Na madrugada deste sábado (23), na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), uma mulher foi agredida durante procedimentos da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu). O caso aconteceu durante uma abordagem da Polícia Militar, na rua Raul Pompéia, para fiscalização e combate de aglomerações e foi filmado por pessoas presentes no local.
A confusão começou após o fechamento de uma hamburgueria da região, por conta do descumprimento de normas sanitárias estabelecidas para o controle da pandemia da covid-19 em Curitiba. Os policiais abordaram um rapaz por desacato. Ele seria entregador do estabelecimento, segundo a PM. Em um vídeo, feito pela dona da lanchonete, imagens mostram o homem sendo arrastado e jogado no chão durante a abordagem. Nesse momento, a mulher reclama com os PMs e parece ser agredida.
Veja o vídeo enviado à rerportagem pelo advogado da mulher
“Vocês passaram dos limites! Ridículos”, exclama Estephany Rodrigues, enquanto grava a cena. Porém, ao se aproximar dos policiais, a mulher tem o celular derrubado no chão. Durante a discussão, Estephany também é derrubada e começam as agressões.
Imobilizada, o vídeo mostra a mulher recebendo golpes no rosto e o joelho do policial sobre o rosto dela. Com gritos e choro, Stephany sinalizou a violência: “Ele tá quebrando minha mão”. Em outro vídeo, publicado nas redes sociais, Estephany aparece no hospital, com sangramentos no rosto.
Segundo o capitão da Polícia Militar e coordenador da Aifu, Ronaldo Carlos Goulart, que aparece nas gravações, a força utilizada foi a necessária. “A questão é a maneira que ela estava se comportando. Uma pessoa totalmente desequilibrada, transtornada, reagindo, ela precisa que a força seja feita para conter, e a força é feita a medida do necessário”, disse ao jornal Meio Dia Paraná, da RPC.
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Ainda segundo o capitão, quem define o quanto de força vai ser exercido para a contenção é a pessoa que está reagindo, independente se é homem ou mulher. “A partir do momento que reage à prisão, que desacata, desrespeita, se debate, que fica em uma posição totalmente transtornada, vai precisar do uso da força. E, no caso, verifica-se que foi a força necessária para conter a ação”, completou.
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A defesa de Estephany, em nota, julgou a ação excessiva. O advogado Igor José Ogar, que defende a vítima, disse que a ação de alguns policiais militares, principalmente a do PM que utilizou um objeto para bater no rosto da moça, “foi uma ação covarde e totalmente desproporcional”.
Em nota, a defesa defendeu que os PMs que participaram da ação sejam “retirados das ruas e das funções imediatamente”. E que buscará a reprimenda de todos os maus policiais, “minoria que envergonha de asa classe de heróis”, diz o texto.
E aí, PM?
Procurada, a Polícia Militar emitiu nota informando que a ação policial se deu na Rua Raul Pompeia (que é conhecido pelas grandes aglomerações, consumo de drogas e perturbação), devido às inúmeras denúncias e chamados por perturbação do sossego e da tranquilidade feitos por moradores daquela rua há algum tempo. “Muitas destas reclamações, inclusive, foram veiculadas pela imprensa nas últimas semanas. A Operação de sexta-feira (22) para sábado resultou em 14 encaminhamentos, veículos irregulares recolhidos, dispersão de dezenas de pessoas, multas a estabelecimentos e veículos irregulares e, principalmente, mais tranquilidade à população de bem que reside naquele região”, diz o texto da PM.
Ainda segundo a nota, a PM vai apurar as circunstâncias do fato “isolado” citado na reportagem. “No entanto vale ressaltar que, conforme consta em boletim de ocorrência, o policial militar foi agredido e, por isso, precisou usar de força gradativa para conter a mulher, que, inclusive, tentou impedir o encaminhamento de outra pessoa durante a ação policial”, diz a PM.
De acordo com a PM, as ações de fiscalização devem continuar. E a polícia pede “a quem sentiu-se ofendido pela ação policial para que procure a Corregedoria da Polícia Militar, canal oficial para registro de informações envolvendo policias militares, para formalizar o relato e levar o que tenha de informações para a apuração do fato. Caso a pessoa prefira, pode se dirigir a qualquer quartel da Polícia Militar para isso”, finaliza a nota.
Leia a nota da defesa da mulher na íntegra
“O advogado Igor José Ogar, que defende a vítima Estephany, proprietária da hamburgueria que foi objeto de fiscalização de rotina, vem a público esclarecer que a ação de alguns Policiais Militares, principalmente a do PM que utilizou um objeto para bater no rosto da moça, foi uma ação covarde e totalmente desproporcional.
A própria PM repudia a ação desses maus policiais, minoria na respeitosa corporação, tanto que não são todos os PMs que aparecem no vídeo, que colaboram com a agressão desta vítima. Esses PMs não têm o menor preparo psicológico nem profissional, devem ser retirados das ruas e das funções imediatamente.
O que mais choca a sociedade, é um capitão que deveria comandar a operação, reprimir tal barbárie por parte de agentes públicos tem o despautério e a desfaçatez de afirmar que a boina é leve e não deixa lesão (aproveitando a conduta agressiva).
Faço a seguinte indagação, bater com um chinelo de dedo na cara dele, ou algo assim é permitido? O chinelo é tão leve quanto uma boina ou uma cinta. A vítima tem 1 metro e 59 de altura, saiu inteiramente lesionada. Se esses policiais fizeram isso com uma empresária, que paga seus impostos, tendo toda a ação filmada, imagina o que não fariam com pessoas de menor poder aquisitivo que são abordadas em locais ermos, sem nenhum celular ou testemunhas para filmar?
Buscaremos a reprimenda de todos os maus policiais, minoria que envergonha de asa classe de heróis”.