o nome de Casa Viveiro, pois é a casa das plantas, uma estrutura inteira construída a partir de técnicas bioconstrutivas para servirem também de inspiração a todas as pessoas que visitam o parque.

“Até o final de 2024, serão produzidas mais quatro ou cinco mil mudas, dependendo das condições do clima, para ampliarmos ainda mais esse grupo de pessoas envolvidas no plantio”, projeta Tatiana Perim, diretora-executiva e CEO do Ekôa Park.

A seleção das espécies cultivadas no viveiro se fundamenta na Lista Vermelha de espécies ameaçadas, da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na tradução para o Português), do Centro Nacional de Conservação da Flora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e da Lista Vermelha de Flora do estado do Paraná.

“Esperamos que nos próximos anos, essas árvores que hoje estão sendo plantadas tenham crescido e estejam produzindo frutos e sementes para ampliar ainda mais as populações e áreas de ocorrência, permitindo que as florestas exploradas e degradadas no passado voltem a ter maior riqueza e diversidade, incluindo as espécies mais vulneráveis”, projeta Sílvia Ziller, fundadora do Instituto Hórus.

Para isso, o trabalho precisa ser feito de forma conjunta. E neste ponto está a importância da chamada Rede de Plantadores, peça essencial do programa.

Rede de Plantadores

A Rede de Plantadores reúne atualmente 70 proprietários de terras estabelecidos no litoral do estado do Paraná, com interesse em enriquecer suas áreas de floresta.

De 2018 até agora, já foram coletadas quase 20 mil sementes e produzidas mais de duas mil mudas de 25 das 48 espécies alvo do programa, que são raras, endêmicas (que só existem na região) ou ameaçadas de extinção, distribuídas a proprietários que participam da rede.

Tatiana Perim também destaca que o diferencial do programa é que ele atua como um grande “dispersor de sementes”, só que de espécies ameaçadas de extinção, porque são espécies que foram dizimadas na época da exploração madeireira, como canelas, jequitibás e perobas, por exemplo. “O programa une não só a necessidade de repovoar a floresta com essas espécies, fazendo o enriquecimento dessas áreas naturais, mas também gera dados importantíssimos e muito valiosos sobre a biodiversidade da Mata Atlântica”, diz.

Sílvia Ziller completa, ao destacar que o objetivo do “Salvando Árvores da Extinção” não é ter uma produção imensa de mudas, mas sim, cultivar mudas de alta qualidade para promover o crescimento da Rede de Plantadores e espalhar as espécies na paisagem do litoral do estado, com potencial de ampliação para ainda mais áreas da Grande Reserva Mata Atlântica, especialmente o litoral norte de Santa Catarina, que tem condições ambientais muito similares.

“Não adianta produzirmos milhares de mudas se não tivermos centenas de propriedades nas quais plantá-las. Também não queremos enviar 50 mudas da mesma espécie para a mesma propriedade, por exemplo, mas sim, 10 ou 20, porque elas não ocorrem em alta densidade na natureza e não devemos alterar esse padrão natural. Temos cuidados técnicos que vão sempre ser levados em conta nos processos, incluindo fatores genéticos que devem ser respeitados”, explica.

Alguns desafios, no entanto, precisam ser continuamente superados. Marcelo Leandro Brotto, Engenheiro Florestal que coletou sementes para o programa, explica que, depois de identificar as espécies, é feita a busca pelas sementes no topo das árvores. “A maior dificuldade que enfrentamos no programa é que as espécies de maior porte estão em áreas mais conservadas da floresta, portanto, mais afastadas, e algumas não frutificam todos os anos. Quando não há frutos, só podemos voltar um ano depois. É um trabalho artesanal, que precisa respeitar o tempo da natureza”, diz.

A coleta de frutos e sementes precisa ser feita nas copas das árvores, porque, segundo explica Marcelo, coletando-as do chão, muitas vezes, não germinam bem no viveiro, já que são rapidamente deterioradas no chão úmido da floresta.

Victor Paolineti, engenheiro florestal responsável pelo viveiro, lembra que, desde a distribuição da primeira leva de mudas, em agosto de 2018, com o passar do tempo, a produção das espécies ganhou agilidade e volume em razão dos aprendizados acumulados com as experiências.

“Diversas espécies produzidas praticamente não têm referência em literatura para guiar o processamento de sementes, por isso, muita experimentação é necessária até conseguirmos um bom índice de germinação”, explica. Em função da geração de dados inéditos, faz parte do processo a elaboração de um guia para a produção de mudas, que é atualizado continuamente em função da experiência no viveiro.

Até agora, 444 espécies de árvores matrizes foram marcadas para a coleta de sementes, o que representa um alto e excelente número no cenário da Mata Atlântica e para os objetivos do programa. Somente de algumas espécies ainda não foram encontradas matrizes, tamanha raridade.

Aplicativo

Para registrar os locais exatos de plantio das mudas distribuídas, as respectivas espécies e as coordenadas geográficas, o Programa “Salvando Árvores da Extinção” também conta, desde 2022, com o auxílio direto de um aplicativo, gratuito e disponível para telefones celulares com sistema iOS e Android.

“No momento do plantio da muda, o GPS do telefone captura as coordenadas de onde a pessoa está. Quem planta tira uma foto da muda e, com isso, temos o registro das coordenadas geográficas, a data de plantio, o local, a propriedade e outras informações”, explica Sílvia.

Esses dados são enviados pela internet para o banco de dados do programa, que também guarda informações detalhadas desde a coleta de sementes até o processamento no viveiro e da rede de plantadores. Se não há sinal de internet ou telefone no local do plantio, os dados ficam salvos para envio assim que a pessoa restabelecer a conexão. “Com isso, podemos verificar a sobrevivência das mudas e ir melhorando o processo para maximizar as chances de que cheguem à idade adulta”, diz.

Atualmente, 1.118 mudas já plantadas estão cadastradas com coordenadas geográficas e fotografias registradas via aplicativo. A expectativa é de que, até o final de 2024, o registro inclua as mudas atualmente em produção, ultrapassando cinco mil mudas plantadas, com as respectivas coordenadas do local de plantio.

Encontro de plantadores

Agora, ainda em 2023, o programabuscaexpandir as áreas de plantio de forma mais abrangente no litoral do Paraná, com mais integrantes da Rede de Plantadores em municípios como Guaraqueçaba, Paranaguá, Caiobá, Matinhos e Guaratuba, assim como no litoral norte de Santa Catarina.

Para isso, o Ekôa Park, onde são produzidas, e de onde saem as mudas para a Rede de Plantadores, recebe, dia 26 de novembro, o grupo de plantadores. O encontro tem por objetivo promover a integração e a troca de experiências entre participantes do programa, assim como dar início à distribuição de um novo lote de mudas, que inclui a canela-preta (Ocotea catharinensis), uma das madeiras mais exploradas para construção civil e assoalhos no século passado.  

“A adição de novos membros à rede ocorre de forma contínua e ganha mais adeptos com a divulgação e a distribuição de mais mudas a cada ano. Estamos cadastrando pessoas interessadas em receber e plantar essas mudas em propriedades particulares e espaços públicos, como praças e parques também. Trata-se de uma forma de dar mais visibilidade a essas espécies preciosas. Ao longo dos anos, quando atingirem a maturidade, cada uma dessas árvores vai produzir sementes que o vento, a água ou os animais se encarregarão de dispersar, enriquecendo e melhorando as condições da floresta, especialmente, em áreas que foram exploradas no passado. É um legado que, juntos, vamos poder deixar”, projeta Tatiana Perim, CEO do Ekôa.

As pessoas que têm propriedade com área de floresta no litoral do Paraná podem receber mudas do viveiro para plantio, sem custo, e colaborar com a reposição dessas espécies na floresta. Ao aceitar as mudas, o participante também recebe informações sobre cada espécie, os motivos que a fizeram se tornar rara ou ameaçada de extinção, além de orientações sobre como e onde realizar o plantio.

“A tarefa de quem recebe as mudas é simples: realizar o plantio em área adequada de floresta logo após o recebimento, registrar o local de cada muda usando o aplicativo para telefone celular e, dentro do possível, acompanhar o desenvolvimento para evitar que se percam”, explica Sílvia. As mudas são para plantio em áreas de floresta, não em áreas abertas nem em jardins, pois precisam de sombra para crescer e podem depender de polinizadores ou dispersores de sementes que vivem em florestas conservadas.

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