O primeiro indicativo da criminalidade de 2016 divulgado pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp) mostra um avanço dos assassinatos em Curitiba. O trimestre inicial deste ano apontou um aumento de 11% dos homicídios dolosos (com intenção de matar) na capital em relação ao mesmo período de 2015.

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A taxa de um homicídio doloso para cada 100 mil habitantes, principal indicador de violência usado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), interrompeu neste trimestre a sequência de quedas que foi tendência em 2015. O órgão considera como epidemia taxa superior a 10. Curitiba tem hoje 30 homicídios para cada 100 mil moradores, enquanto o mesmo período do ano passado tinha 27. Todo ano passado apresentou uma taxa ainda menor, 24 por 100 mil. Era o menor desde 2007.

Além da capital, outras três cidades importantes do estado registraram um crescimento dos assassinatos. Londrina e Ponta Grossa são os casos que pedem uma atenção redobrada das autoridades da segurança pública. A primeira foi palco de 17 mortes supostamente causadas por policiais militares em janeiro deste ano.

De acordo com a Sesp, essas mortes estão dentro da estatística londrinense de homicídios. O caso ainda está sendo investigado pela Polícia Civil. Houve um aumento de 80% nos assassinatos naquela cidade (veja o gráfico). Em Ponta Grossa, o número de mortes dobrou de oito para 16. Maringá registrou um aumento de dois homicídios, de nove para onze, no trimestre analisado.

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Apesar do aumento nestas cidades, os números da Região Metropolitana, Litoral e restante do Paraná são mostram ainda um movimento de queda. Na RMC e no Litoral, os homicídios caíram 10% e 11% respectivamente. No total geral (com todas as cidades) do Paraná, a queda foi de 6%. Embora toda região metropolitana tenha registrado a regressão nos números de assassinatos, os dois municípios mais violentos, historicamente, São José dos Pinhais e Colombo, tiveram aumentos de 10% (de 38 para 42) e 47% (de 21 para 31), respectivamente.

Análise

O coordenador do Centro de Estudos da Violência e Direitos Humanos da UFPR, Pedro Bodê, disse que a variação na taxa de homicídios apresentada pelo governo na capital indica a falta de políticas públicas consistentes.

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“O problema relacionado à violência não pode ser visto pela perspectiva apenas policial, mas há também necessidade de ações como ocupação do espaço público, ampliação do contraturno escolar, etc. E nestas áreas não houve nenhuma mudança significativa”, afirmou.

O especialista ainda mencionou a necessidade de ter uma avaliação estadual sobre a taxa de solução. “Onde a taxa de solução é baixa, normalmente a de assassinatos é alta. No Brasil inteiro é assim”, ressaltou.

Outro aspecto avaliado por ele é a necessidade de uma análise sobre os programas que o governo implantou. “Quando a polícia chega aos locais onde há mais incidência, é natural as taxas caírem. Mas há momentos que acontece uma espécie de ‘rotinização’, como nas UPPs do Rio de Janeiro. Friso, no entanto, que tudo depende das causas de cada homicídio”, disse, ao fazer referência ao programa Unidade Paraná Seguro (UPS) e citar a sobre possibilidade de o crime se adaptar à presença das autoridades.

Tráfico na região Sul

O delegado-titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Miguel Stadler, afirmou, por meio assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública, que a alta recente dos homicídios em Curitiba aconteceu em razão do tráfico de drogas em áreas da região Sul da cidade.

Na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), por exemplo, o primeiro trimestre de 2015 registrou 11 homicídios. No mesmo período deste ano, foram 16. Já os assassinatos no Tatuquara passaram de quatro para 11.

,Para tentar reverter esse avanço, de acordo com a Sesp, as polícias Civil e Militar têm deflagrado operações conjuntas em locais considerados mais vulneráveis. “Trabalhamos na identificação de boa parte desse pessoal apontado como autor desses crimes, com a instauração de inquéritos e medidas cautelares solicitadas ao Poder Judiciário, como prisões temporárias”, explicou o delegado.

Londrina e Ponta Grossa

O secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita, considerou os aumentos em Londrina e Ponta Grossa como pontuais. “Meses atrás nós identificamos um aumento na Região Metropolitana de Curitiba, trabalhamos esse fator e agora conseguimos reverter esse quadro. Agora, tivemos alguns fatos pontuais, em cidades como Londrina e Ponta Grossa, que demandam mais atenção das forças policiais”, afirmou Mequita.

Queda

Sobre a queda apresentada na RMC e outras regiões, o delegado-geral da Polícia Civil, Julio Reis, afirmou, também por meio da assessoria, que houve uma atenção redobrada das polícias e a nova turma de investigadores, formada recentemente, conseguiu resultados.

Para o comandante-geral da PM, coronel Maurício Tortato, o trabalho integrado entre as polícias foi um diferencial para manter a queda no índice geral de homicídios do Paraná. Na avaliação dele, as prisões realizadas e as identificações de autoria evitaram que houvesse um sentimento de impunidade.