Uma parceria entre a prefeitura de Curitiba e associações de moradores vai permitir, a partir deste fim de semana, que o fluxo de veículos em alguns pontos da capital paranaense seja interrompido para que as pessoas aproveitem as vias públicas para o lazer. A ideia é que, tal qual antigamente, as ruas sejam tomadas pelas brincadeiras dos pequenos.
As três primeiras ruas de lazer vão funcionar no Sítio Cercado, no Cajuru e no Centro. A meta é lançar uma por regional, a fim de proporcionar a ocupação do espaço público pela população. A iniciativa faz parte das comemorações dos 322 anos de Curitiba.
Segundo a prefeitura, um estudo foi feito para verificar a viabilidade de se interromper o fluxo de veículos no fim de semana e no horário escolhido pelas pessoas de cada bairro, de acordo com a necessidade de cada regional. No Cajuru, por exemplo, as ruas de lazer vão funcionar aos sábados, das 12 às 17 horas, enquanto que no Sítio Cercado o horário é das 14 às 17 horas. Já na Rua São Francisco, no Centro, as atividades ocorrem aos domingos, das 10 às 17 horas. Esse horário, aliás, foi escolhido pelos moradores levando em consideração o aspecto boêmio da região, especialmente nos fins de semana.
A programação das atividades será decidida pelas associações de moradores, com base em sugestões da Secretaria de Esporte e Lazer. No Cajuru, haverá também aulas de capoeira, dança e música, que são frutos de um projeto realizado há 10 anos pela associação de moradores local.
Parceria
A criação das ruas de lazer é uma ideia já implementada por cidades como São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Na capital paulista, as ruas são regulamentas por leis e decretos municipais desde 1999. Por aqui, o destaque é a parceira do poder público com a população. “Buscamos um envolvimento da sociedade na execução das políticas públicas. São as associações que vão gerir a execução dessas ruas”, explica Aluisio de Oliveira Dutra Junior, secretário de Esporte e Lazer.
“O bacana do projeto é que ele é autossustentável, gerido por nós. Por isso estamos em busca de parcerias para que as ruas sejam um espaço permanente de lazer para as crianças”, diz Janaína da Luz, presidente da Associação dos Moradores da Vila São João Del Rey, no Cajuru.
Veja onde ficam as Ruas de Lazer
Cajuru
Rua Leodoro Ferreira de Castro, esquina com a Sebastião Marcos Luiz. Aos sábados, das 14 às 17 h.
Sítio Cercado
Rua Sezinando Teixeira Oliveira, entre a Radialista Souza Moreno e a Manoel da Nóbrega. Aos sábados, das 14 às 17 h.
Centro
Rua São Francisco, entre a Riachuelo e a Presidente Faria. Aos domingos, das 10 às 17 h.
Diversão não deve ficar restrita ao quintal de casa
A Organização Mundial de Saúde aconselha o mínimo de uma hora por dia de atividades físicas para que as crianças tenham uma vida saudável. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê o direito a brincar, praticar esportes e divertir-se. O mesmo documento estabelece que as crianças têm o direito de ir e vir nos espaços públicos e da participação da vida familiar e comunitária. Essa realidade, no entanto, está cada vez mais distante da rotina delas. “Com a tecnologia e a falta de segurança, a tendência é que os pais concentrem o pouco tempo de lazer dentro de casa e em frente do computador, tablet e televisão. Esses recursos são interessantes em determinadas situações, mas também restringem muito o espaço de busca e movimento das crianças”, explica Evelise Portilho, psicopedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Segundo a especialista, é interessante observar que o “brincar” não é somente deixar a criança em determinado espaço, como ocorria antigamente com os cercadinhos, mas sim uma atividade que requer o envolvimento de toda a família. Nesse sentido, as ruas de lazer podem trazer benefícios. “Na questão econômica, por exemplo, ao trazer a criança para a rua, para aproveitar a cidade e o espaço público, freia-se o consumismo e também a necessidade de ligar a diversão à compra de um brinquedo novo. Não é à toa que as crianças são alvos de constantes estudos do mestrado do consumo”, observa Evelise. “O adulto é uma figura importantíssima para acompanhar esse desenvolvimento, essa aprendizagem, e a interação entre pais e filhos nos momentos de lazer é essencial para o desenvolvimento da criança em todos os níveis”, conclui.