O evento “Voz e vez: a liberdade de expressão e o combate a corrupção”, marcado para ocorrer nesta sexta-feira (17), no prédio de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi suspenso pela instituição de ensino. O debate contaria com a presença do ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR). Aos organizadores da proposta, a alegação da UFPR foi de “risco de tumulto e violência nas dependências do prédio histórico”. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) considerou o cancelamento uma vitória.
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Egresso do curso de Direito da UFPR, Dallagnol repudiou a decisão e disse que é “impensável” que a universidade tenha barrado uma palestra, justamente, sobre liberdade e expressão. O ex-deputado entende que se na academia não há mais espaço para o debate, nenhum outro lugar servirá.
“É absurdo pensar que a universidade tenha barrado e censurado justamente uma palestra em que eu falaria sobre liberdade de expressão. O autoritarismo e a fiscalização do pensamento têm encontrado adeptos em todos os lugares e fico decepcionado ao ver isso acontecendo na UFPR, minha própria universidade. Se na academia não é possível mais debater ideias porque a esquerda tomou conta, onde será?”, questionou.
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Nos últimos dias, mensagens encaminhadas em grupos de WhatsApp davam conta que uma movimentação seria feita por parte dos estudantes para expulsar Dallagnol das dependências do prédio de Direito da UFPR, com a frase “vamos unificados mostrar que fascista não tem vez”. Os recados também chegaram ao recém-filiado ao Partido Novo.
“Os verdadeiros fascistas são aqueles que tentam calar as vozes de quem é de direita. A universidade deveria ser o ambiente, por excelência, de respeito à pluralidade e diversidade de ideias. Infelizmente, deixou de ser”, desabafou Dallagnol.
UFPR dá motivos distintos para a não realização do evento
Procurado pela Gazeta do Povo, o Setor de Ciências Jurídicas da UFPR esclareceu, em um primeiro momento, que a realização do evento dependia da confirmação de um docente como responsável pelo evento. Segundo o que foi informado, até a véspera da palestra, quinta-feira (16), nenhum professor havia assumido a responsabilidade, o que inviabilizaria a realização.
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Entretanto, o organizador da palestra, Rodrigo Marcial, ex-aluno de Direito da universidade e fundador do Grupo de Estudos, Liberdade e Dignidade (GELD), relata uma resposta diferente recebida, como justificativa para o cancelamento. Por e-mail, o Setor de Ciências Jurídicas respondeu a Marcial que mesmo que houvesse um professor responsável, a direção não autorizaria a reserva “considerando o risco de tumulto e violência nas dependências do prédio histórico em virtude do evento”.
“É uma grande mentira o que disseram a respeito da necessidade de um docente se responsabilizar. Nos encaminharam um e-mail afirmando que, de qualquer forma, não autorizariam a realização por conta do risco de tumulto. É uma balela. Simplesmente não deixaram e ponto. Nós tínhamos uma pessoa responsável. Eles apenas arrumaram uma desculpa”, criticou.
A assessoria de imprensa da UFPR, por e-mail, reforçou a negativa do Setor de Ciências Jurídicas, reiterando que “o referido Setor informa que não recebeu a confirmação por um docente da Faculdade que o mesmo se responsabilizaria pelo evento e que acompanharia o desenvolvimento”. Acrescentou, ainda, que o evento foi anunciado, “pelos supostos organizadores, sem qualquer autorização ou confirmação, por parte da Direção, de reserva do Salão Nobre ou de outra sala do Setor de Ciências Jurídicas”.
No fim do dia desta quinta-feira, véspera da data marcada para o debate, o DCE da UFPR comemorou o cancelamento do evento, em publicação no Instagram. A imagem traz um: “Vitória! Mobilização do Movimento Estudantil da UFPR impede realização de palestra de Deltan Dallagnol no Prédio Histórico”. O texto do DCE confirma que “após muita pressão do movimento estudantil, a direção do Setor de Ciências Jurídicas retirou a reserva do auditório e impediu a realização do evento”.
Evento que defendeu o “fim da polícia” foi sediado na UFPR
No mês de agosto, o evento “Quem nos cuida da polícia?”, promovido pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da UFPR, gerou intenso debate na capital paranaense. À época, a discussão foi marcada pela presença do deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) e por frases como “a polícia tem que acabar” e “a polícia trabalha para matar”.
Entidades representativas de classe, como o Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol) e a Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná (Adepol-PR) repudiaram o ocorrido, defendendo que o encontro “fomentou o ódio contra policiais brasileiros sem embasamento”.