O Dia do Colecionador é celebrado nesta quinta-feira (18) e Curitiba tem um personagem marcante para o colecionismo brasileiro. O João Marcelo Arriola, 48 anos, é antiquário numismata de profissão e sócio-proprietário da Casa do Colecionador. Mais do que uma loja de compra, venda e troca de itens colecionáveis, o lugar é um ponto de encontro, no Alto da XV, para quem curte objetos raros.
A loja tem de tudo, desde as moedas imperiais, cédulas antigas, miniaturas, cartões telefônicos, miniaturas e até uma Rural Willys azul e branco de verdade, que está à venda. Mas é o jeitão do Marcelão que cativa gente do Brasil inteiro.
Bom, só do nome da profissão dele já sai uma história. “Antiquário” é fácil, dá pra entender logo de cara e não precisa explicar muito. Mas e “numismata“? Fácil também! É a pessoa que se dedica à numismática, ou seja, a ciência que estuda medalhas e moedas e cédulas.
“As moedas e as medalhas são o forte do colecionismo, em questão de valor financeiro. Ultrapassa o simples colecionar do objeto e se torna até um tipo de investimento. Uma moeda rara que você compra na loja por R$ 150, só de retirar daqui o valor já passa para cerca de R$ 200, em uma possível revenda”, explica Marcelão.
Foi o que fez, por exemplo, o estudante de Curitiba Derico Fiandanese, 27 anos, que decidiu comprar a sua primeira moeda na Casa do Colecionador. Ele quer levar a sério o colecionismo. “Sempre gostei de História no colégio, então, o que tem história já me atrai. Eu já tinha pensado no colecionismo antes, mas optar por começar de verdade é uma coisa que acontece espontaneamente. Sempre tive minhas notinhas guardadas em casa, dos lugares por onde viajei, e assim que começou”, contou.
Derico adquiriu uma moeda de prata de Dois Mil Réis, do ano de 1889, ano de transição entre Império e República no Brasil. “Achei linda a moeda que o Marcelão me indicou. Loja show de bola. Para chegar até aqui, a gente faz pesquisa nas horas vagas, buscando informações sobre o assunto. A pandemia até ajudou nisso. Muito bacana”, diz o estudante e agora, oficialmente, um colecionista.
E umas das coisas que encantam no colecionismo, e que Marcelão destaca, é exatamente a chance de se aproximar da História. “Na numismática você tem Geografia, Matemática, História, conhecimentos gerais. Eu consigo discutir assuntos de países que ninguém ouviu falar porque eu conheço a numismática, com as cédulas, as moedas. O dinheiro traz muito da evolução da humanidade”, orgulha-se.
Entre as mulheres, o colecionismo também vai crescendo. De acordo com a Adele Prado Fonseca, sócia do Marcelão, o hobby até tem uma maioria de homens, mas “a mulherada” já está se entendendo com o assunto. “Hoje em dia, se tornou o meu negócio. Tem muitas mulheres se interessando. Eu olho, avalio, vendo, organizo. Eu faço isso porque gosto, virou paixão”, diz.
E o jeitão do Marcelão?
“E pensar que um cartão telefônico me trouxe até aqui”, reflete Marcelão. Segundo ele, foi isso mesmo. O jeitão simpático do Marcelo, o tino comercial, a atenção com os amigos, parceiros e clientes que fizeram a Casa do Colecionador crescer são só o resultado de uma paixão que começou quando ele tinha cerca de 20 anos de idade. “Fui um dia no orelhão e achei um cartão telefônico. Legal. Eu me animei com aquilo. Meu sonho, depois, era ter mil cartões como aquele. Hoje, eu tenho 5 milhões de cartões, do mundo inteiro”, conta.
A fase era de transição na vida dele. “Estava procurando emprego. Aí, aquele cartão telefônico começou a virar um negócio. Eu peguei uns repetidos, consegui vender para um vizinho. Opa, esse negócio vende, pensei. Quando vi, estava trabalhando com compra e venda de cartões usados no Correio Velho, ali na Rua João Negrão. Tinham muitas barraquinhas ali, fazendo isso. Uma coisa foi levando a outra e hoje são três lojas”, relembra.
A aproximação com a numismática veio nos congressos, nacionais, eventos que Marcelão participa até hoje. “Faz parte do negócio. É onde todo mundo se encontra. Eu já cheguei a viajar para congressos só com o dinheiro para encher o tanque de gasolina”, conta ele.
O cartão telefônico usado tem valor porque a Telebrás tinha um contrato para emitir cartões com temas culturais. Eles começaram a ser usados no Brasil em 1992. As estampas divulgavam as belezas dos estados brasileiros. “Isso virou uma paixão para colecionador. O cartão brasileiro, com o nosso sistema indutivo, bombou. Tinha lojas de telecartofilia (colecionismo de cartões) dentro das operadoras. As operadoras emitiam cartão exclusivo só para colecionador”, diz Marcelão.
E para chegar até as moedas, lá vem os congressos de novo. “O pessoal da numismática começou a aceitar telecartofilia. O maior congresso de numismática que tinha, na época, era de João Pessoa, na Paraíba. Ele se tornou muito forte em cartões telefônicos. Eu fui para conhecer esse congresso. Levei muito cartão telefônico e lá eu comecei a aprender sobre as moedas”, explica.
De acordo com ele, o que deu o boom no negócio dele foram as Moedas Olímpicas, uma coleção de 16 moedas de R$ 1 lançada pelo Banco Central Brasileiro. “Só que em 2012, foi lançada a Moeda Bandeira Olímpica. Em 2014, ela explodiu. As 16 moedinhas até que não valorizaram tanto, mas a da Bandeira sim. Foi o boom da numismática por causa da publicidade que isso teve. Para mim, foi ótimo”, revela.
Hoje em dia, na pandemia, Marcelão diz que o negócio também melhorou, com mais pessoas se aproximando do colecionismo. Ele, ao longo dos anos, também aplicou os itens da loja, que acabam sendo uma coleção particular dele. Tem câmeras de cinema e televisão, de vez em quando aparece um carro de verdade, como a Rural que está na garagem e uma Mercedes-Benz, e até réplicas originais de capacetes de pilotos famosos. Marcelão também é o editor nacional do catálogo de cartão telefônico. “A gente tem 23 revistas editadas. Eu comprei a história toda do catálogo e dei continuidade”, revela.
Sobre o nome Casa do Colecionador, ele conta que era um nome que ele queria muito dar à loja, mas tinha que ser uma casa de verdade. “Abri a primeira loja em um espaço comercial, mas eu ainda não estava contente. Eu queria uma casa. E a gente saiu em busca de uma casa e, graças a Deus, conseguimos. Tô bem feliz”, finaliza.
Colecionismo em Curitiba
Quem acha que Curitiba está fora do circuito dos colecionistas, se engana. A capital é sede da Sociedade Numismática Paranaense (SNP), que tem cerca de 270 sócios no estado. Fora a turma que gosta de colecionar e não é um afiliado.
“Sim, em 2021, nós completamos 30 anos de fundação. Somos a terceira maior sociedade do país e somos bem ativos. Temos dois encontros nacionais que ocorrem aqui, geralmente em abril e outubro. Este último, em outubro deste ano, foi um sucesso. E o evento direcionado a numismática”, detalha Emerson Pippi, presidente da sociedade.
Segundo Pippi, Curitiba tem alguns pontos tradicionais de colecionismo. Além da Casa do Colecionador, tem a Cia do Colecionador, Numismática Império (a mais antiga), a Moedas Curitiba e o espaço de encontro tradicional na Feirinha do Largo da Ordem. “Domingo, nós temos a feira do Largo, onde tradicionalmente os colecionadores se encontram. Desde 1974, temos expositores de moedas lá. Hoje, deve ter em torno de umas quatro bancas de numismática, por causa da pandemia, mas já chegamos a ter em torno de dez bancas”, destaca o presidente.
Para quem quer começar no colecionismo, o interessante, segundos os colecionadores mais antigos, é que o mercado gira. “O colecionismo é aquilo que traz prazer para você. Engloba tudo que é colecionável. Mas, na numismática, você tem um elemento muito importante que é o investimento. Tudo aquilo que é bem guardado, que é comprado com cuidado, tem um retorno financeiro considerável. Você tem coleções que valorizam muito com os anos. É uma espécie de uma poupança que lhe dá prazer, que é palpável”, finaliza o Pippi.
Serviço
Casa do colecionador: Rua Marechal Deodoro 502 lojas 6-7. Mais informações no site.
Sociedade Numismática Paranaense (SNP): Avenida Luiz Xavier, 68, Centro. Mais informações no site.