“Venha, fiscalização. Venha AIFU. Tragam o prefeito. Quero falar com ele pessoalmente”. “Venha aqui, Rafinha. Te pago um café”, ironizou o empresário. Estes são trechos de uma postagem nas redes sociais do empresário Beto Madalosso, do Carlo Ristorante, afirmando que vai abrir o seu restaurante e descumprir o novo decreto da bandeira vermelha da prefeitura de Curitiba, que está em vigor desde o sábado (29) até, pelo menos, o próximo dia 9 de junho. Para tentar conter o contágio da covid-19 na capital, uma das medidas é proibir o funcionamento de bares, restaurantes e lanchonetes para consumo no local. Somente o delivery e take-away estão permitidos, em horários fixos. 

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A postagem de Madalosso, feita no Instagram, atraiu comentários de outros chefs, também no clima de indignação. Dudu Sperandio, por exemplo, do Ernesto Ristorante, disse que já estava descumprindo o decreto faz tempo, afirmando que nunca fechou. “Você algum dia fechou? Nós também estamos abertos, melhor nunca fechamos, pena que demorou tanto para você se revoltar!”, postou.

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Até por volta das 12h30, a postagem tinha cerca de 5,5 mil impressões, entre curtidas e outros posicionamentos. Por volta das 13h, a postagem já não estava mais no ar.

O post de Madalosso, feito em formato de cards e com várias imagens, ainda criticou a lotação nos ônibus do transporte coletivo de Curitiba, a desativação de leitos de UTI para a covid-19 e o evento de inauguração do Memorial Paranista, no São Lourenço, onde a prefeitura promoveu aglomeração. Os presentes neste evento não mantiveram o distanciamento social, incluindo o prefeito Rafael Greca (DEM), que distribuiu abraços e beijos, como mostra o vídeo da reportagem da Tribuna.

Até a vereadora do PT, Carol Dartora, deixou um comentário no post com um emoji em forma de fogo. Já a Janaína dos Santos, empresária do ramo dona do Cosmo Gastrobar, foi contra o posicionamento de Madalosso e o criticou nas redes. “Esse é o cara que Curitiba paga pau. Parabéns”, postou.

Questionada, a prefeitura não divulgou nenhuma informação sobre uma possível fiscalização no Carlo Ristorante.

A decisão da bandeira vermelha, na sexta-feira, foi repleta de polêmica, tanto que a secretária de saúde Márcia Huçulak chegou a dizer que não aguentava mais a pressão da pandemia e que “queria estar muito longe daqui. Segundo ela, porém, a situação dos hospitais na cidade, bem como o aumento dos casos ativos, exigiu uma medida mais forte da administração municipal a fim de evitar o caos na saúde pública.

“Humilhação no período da pandemia”, diz Abrabar

Em nota, a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) disse que o protesto do empresário abriu a discussão da “seletividade de quem pode trabalhar na Cidade em tempos de Lockdown”. A Abrabar disse que o setor passa por humilhação no período da pandemia e o que o “essencial [da postagem] foi abrir o Debate ao Direito de Resistência do Cidadão”.

A nota também menciona a lotação do transporte público de Curitiba, diz que há privilégio para algumas atividades econômicas e cita o evento no Parque São Lourenço.

Leia a nota da Abrabar na íntregra

“Protesto de Marketing do Beto deu certo, abriu a discussão da seletividade de quem pode trabalhar na Cidade em tempos de Lockdown.

Principalmente demonstrou a toda sociedade a humilhação que nosso setor está atravessando neste período de pandemia.

Escancarou a subserviência ao Transporte Público, através do pedido de liminar para não impedir suas restrições, sem falar o privilégio de algumas atividades econômicas.

O essencial foi abrir o Debate ao Direito de Resistência do Cidadão.

E passo foi identificar principalmente através dos bordões na boca da sociedade pelos maus exemplos da Prefeitura, recentemente com sua festa no Parque São Lourenço.

O primeiro deles: Faça o que digo, mas não faça o que eu faço. E outro famoso Bordão em Curitiba “Dois pesos e duas Medidas”.

Abrasel

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também se posicionou sobre a postagem, escrevendo que “A Abrasel não pode conclamar à desobediência, mas pode e deve apoiar decisões individuais livres que busquem resistir ao arbítrio, à injustiça. Há Brasil, abrasel. União que transforma”.