O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), deputado Ademar Traiano (PSD), pediu à Comissão de Ética da casa para que seja instaurado um novo procedimento contra o deputado Renato Freitas (PT) por quebra de decoro parlamentar. O pedido foi expresso por Traiano durante a sessão da Alep desta segunda-feira (9), após Freitas chamar de “hipócritas” representantes de igrejas evangélicas que estavam nas galerias da assembleia se manifestando contra o aborto. Assista abaixo!
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Em seu discurso, Freitas alegou que o cristianismo havia sido sequestrado pelo que chamou de “populismo religioso”. “Esse é um problema que não é de hoje. Quem julgou Jesus? Quem confundiu a cabeça do povo para julgá-lo, crucificá-lo, torturá-lo, matá-lo? Os religiosos, os hipócritas. Falsos profetas, maus pastores. Jesus pregou o perdão, e hoje o que se vê nas igrejas é a substituição do perdão pelo ódio, pela vingança”, disse o deputado.
Freitas seguiu, se dirigindo diretamente às pessoas que estavam nas galerias. “Todos têm direito ao arrependimento, inclusive vocês. Todas, sem exceção, dos mais hipócritas aos menos hipócritas. Dos mais pecadores aos menos pecadores. Os que fazem do templo uma casa de comércio e vendem lâmpadas abençoadas, águas da fonte do Rio Jordão, pedras do Muro das Lamentações e toda sorte de cafajestice, de picaretagem, até esses podem se arrepender”, completou.
Discussão começou após reclamação por tempo de fala
Ao ser interrompido por vaias das galerias, Freitas pediu para que seu tempo de discurso fosse restabelecido. Traiano reforçou aos presentes o caráter de pluralidade da Alep e pediu respeito ao tempo de fala do petista. Após os ânimos se acalmarem, o presidente devolveu a fala a Freitas, que reclamou por mais tempo. Irritado com a cobrança, Traiano disse que o tempo restante estava correto, e alertou o petista que ou falasse ou deixasse o microfone.
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Ao retornar a seu discurso, Freitas voltou a chamar os presentes de hipócritas e protestou contra a atitude de Traiano. “Enquanto eu falo, o senhor ouve. Eu me inscrevi para estar me pronunciando. Se o senhor quer se pronunciar sobre o mérito da minha questão, faça a inscrição e fale. Portanto ouça, o senhor e os hipócritas religiosos que lotam essa casa, que foram os mesmos que crucificaram Cristo”, disse.
O petista foi interrompido novamente por Traiano, que disse não haver nenhum hipócrita na Alep. “Vossa excelência limite a sua fala. Aqui não tem hipócrita. Determino que corte a palavra do deputado”, alertou o presidente da Alep, que seguiu a sessão lendo os itens da pauta do dia do Legislativo Estadual.
O deputado Requião Filho (PT) tomou a palavra, afirmando que a atitude do presidente era inédita na Alep. “Os senhores podem divergir, mas cortar a palavra de um parlamentar nesta casa é a primeira vez”, questionou. Traiano respondeu, dizendo que tinha autoridade para tomar tal medida.
“O senhor não é rei”
Freitas, então, continuou se manifestando contra Traiano na tribuna, mas seu microfone foi desligado. O petista desceu ao plenário, e ao encontrar um microfone ligado disse ao presidente da Alep: “o senhor não é rei, me respeite”. Em resposta, Traiano fez o pedido de abertura de um novo procedimento por quebra de decoro contra Freitas e pediu à assessoria do PT que o retirasse do plenário “sob pena de nós encerrarmos a sessão”.
Antes de ser contido por outros deputados, Freitas chamou Traiano de “corrupto”. O presidente da Alep respondeu, dizendo que a fala era “essencial para as providências necessárias de quebra de decoro parlamentar”.
Processos contra Freitas foram arquivados na Alep
Em agosto deste ano, Freitas enfrentou um procedimento aberto pela Comissão de Ética da Alep por quebra de decoro. O petista trocou ofensas no plenário com o deputado Ricardo Arruda (PL), mas no entendimento do deputado Tercílio Turini (PSD), relator da comissão, o caso foi grave o suficiente para configurar quebra de decoro – o procedimento foi arquivado.
Esse caso foi o segundo de uma série de cinco a serem analisados pela Corregedoria da Alep e envolvendo ambos os deputados estaduais. A decisão pelo arquivamento tomada pelo Conselho de Ética, nesta terça-feira, se junta ao arquivamento do primeiro caso, determinado pelo corregedor da Alep, Artagão Junior (PSD), em 17 de maio. Os outros três ainda tramitam na Corregedoria da casa.