Os dados mais recentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba mostram que os números da pandemia de Covid-19 na capital são os menores em meses. Porém, apesar dos registros mostrarem melhoras nos indicadores e uma tendência atual de desaceleração, especialista ouvido pela Gazeta do Povo afirmou que o momento não é de relaxar nas medidas preventivas contra o coronavírus.
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Um dos índices que mais chama a atenção é a taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivos para o tratamento da Covid-19. Nesta segunda-feira (26), na atualização da ferramenta Painel Covid, da SMS, com dados do dia 25, esse índice estava em 60%. Para os leitos de enfermaria, a taxa atual, de 52% de ocupação, é a menor desde 29 de maio de 2020, quando esse indicador era de 51%.
A média móvel de mortes sofreu uma leve oscilação entre os dias 22 e 26 de julho, variando entre 13,71 e 15. Números menores só haviam sido registrados em fevereiro, antes da cidade enfrentar o pior período da pandemia até agora. No dia 23 daquele mês, a média móvel de óbitos por Covid-19 em Curitiba era de 12,83.
A capital paranaense registrou no dia 24 de julho 491 novos casos da doença. A última vez que esse número ficou abaixo da casa dos 500 foi em 23 de abril, quando o índice registrado foi de 489 novas confirmações. A quantidade de casos ativos, as pessoas que estão infectadas com o novo coronavírus e que podem transmitir a doença, está em 6.869. O índice vem sofrendo pequenas variações diárias, mas é o menor desde 7 de maio, quando havia em Curitiba 6.906 casos ativos de Covid-19.
“Seria inocência achar que a pandemia está no fim”
A mesma ferramenta mostra que desde o começo de julho a taxa de transmissão da Covid está muito próxima de entrar em tendência de aceleração. O índice Rt, que estima a quantidade de pessoas que poderiam ser infectadas a partir de um grupo de pacientes ativos de Covid, estava em 0,86 no último dia 8. Na prática, isso significa que 100 pessoas portadoras do vírus teriam potencial para contaminar outras 86 pessoas – o que significa queda na velocidade da pandemia. Esse índice subiu durante os sete dias seguintes, atingindo a marca de 0,99 no último dia 15.
Em entrevista por telefone, o médico infectologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) Bernardo Montesanti de Almeida levantou algumas hipóteses sobre o que estaria levando a taxa Rt para uma possível tendência de aceleração na pandemia. Uma delas é a possível inclusão recente de casos confirmados de Covid de meses anteriores, o que poderia alterar o cálculo do índice.
“O Rt é totalmente dependente de outros dados, como os casos confirmados e os casos ativos de Covid. Ele tem limitações e sofre variações por qualquer inconsistência nesses parâmetros, como a subnotificação ou a demora na notificação dos casos confirmados. Mas o aumento do Rt, apesar de ocorrer, e considerando que os dados estejam corretos, ainda está mantendo a taxa abaixo de 1. E isso ainda é um bom sinal, mostra tendência de queda. O fato de estar subindo, mesmo estando abaixo de 1, é sinal de que a queda está desacelerando, o que pode indicar uma possível reversão de tendência”, detalhou.
Procurada pela reportagem, a SMS informou por meio de sua assessoria de comunicação que os dados da taxa Rt presentes no Painel Covid são sempre atualizados de forma retroativa. A nota afirma que o índice de Rt mais atual, do dia 15 de julho, reflete o que era a realidade da pandemia na cidade naquele período de tempo. Um novo cálculo da taxa deve ser divulgado na quarta-feira (28) levando-se em conta os dados de casos confirmados, ativos e óbitos referentes à semana passada, o que segundo a assessoria vai ajudar a refletir com mais precisão as quedas nos outros índices da pandemia na cidade.
Outro fator que precisa ser levado em conta, segundo o especialista, é a presença da variante Delta do coronavírus em Curitiba, e por consequência no Paraná. Na avaliação de Almeida, apesar de os governos federal e estadual não confirmarem o status de transmissão comunitária dessa nova cepa, é bem possível que a variante Delta já esteja “circulando plenamente no estado”. A maior transmissibilidade desta cepa poderia justificar o aumento no índice de Rt.
“Há uma expectativa de aumento progressivo da presença da variante Delta no Paraná. Isso pode explicar, em parte, essa tendência de reversão da pandemia. O mundo inteiro está sofrendo com essa variante, mesmo aqueles com alta taxa de cobertura vacinal. Seria muita inocência nossa, muita pretensão acreditar que esses dados significam que a pandemia está no fim. Não seria nenhuma surpresa se essa tendência de queda se revertesse e voltássemos a ver um novo aumento nos casos. Isso está totalmente dentro das possibilidades, e é bastante real que isso aconteça. Devemos manter o estado de alerta sobre essa nova variante. Não é momento de achar que vencemos a guerra”, apontou.