O setor de lavanderias, em Curitiba, foi um dos que mais sofreu no início da pandemia de coronavírus com o sumiço de clientes, mesmo sendo considerado serviço essencial. O faturamento foi quase a zero em alguns casos. Agora, a recuperação vem sendo sentida aos poucos nos últimos meses. E o curioso é que um dos motivos dessa recuperação é justamente a falta d’água provocada pela forte estiagem que vive o Paraná.
Além dos antigos clientes que começaram a retornar, a pior crise hídrica da história de Curitiba e região trouxe novos clientes às lavanderias, de gente que têm preferido pagar pelo serviço para economizar água em casa por causa do rodízio no abastecimento implantado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Embora o rodízio force os donos de lavanderias a ter de aumentar os prazos de entrega das roupas limpas em um ou dois dias a mais, já que também são atingidos pelo corte no abastecimento, no fim das contas o novo comportamento dos clientes traz um alento para o caixa.
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Segundo Eliana Andrade Katsuki, 51 anos, dona da lavanderia Centerlav, em Curitiba e há 20 anos no mercado, o início da pandemia foi difícil. Ela pensou em fechar uma das três lojas que possui e ainda teve que reduzir o quadro de funcionários pela metade. Dos 14 que trabalhavam com ela, apenas 7 continuam. “Fomos a quase zero no faturamento”, conta.
A situação foi mudando nos últimos meses. Agora, o faturamento melhorou e já atinge cerca de 50% do que era no pré-pandemia. “Dá para atribuir uma parte desse retorno à mudança de necessidade do cliente de economizar água. Alguns que estavam sem sair de casa voltaram e outros vieram. Nada de roupa social ou de escritório, mas roupas do dia a dia, que usam para trabalhar, em casa, e roupas de cama. Com falta d’água em casa, alguns preferem trazer para nós”, explica Eliana.
A empresária destaca que não é só isso que traz o alívio nas contas. “Também intensificamos o serviço de delivery, como forma de se adaptar ao novo cenário de pandemia. Tem muita gente que ainda não quer sair de casa. Vamos coletar e levar as roupas prontas para eles”, diz.
A lavanderia também se adapta aos prazos de entrega. De acordo com a empresária, é preciso ficar de olho na tabela da Sanepar. “No nosso caso, vamos equilibrando a prestação de serviço com uma logística que inclui levar roupa de uma loja para outra, de acordo com o rodízio. Por exemplo, falta água no Centro, levamos para a loja no outro bairro”, conta. Com isso, a lavanderia consegue manter a maioria dos prazos de entregas dentro das 48 horas que sempre foram normais. “Em alguns casos, negociamos com o cliente para um ou dois dias a mais”, explica Eliana.
Por outro lado, apesar de sentir a retomada, Eliana notou uma queda nos pedidos de lavagem de itens de inverno. “Essa época do ano passou com pedidos reduzidos. Normalmente, a procura é grande porque as pessoas tiram as blusas e os cobertores do armário e se preparam para o frio. A gente sofre esse impacto porque no verão as pessoas viajam e o movimento cai. Normalmente, é o inverno que compensa a chegada do calor”, aponta.
O médico Hudson Martins de Oliveira Júnior, 64 anos, foi um dos que mudou o modo de lavar roupas na pandemia e na estiagem. Ele é cliente de uma lavanderia no bairro Rebouças e costumava mandar lavar somente roupas de trabalho. No início da pandemia, ele seguiu assim. Agora, por causa do rodízio da Sanepar, as roupas do dia a dia dele e da esposa, além da roupa de cama, agora são lavadas na lavanderia.
“Fica mais prático e economizamos água da nossa caixa. Até o meu filho, que é casado e já não mora mais conosco, também passou a lavar roupa em lavanderia por causa do rodízio da Sanepar. No meu caso, levo na Lavanderia Universo e não tenho tido problema com prazo de entrega”, ressalta Oliveira. A lavanderia citada pelo médico trabalha com o sistema de poço artesiano.
Outras lavanderias
No bairro Bigorrilho, lavaderia 5aSec menciona as mesmas dificuldades financeiras com o início da pandemia. Também houve planejamento para intensificar o delivery e queda dos mesmos 50% no faturamento, além de ter sido forçada a dar férias a parte dos funcionários.
No caso dessa lavanderia, ainda houve mais necessidade de negociação de prazo de entrega por causa do rodízio no abastecimento, já que é uma loja só. Das 48 horas usuais, tem sido preciso negociar para quatro dias em casos mais específicos e de grande volume. No entanto, com o surgimento de clientes que querem economizar água em casa, a administração da 5aSec explica que já se planejou para instalar uma caixa d’água extra e tem feito promoções para lavar roupas de cama.
A estratégia vem sendo aplicada justamente porque a lavanderia também confirmou que os clientes estão lavando mais roupas do dia a dia e roupas de cama. Lá, o tipo social também caiu bastante com a pandemia.
Na Lavanderia Água Verde, a mesma coisa. Clientes novos vieram por causa do rodízio de água e as roupas sociais e de festa praticamente desaparecem dos cabides. Porém, na Lavanderia Água Verde os pedidos de inverno ocorreram normalmente. A administração também disse que cresceu a demanda por tapetes, cortinas e edredons.
No geral, segundo as administrações das lavanderias com as quais a Tribuna conversou, o atendimento ao cliente tem sido realizado sem tanto impacto, mesmo com o rodízio severo no abastecimento de água.