Muitos que entram para o sindicalismo não querem sair mais. Vários dirigentes sindicais realizam trabalho voluntário, sem receber nada por isto. Outros recebem gordos jetons (bonificação pelo trabalho sindical) mais diversos benefícios. Depois da ‘bonança‘ financeira, a maioria dos sindicalistas não quer voltar a receber piso salarial, acordar cedo, comer marmita requentada e pegar ônibus lotado. Sem contar a perseguição que muitas empresas promovem contra funcionários sindicalistas, que ficam ameaçados de demissão e de não encontrar emprego em outras empresas do ramo.

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É por este e outros motivos que alguns sindicalistas fazem de tudo para ficar nas entidades. Segundo manifestação do Ministério Público do Paraná (MP-PR), feita em 2015 e assinada pela promotora de justiça Mônica Baggio, denúncias pesadas foram feitas contra a atual diretoria do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc).

Foto: Aniele Nascimento.

Inquérito

Nos relatos, mostrou a promotora Mônica Baggio, o presidente da entidade, Anderson Teixeira, e outros diretores, são suspeitos de crime de apropriação indébita, por supostamente terem embolsado dinheiro sindical. A denúncia gerou a abertura de inquérito policial, que corre pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce).

Os denunciantes dizem que Anderson não pertence à classe de motorista de ônibus (a legislação exige que o sindicalista atue na categoria que pretende representar), pois teria fraudado um registro em carteira apenas para conseguir se eleger presidente sindical. A informação é ratificada pela procuradora do trabalho Margaret Matos de Carvalho, que conduz outra investigação sobre isto no Ministério Público do Trabalho (MPT) e diz já ter documentos suficientes para comprovar a fraude documental.

Grana fácil

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Os denunciantes que procuraram o MP-PR dizem que vários bens (imóveis e veículos) do Sindimoc foram vendidos e nunca houve prestação de contas do dinheiro. Também falam que a atual gestão começou endividada, por causa de supostos desvios de dinheiro de diretorias anteriores (investigados pelo Gaeco).

Mas alegam que a arrecadação do Sindimoc é muito grande e seria suficiente para cobrir o rombo e continuar prestando bons serviços aos trabalhadores. No entanto, o que se viu, segundo os denunciantes, é a ascensão do padrão de vida dos atuais diretores e um rombo em torno de R$ 2,8 milhões (mas que pode ser maior e chegar a R$ 6 milhões).

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Anderson teria comprado uma casa em Mandirituba, na Estrada das Onças. Os denunciantes apenas divergem quanto ao valor. Um diz que o imóvel custou R$ 230 mil, dos quais R$ 190 mil em dinheiro. Outro diz que custou apenas R$ 190 mil. O sindicalista teria comprado também vários carros e outros imóveis, em nome de familiares ou laranjas. O tesoureiro, Rogério Campos, também teria comprado um sobrado em Fazenda Rio Grande por R$ 400 mil e teria sido beneficiado em sua eleição a vereador, em mais de R$ 30 mil.

Outro denunciante relata que Anderson promoveu alterações no estatuto da entidade, para que pudesse concorrer nas eleições para deputado estadual, sem ter conflitos com a legislação. A procuradora do trabalho Margaret Carvalho já recebeu denúncias de assembleias que foram feitas sem o amplo conhecimento da categoria. Uma delas, por exemplo, foi realizada num 31 de dezembro, com ‘meia dúzia de gatos pingados‘, para uma mudança estatutária importante.

“Falsas denúncias”, rebate Sindimoc

O Sindimoc rebate as denúncias que estão sendo investigadas pelo Nurce.

Confira, na íntegra, a nota enviada à Tribuna:

“As denúncias contidas no Inquérito 55322-2015 são falsas e têm cunho político. Foram feitas por pessoas derrotadas nas eleições sindicais de 2010 e 2014 e ligadas à antiga diretoria do Sindimoc, de 2010, a qual é alvo de ação penal impetrada pelo Ministério Público e acolhida pela 9ª Vara Criminal de Curitiba. Segundo investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) que embasa esta ação, entre 2006 e 2010 houve desvio de R$ 8 milhões dos cofres da entidade (Ação Penal 2011.0001201-0).

Lamentável que pessoas processadas judicialmente na esfera criminal por formação de quadrilha, peculato e falso testemunho ocupem, agora, o aparelho do estado com falsas denúncias, por mero interesse político.

O Sindimoc já prestou todas as informações solicitadas pelo Núcleo de Repreensão a Crimes Econômicos (Nurce), tais como as prestações de contas, balanços e balancetes contábeis de 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, e seus diretores ingressarão com ação judicial individualmente contra todos os responsáveis por injúria, calúnia, difamação e denunciação caluniosa.

Ressaltamos que os autores das falsas denúncias não apresentaram uma prova sequer que embasasse suas acusações. Destacamos ainda o pleno conhecimento dos motoristas e cobradores sobre a falsidade do teor das denúncias de tal Inquérito, o que se evidencia por dois fatos emblemáticos: o alto grau de credibilidade do Sindimoc perante a categoria (que resulta em plena adesão a mobilizações e greves até então inexistentes nesse setor) e a esmagadora vitória eleitoral nos pleitos de 2010 e 2014, quando os denunciantes montaram três chapas e obtiveram 15% dos votos, contra 85% da atual gestão do Sindimoc, em eleições amplamente acompanhadas e fiscalizadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).”