A violência praticada por homens contra mulheres não dá trégua. O caso do médico Raphael Suss Marques, acusado de matar a ex-namorada e fisiculturista Renata Mugiatti é apenas uma gota no oceano. Levantamento feito no ano passado pela médica legista e presidente da Ong Mais Marias, Maria Letícia Fagundes aponta que mais de 900 mulheres abusadas sexualmente passaram pelo Instituto Médico Legal (IML), ou seja, a cada dia mais de duas mulheres procuraram o local em 2015. De acordo com ela, a mesma média deve ser mantida neste ano.
É o caso, por exemplo, de S.G., 45 anos, que foi agredida e estuprada pelo namorado, W.L.F. na noite de Natal. “E como se não bastasse, ele ainda me infectou com o vírus HIV”, relatou. Ela conheceu o namorado numa rede social há cerca de um ano. “No começo era tudo amor, mas com o passar do tempo ele foi ficando agressivo”, conta. S.G.
Pequena e frágil, S.G. apanhou do namorado, que é lutador de MMA e pratica boxe. “Fiquei sabendo que ele tem mais de dez boletins de ocorrência de outras namoradas”, revelou. “É melhor as meninas ficarem atentas para não caírem na mesma fria que eu”, observou. Assim como ela, mais dez mulheres fizeram fila na Delegacia da Mulher ontem a tarde para registrar queixa contra os companheiros agressores.
A filha de M. G. S. L. era uma delas. “Perdi as contas de quantas vezes ela foi agredida. Mas nesta última ele extrapolou”, disse. “Quando eu estava grávida ele quase me matou”, conta a filha, uma professora de 24 anos. “Arrastou-me pelos cabelos e me deixou bastante machucada. A gente sempre acredita que o parceiro vai melhorar”, observa. O marido é evangélico e o casal tem dois filhos pequenos.
“Presente de Natal”
Ong atua onde o Estado falha
A Ong Mais Marias foi idealizada pela médica legista e funcionária do Instituto Médico Legal (IML), Maria Letícia Fagundes há cerca de quatro anos. Maria Letícia conta que a Ong nasceu da necessidade de dar suporte às mulheres em situação de risco. “Observei que o sistema público deixava muito a desejar. As mulheres iam fazer queixas e não tinham orientação adequada”, conta. Foi dá que surgiu a necessidade de fundar um local de apoio para elas.
“A Mais Marias entra onde o Estado falha”, afirma a médica. De acordo com ela, foi preciso o olhar de médica e de cidadã para levar o projeto adiante. “No geral a violência não é só contra a mulher. Ela atinge a família e principalmente, os filhos”, lembra. Ela também lembra que é preciso ficar atenta e denunciar os companheiros. “Antigamente se achava normal homem bater em mulher. Mas as coisas mudaram, graças a Deus. Apesar das mulheres estarem mais bem informadas, muitas delas não denunciam, pois é preciso produzir provas. Elas têm medo”, diz.
A Ong atua fazendo palestras e dando orientações sobre como proceder em caso de violência doméstica. “Damos capacitação e oferecemos uma equipe multidisciplinar para quem nos procura”
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Prefeitura cria rede de proteção
Além da Delegacia da Mulher e a Ong Mais Marias, são várias as entidades que prestam atendimento às mulheres vítimas de violência, boa parte delas pela Prefeitura de Curitiba. Em seis meses de funcionamento, por exemplo, a Casa da Mulher Brasileira já acumulou mais de 5,5 mil encaminhamentos, com atendimento de mais de 3,5 mil mulheres vítimas de violência. O fluxo corresponde a uma média de 20 pessoas recebidas por dia, desde a abertura da casa, em junho deste ano.
Outra entidade criada no atual governo foi a Patrulha Maria da Penha. Desde a implantação, em 2014, até o mês de novembro deste ano, foram realizadas 7.712 visitas domiciliares pelas equipes acionadas pela central 153, por mulheres já monitoradas e que se encontravam em situação de risco para nova violência pelo agressor. A Patrulha Maria da Penha é uma ação integrada da Secretaria Municipal da Mulher e da Guarda Municipal, em parceria com o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), e atende às vítimas de violência doméstica que possuem medidas protetivas expedidas pelo Judiciário.
Ao avaliar a atuação da Patrulha, a secretária Municipal da Mulher, Roseli Isidoro, destacou o olhar humanizado e o respeito que faz parte do atendimento às mulheres. “Lembramos que a Casa da Mulher Brasileira e a Patrulha Maria da Penha são resultado de muitas ações e, portanto, temos a responsabilidade e o dever de fazer a defesa da continuidade destas ações e programas”, ressaltou.
Outra ação da secretaria foi a criação da Rede de Atenção às Mulheres em Situação de Violência. A atuação em rede permite que estratégias de enfrentamento sejam divulgadas de forma abrangente. Curitiba deixou o 4º lugar do ranking de capitais com maior índice de assassinados de mulheres em 2012. Em 2015, a cidade ficou com a 18ª colocação, de acordo com o Ipea.
Como detectar
Para a médica legista e presidente da Ong Mais Marias, Maria Letícia Fagundes, pode ser considerado violência contra as mulheres agressões físicas e psicológicas, Geralmente, quem está dentro de uma relação não sabe detectar direito os sinais, principalmente quando o relacionamento envolve filhos e família, Ela lembra que muitas mulheres acabam perdoando o companheiro e só depois de muita agressão é que buscam ajuda. Calcula-se que pelo menos 13 mulheres morrem por dia no Brasil, vitimas da violência doméstica, segundo Mapa da Violência Contra a Mulher de 2015. Os principais sinais são os seguintes:
1) A mulher demonstra tristeza ou depressão
2) Fica mais fechada e passa a falar menos
3) Repentinamente deixa de ter vida social
4) Evita visitas e também a companhia de amigos e parentes
5) Sua aparência torna-se mais desleixada, deixa de se arrumar ou de se maquiar; ou ao contrário: passa a se maquiar para esconder os hematomas
6) As ausências no trabalho tornam-se mais freqüentes
7) Está sempre machucada e arrumando uma desculpa para os sinais de violência
Se você ou alguém que conhece apresentar alguns desses sintomas, é só buscar ajuda e informação nos endereços abaixo.
Onde buscar ajuda
DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO À MULHER – (41) 3219-8600 – Rua Padre Antônio, 33 (Próximo ao Colégio Estadual do Paraná).
JUIZADO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – (41) 3210-7034 – Avenida João Gualberto, 1073 – Alto da Glória
DEFENSORIA PÚBLICA DO PARANÁ – (41) 3219-7338 – Rua Cruz Machado, 58 – Centro
NÚCLEO DE APOIO ÀS VÍTIMAS DE ESTUPRO (Ministério Público) – 3250-4022 – Rua Tibagi, 779 – 8° andar – Centro
NÚCLEO DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO (Ministério Público) – 3250-4897 – Rua Marechal Deodoro, 1028 – 9° andar – Centro
CENTRO DE REFERÊNCIA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA – (41) 3338-1832 – Rua do Rosário, 144 – 8° andar – Centro
INSTITUTO MÉDICO LEGAL – IML – (41) 3321-8100 – Av. Visconde de Guarapuava, 2652 – Centro
HOSPITAL DO TRABALHADOR – (41) 3212-5700 – Av. República Argentina, 4406 – Novo Mundo
HOSPITAL DE CLÍNICAS – (41) 3360-1800 – Rua General Carneiro, 181 (pronto atendimento da maternidade – vítimas acima de 12 anos)
HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE – (41) 3310-1010 – Rua Desembargador Motta, 1070 (vítimas de até 12 anos)
HOSPITAL EVANGÉLICO – (41) 3240-5000– Alameda Augusto Stellfeld, 1908 – 7° andar (vítimas acima de 12 anos)
CREAS – CENTROS DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
REGIONAL BAIRRO NOVO – (41) 3298-6361 – Rua Tijucas do Sul, 1700 – Sítio Cercado
REGIONAL BOA VISTA – (41) 3257-1701 – Avenida Monteiro Tourinho, 763 – Tingui
REGIONAL BOQUEIRÃO – (41) 3376-0281 / 3278-0047 – Rua Frederico Maurer, 3782 – Boqueirão
REGIONAL CAJURU – (41) 3366-6014 / 3267-8982 – Rua Clávio Molinari, 1523 – Capão Imbuia
REGIONAL CIC – (41) 3327-5723 / 3327-5837 / 3347-1329 – Rua Padre Gaston, 555 – CIC
REGIONAL MATRIZ – (41) 3262-6812 / 3362-1239 – Rua Francisco Torres, 500 – Centro
REGIONAL PINHEIRINHO – (41) 3347-3541 / 3225-8776 – Rua Manoel Linhares de Lacerda, 432 – Capão Raso
REGIONAL PORTÃO – (41) 3350-3981 / 3350-3982 – Rua Carlos Klemtz, 1700 – Sala 40 – Rua da Cidadania Portão – Fazendinha
REGIONAL SANTA FELICIDADE – (41) 3372-1811 / 3374-5932 – Via Vêneto, 2274