Depois da alta no preço do feijão, o novo “vilão” da alimentação é o leite: o litro do produto anda beirando os R$ 4 nos supermercados da Grande Curitiba. Uma alta de cerca de 100%, em relação ao começo do ano, quando se encontrava a caixa de 1 litro de leite longa vida por cerca de R$ 2. E se gear ou chover muito nas próximas semanas, o preço pode subir mais. Por isso, tem muita gente reduzindo ou deixando de consumir a bebida, ou ainda buscando outras alternativas.
A contato de pós-venda Susan Passos, 29 anos, tem um alto consumo de leite em casa. Além dos dois filhos, sua mãe também toma bastante, junto com o café, para repor o cálcio do organismo. Susan também consumia muito, mas pelo preço do produto, substituiu pelo chá. “Estou deixando o leite mais para os meus filhos e minha mãe”, disse ela, que deixa a preferência por marcas de lado e busca o mais barato.
A pensionista Vera Silva, 62 anos, que vive com R$ 880 por mês, não está mais tomando leite. ‘Antes eu comprava duas caixas por semana. Mas com o preço que está, faz três semanas que não compro‘, lamentou. Já o ascensorista Daniel Gonçalves, 38 anos, não teve escapatória. Como tem um bebê de quase dois anos em casa, que consome muito leite, não conseguiu diminuir o consumo. Então, procura ofertas e leva bastante quando acha.
Por que subiu?
Segundo o médico veterinário Fábio Mezzadri, técnico da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), o excesso de chuvas e a geada antes do tempo prejudicaram muito as pastagens (aveia e azevem) que alimentavam as vacas. Sem se alimentar direito, as vacas produziram menos leite.
Desprevenidos, sem ter outros produtos estocados (feno, silagem e ração), os produtores precisaram recorrer à soja e ao milho para alimentar os animais. A saca de milho (também prejudicado pela geada), que custava R$ 19,41 em maio do ano passado, subiu para R$ 39,48 em maio deste ano, alta de 106%.
“O milho chegou a custar R$ 62 esses dias. A soja, que custava R$ 45 a saca, está a R$ 100”, compara Ronei Volpi, vice-presidente do Conseleite e presidente da Comissão do Leite, da Federação da Agricultura do Paraná (Faep). A alimentação corresponde a 40% dos custos da produção leiteira. A alta do dólar também encareceu componentes do sal mineral, fertilizantes, medicamentos e equipamentos. Por causa destas dificuldades, muitos produtores desistiram do negócio e venderam suas vacas a açougues.
A diminuição de 15 a 20% na produção e o aumento da demanda – já que empresas de outros estados vieram procurar o produto no Paraná, oferecendo altos valores – fizeram o preço pago aos produtores subir 13% de janeiro a maio. No bolso do consumidor, a alta chegou a 32%.
Vai faltar?
“O que é importante ressaltar é que, mesmo com a redução do volume, o mercado não está desabastecido. Me lembro daquela época do Plano Cruzado, que tínhamos que ficar horas numa fila para garantir um litro de leite”, analisa Ronei Volpi, da Federação da Agricultura do Paraná.
Já Henry Lira, coordenador do Disque Economia, serviço de pesquisa de preços em supermercados da Prefeitura de Curitiba, teme que o produto fique ainda mais caro ou falte. “Se cai mais uma geada ou muita chuva, o preço vai ficar mais salgado ainda. Espero que não falte leite no mercado”.
Como a produção interna de leite diminuiu, as importações de leite em pó aumentaram, o que vem abastecendo as indústrias que dependem do produto, como as de bolachas, doces e achocolatados. Volpi estima que dentro de 60 dias o preço do leite comece a baixar nas gôndolas.
Onde está mais barato?
A Prefeitura de Curitiba tem um serviço de pesquisa de preços, o Disque Economia, que mostra os preços de 302 produtos em 16 supermercados da capital. A pesquisa é atualizada diariamente, por volta das 15h.
Na última quinta-feira (23), o leite longa vida (de caixinha) chegou a R$ 4,15. O menor preço do produto e,ra R$ 3,24, uma variação de 20%. A diferença de valores do leite em pó foi de 49% e a do pasteurizado (de saquinho), 15%. É o tipo de leite que teve a menor alta (27%) do começo do ano para cá, já que o longa vida subiu 32%. Quando a comparação é feita de junho de 2015 para o mesmo mês de 2016, o longa vida subiu 60% e o pasteurizado 27%.
Pelo preço, está valendo a pena comprar o pasteurizado, que tem validade máxima de dois dias, ou o leite em pó. Uma lata de 400 gramas rende, em média, 3 litros de leite. O levantamento do Disque Economia pode ser consultado em http://disqueeconomia.curitiba.pr.gov.br/ (GU)
Dá pra substituir?
A nutricionista Raquel Zarpellon explica que o leite é importante na alimentação, por ter várias propriedades. Para substituí-lo, é necessário consumir vários outros alimentos no mesmo dia. O cálcio, por exemplo, está no gergelim, no agrião, na chia. A vitamina D está nas carnes (fígado, sardinha, atum, salmão). A vitamina A é encontrada, por exemplo, na cenoura e na abóbora. Para complementar, seria necessário consumir ovos e carnes.
“É trabalhoso, mas é possível substituir. Só que a alimentação diária tem que ser muito rica e diversificada para fazer o papel do leite. Não significa que tem que ser alimentos caros e chiques. Tem que ter muitas verduras e legumes, coisas que você pode ter plantado no quintal de casa. O almoço, por exemplo, tem que ter muito mais do que o arroz, o feijão e a carne. Tem que ter o máximo de legumes possíveis, saladas verdes, frutas. Se a criança come um pouco de cada coisa, o leite não faz tanta falta assim”, explica Raquel.
“O feijão, por exemplo, tem muitos aminoácidos, mas não todos que possui o leite”, ressalta a nutricionista. Por isso, não é aconselhado deixar de tomar a bebida (salvo em casos específicos de saúde), principalmente crianças e adolescentes, que estão em fase de formação.
“Agora os adultos e idosos falam muito em intolerância à lactose e deixam de tomar leite. Mas no futuro, podem ter problema com osteoporose. Não dá pra consumir em excesso, mas não pode parar. Tem que consumir moderadamente”, ensina.