Um dos principais indicadores que interferem na sensação de segurança da sociedade, o número de assaltos à mão armada avançou em 40 bairros de Curitiba (53,5% do total) no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2014. Apesar de o número absoluto de roubos ter aumentado apenas 3% na cidade, alguns bairros – como Juvevê, Santa Cândida, Bacacheri e Fazendinha – viram o índice explodir. Levantados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) a pedido da Gazeta do Povo, os dados levam em conta apenas os casos registrados oficialmente, em boletins de ocorrência.

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No total, Curitiba somou 7.419 assaltos nos três primeiros meses de 2015: uma média de 81 pessoas roubadas por dia ou sete casos a cada duas horas. O mapa revela que os aumentos se concentraram nas regiões Norte e Sul, mas também atingiram áreas consideradas nobres. O Centro Cívico, por exemplo, teve 91 assaltos (aumento de 62,5%); o Ahú registrou 66 casos (alta de 88,6%); e São Lourenço contabilizou 56 roubos (93,1%).

Em contrapartida, os índices recuaram principalmente na região central – Centro, Batel, Água Verde e Alto da XV – e em alguns bairros mais afastados – como CIC, Cajuru e Xaxim – marcados por terem um alto volume de roubos. No entanto, mesmo nas áreas em que houve recuo, a repetição dos casos preocupa, porque esse tipo de crime está diretamente relacionado à percepção que as pessoas têm da segurança.

“Os roubos e furtos são os crimes que mais acontecem e os que têm menor chance de ter uma resposta por parte das forças de segurança. Nos últimos 15 anos, a polícia têm priorizado casos mais graves – como homicídio e tráfico de drogas – e negligenciado os assaltos e arrombamentos, considerando-os crimes menores. O Estado acaba jogando a responsabilidade destes para a sociedade civil”, analisou o sociólogo Cézar Bueno, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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Um entrave às respostas do Estado aos casos é que os assaltos estão se multiplicando em um volume muito maior que a capacidade da polícia em investigá-los. O resultado é que a maioria das ocorrências fica impune. “O delegado nunca vai dar conta de investigar tudo o que chega. Então, ele acaba escolhendo. Escolhe o caso que vai ter mais chance de se chegar ao autor e o resto, infelizmente, fica de lado”, atesta um delegado que já foi titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba.

Com isso, multiplicam-se casos como o da farmácia localizada no Santa Cândida, que tem sido vítima de uma média de 17 assaltos por mês. Os casos se tornaram tão banais que os funcionários parecem ter se acostumado à violência. “Em cada assalto, a gente tem uma reação diferente. Não dá pra prever. Mas o que você vai fazer? A gente se acostuma e reza pra não acontecer nada. É um pavor”, disse uma balconista, que pediu para não ser identificada.

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