Em algumas das avenidas mais movimentadas de Curitiba, placas advertem os motoristas que o limite de velocidade agora é de 50 km/h. A mudança, iniciada no ano passado, ganhou impulso nas últimas semanas com a entrada em operação do novo sistema de radares, após declarados os vencedores da licitação que vai substituir o contrato de 22 anos com a empresa Consilux.
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Já integram a fase de “ruas acalmadas” os quatro radares recentemente instalados a pedidos dos moradores nos bairros Jardim Botânico, Juvevê, São Francisco e Cidade Industrial. O fato é que o motorista curitibano precisará fazer uma mudança permanente de hábitos. Se antes, ao trafegar na cidade, o cuidado intuitivo era para não deixar o velocímetro passar dos 60 km/h, agora será preciso manter em mente a marca dos 50 km/h, que passa a ser o novo padrão, cobrindo 94% das ruas de Curitiba (ver tabela no final da matéria). Entre as exceções estão a Avenida Comendador Franco e a Linha Verde (até 70 km/h) e as vias rápidas, como a Professor Pedro Viriato Parigot de Souza (Campina do Siqueira – CIC) e a Avenida Mascarenhas de Moraes (Santa Cândida – Atuba), que seguem com limite de 60 km/h.
Quando estiverem totalmente funcionais e operando, os 191 novos equipamentos – 38 a mais do que os que existiam no contrato da Consilux – vão turbinar a capacidade fiscalizatória do poder público. O número de faixas de rolagem monitoradas saltará de cerca de 550 para 804.
Tanto a redução do limite de velocidade para 50 km/h como a implantação dos novos radares, segundo a prefeitura, tem como objetivo salvar vidas e combater o que a diretora de Trânsito chama de “indústria de infratores”. Rosângela Battistella aponta que as medidas não devem ter impactos significativos na arrecadação: “Com performance melhor (dos equipamentos), com certeza vai crescer o número de autuações. Por outro lado, tem agora o sistema de notificação eletrônica do Contran, que permite ao motorista regularizar a infração com 40% de desconto, desde que não entre com recurso”.
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A cada implantação de radares ressurgem as críticas daqueles que acreditam que os equipamentos estariam a serviço de uma suposta “indústria da multa”. Battistella rebate. “Uma indústria não sobrevive se não for alimentada. É prestar atenção e respeitar. É dever de todos. Se a pessoa respeitar, não vai ser autuada. O que existe é uma indústria de infratores, é isso que queremos coibir”.
Outras cidades brasileiras já reduziram o limite de suas principais avenidas e vias arteriais. São Paulo fez isso entre 2014 e 2015 e baixou em 700 km de ruas o limite máximo tolerado de 60 km/h para 50 km/h. Segundo dados do World Resources Institute (WRI Brasil), como resultado a cidade é hoje uma das capitais com menor índice de fatalidades no trânsito no Brasil. São 6,2 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto a média brasileira é de 19,7 mortes. Em Curitiba, em 2019, a taxa estava em 8,7 mortes para cada 100 mil habitantes, uma redução de 45,5% em relação ao início da década.
Tendência é reduzir ainda mais o limite de velocidade nas cidades
O engenheiro Celso Mariano, que já foi diretor de Educação para o Trânsito em Curitiba, lembra que desde os anos 70 e 80 a recomendação já era para que as cidades tivessem “áreas calmas” com limite de velocidade de 40 km/h. “Essa recomendação também baixou. Hoje uma área calma típica tem limite de 30 km/h. Há uma tendência mundial, com lastro em estudos técnicos, de baixar a velocidade máxima permitida em área urbana”, diz Mariano.
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O especialista faz um paralelo do trânsito das cidades com o ditado popular de que “onde passa um boi, passa uma boiada”. “Mas perceba que é um boi de cada vez, porque se dois ou três bois quiserem passar, não dá certo, trava tudo”, pontua Mariano. Ele destaca que “fluidez é mais importante do que velocidade alta em área urbana”. Quando a velocidade limite é de 60 km/h, o efeito de amontoar carros é maior, diz. “Incrivelmente, quando você abaixa a velocidade média, você diminui os congestionamentos”. Some-se a isso o efeito de evitar acidentes com consequências mais sérias. “Quanto menos velocidade, menos energia cinética. Menos daquela força que será exercida quando você colidir, que irá bater, rasgar, esmagar. O ganho em segurança é líquido e certo”.
Em 2019, segundo dados do programa Vida no Trânsito – coordenado pelas secretarias municipais de Saúde e Defesa Social e Trânsito – , 169 pessoas perderam a vida em acidentes nas ruas de Curitiba. Destas, 76 eram pedestres, 54 motociclistas, 23 ocupantes de automóveis e 16 ciclistas.
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Battistella, da prefeitura de Curitiba, dá ênfase ao efeito esperado na diminuição de mortos e feridos. “Em Genebra (Suíça), o limite de velocidade no meio urbano é de 50 km/h desde 1975. Com a medida, a tendência é diminuir o número e a gravidade desses acidentes”, diz. A avaliação tem o respaldo de estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS), que apontam que um pedestre tem 90% de chances de sobreviver se for atropelado por um carro a 30 km/h, enquanto a 80 km/h quase não há chance alguma.
Em Curitiba, a substituição do sistema de radares da Consilux será feita de forma escalonada até o final do ano, devido a restrições orçamentárias. “A gente não quer deixar a cidade descoberta. Temos radares portáteis que poderemos utilizar para fiscalizar de 60 km/h para cima. As vias rápidas serão as últimas a ter os equipamentos implantados, porque a gente pode cobrir o atendimento com esses radares portáteis, operados pelos agentes de trânsito”, observa Battistella.
Veja que velocidades serão fiscalizadas pelos novos radares em Curitiba:
35% dos radares vão fiscalizar velocidade máxima de 50 km/h;
30% dos radares vão fiscalizar velocidade máxima de 60 km/h;
20% dos radares vão fiscalizar velocidade máxima de 40 km/h;
15% dos radares vão fiscalizar velocidade máxima de 70 km/h
Com os novos limites de velocidade, a Secretaria de Trânsito avalia que os 4,5 mil quilômetros de ruas pavimentadas de Curitiba passam a ter a seguinte configuração:
1% das vias com velocidade permitida até 70 km/h;
5% das vias com velocidade permitida até 60 km/h;
15% das vias com velocidade máxima de 50 km/h;
49% das vias com velocidade máxima de 40 km/h;
30% das vias com velocidade máxima de 30 km/h.