Desde que foi semientregue há cerca de dois meses, o “calçadão” elevado da Avenida República Argentina, próximo da esquina com a Avenida Silva Jardim, no Batel, tem dado o que falar entre os comerciantes e moradores daquela região de Curitiba. São muitas as reclamações a respeito de obras mal feitas, falta de estacionamento para carga e descarga, furtos e quebradeira de grades de escoamento de água, infrações de trânsito e risco de atropelamentos por falta de sinalização.

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Por outro lado, a prefeitura celebra a entrega da obra, que tem previsão total de conclusão ainda no primeiro semestre de 2022.

Na segunda-feira (21), o prefeito Rafael Greca (DEM) postou fotos do local em suas redes sociais. O texto que acompanhou a foto – que mostra a República Argentina do alto – explica que “está ficando pronto o desalinhamento entre a Praça do Japão, o Portão, o Capão Raso e o Pinheirinho […]. No Outono devem acabar as obras. O tempo de viagem entre Santa Cândida e o Pinheirinho, após a conclusão de toda a intervenção, deverá ser reduzido em 16 minutos. Mais pudermos, mais faremos”, escreveu o prefeito.

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Os comentários da população na postagem começaram de bate-pronto. Teve quem aplaudiu a beleza do “calçadão” elevado, mas também surgiram pedidos para que Greca fosse pessoalmente ao local. “Sugiro visitar pessoalmente a obra e ver o lixo de obra que entregaram”, disse um internauta. “A obra nem foi inaugurada e já está cheia de buracos, coisas mal acabadas, calçada afundando! Tudo mal feito!”, emendou outro.

A Tribuna esteve na República na tarde de terça-feira (22). De cara, um morador de um prédio que fica de frente para a faixa de pedestres do “calçadão” saiu da sua garagem contando que sofreu um ano com as obras. “Uma bagunça. Trabalhadores sem respeito, mal sinalizado, uma buraqueira, motoristas faziam o que queriam. Agora, depois de pronto, piorou. Ninguém sabe o que é rua ou calçada e todo mundo faz conversão proibida aqui na frente. Um perigo”, disse, referindo-se às manobras proibidas de motoristas sobre a faixa de pedestres da canaleta do ônibus.

Mais reclamações vieram do comércio. A empresária Elaine Fellini, 47 anos, dona de uma loja de roupas no sentido Pinheirinho da via, disse que perdeu metade das vendas ao longo de um ano. “Fora as obras que já acabaram, o calçadão elevado atrapalha o movimento porque não tem lugar para estacionar, além de ser perigoso esse vai e vem entre carros e pedestres”, reclamou. 

Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná.

Ainda conforme a empresária, o serviço de carga e descarga de mercadorias ficou complicado. “Antes, quando assumi o ponto há quase dois anos, eu mesma conseguia fazer o traslado de uma loja para a outra porque podia estacionar meu carro aqui em frente. Como não tem mais estacionamento, tenho que contratar esse serviço de carga e descarga à parte porque não consigo ficar descarregando mercadoria de longe. É mais um custo”, aponta ela, que atua há 12 anos no ramo.

A mesma reclamação vem do empresário Derick Costa, 33 anos, com uma loja de bicicletas e equipamentos esportivos no sentido Centro. “Dia desses, descarregamos 90 bikes e o caminhão teve que estacionar há algumas quadras daqui. A logística complicou”, afirma. Mas o que Costa diz mesmo não entender é o motivo de um projeto como o do calçadão. “Até a intenção de convívio entre carros e pedestres é compreensível, mas a cultura no Brasil, a meu ver, torna o projeto perigoso para acidentes. Nem os ônibus param na faixa para os pedestres, imagina os carros”, destaca.

Costa também questionou a aplicação do dinheiro público em algo que, segundo ele, não é funcional. “Fora o custo para manter essa calçada. Nem terminaram direito e já tem piso afundando, furto de grades, grades quebradas, água que não escoa na chuva. É um gasto desnecessário do dinheiro público. Poderiam ter feito aquela via de concreto, melhorado a calçada da canaleta e pronto”, lamenta.

A reportagem contou cinco vagas de estacionamento sem EstaR no sentido Centro e três vagas sem EstaR no sentido Pinheirinho. O afundamento de piso e trechos da canaleta de escoamento de água sem grades também foram notados na visita ao local. Motoristas também só paravam os carros em prol dos pedestres no início da elevação, ou seja, quando começa a rampa. Sinalização vertical fixa não foi constatada, mas havia placas móveis para orientar os motoristas e sinalizar o “calçadão” elevado. Conversões proibidas não ocorreram. Havia agentes da Superintendência de Trânsito (Setran) por ali, no momento da reportagem, entre 14h30 e 15h30.

E aí, prefeitura?

Após a visita da Tribuna ao local na terça-feira, sobre as reclamações da obra a prefeitura disse que ela está em andamento. Segundo a Secretaria de Obras Públicas (SMOP), a estação-tubo Silva Jardim teve concluída as intervenções de desalinhamento e remodelação para possibilitar a ultrapassagem dos ônibus e a parada já está em funcionamento. Os serviços concluídos são a pavimentação das pistas lentas e da canaleta exclusiva dos ônibus, implantação de novo calçamento, novo sistema de iluminação e paisagismo.

De acordo com a SMOP, ainda “será implantada nova sinalização e parte das grades que já haviam sido instaladas estão sendo trocadas”. Pontos localizados de afundamento no revestimento serão corrigidos.

Sobre as reclamações de falta de vagas de estacionamento e para carga e descarga, a SMOP informou que “em toda a República Argentina as vagas de estacionamento terão EstarR”. E que “dentro das vagas remanescentes de estacionamento, o critério será para atendimento local incluindo vaga para carga e descarga da quadra de atendimento coletivo e não específico para determinado imóvel, assim como acontece em todas as vias públicas da cidade”.

Sobre sinalização para pedestres, a SMOP explica que nas áreas elevadas “o conceito é de compartilhamento já que o pavimento é de calçamento. As regras de trânsito valem para todos e os veículos que precisam respeitar e cuidar dos menores sejam eles ciclistas ou pedestres. As placas de sinalização vertical e a sinalização horizontal serão implantadas já nos próximos dias nos locais onde as obras já foram finalizadas”.

Sobre a prática da conversão proibida. A prefeitura explicou que as aberturas são necessárias para as travessias de pedestres. E que “o desrespeito já é passível de autuação e onde são necessárias complementações de sinalização elas serão realizadas nos próximos dias”.

De onde vem o “calçadão” elevado?

Segundo explica a prefeitura, “o respeito e a negociação do espaço durante o uso de um modal ou outro é a premissa do compartilhamento de vias. A segregação é mínima e o ambiente estimula e valoriza a troca e a gentileza entre os cidadãos, estejam eles motorizados ou não”.

O conceito aplicado no projeto, de acordo com a SMOP, atende à Certificação Greenroads®, um dos requisitos de sustentabilidade previstos no contrato de financiamento do New Development Bank (NDB), do qual o eixo Sul é contrapartida do município às futuras obras do Eixo Leste-Oeste.

Ainda conforme a prefeitura, recomendada pelo NDB, a certificação é emitida pela GreenroadsInternational, corporação independente sem fins lucrativos que promove a educação e iniciativas de sustentabilidade para infraestrutura de transporte.

Em nota, a prefeitura explicou que “o formato resgata o espaço urbano acalmado e pertencente as pessoas, e não aos veículos motorizados. As vias compartilhadas remetem às cidades medievais europeias, onde até hoje ainda restam fragmentos dos espaços comuns com áreas de lazer, gastronomia, convívio social, comércio e serviços, com circulação de veículos leves e em baixa velocidade”, diz o texto.

Em janeiro deste ano, a prefeitura publicou que o projeto resgata um conceito de já aplicado em Curitiba: “priorizar o pedestre na ocupação do espaço urbano”. Ao todo, serão três “calçadões” elevados. Este no entorno da estação-tubo da Silva Jardim, o da Igreja do Portão e o de uma futura estação que será a Itajubá.

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