Tabagismo

Curitiba é a 3ª capital com mais fumantes do Brasil; uso de cigarros eletrônicos pelos jovens preocupa

Entre os curitibanos do sexo masculino, 14,9% declaram-se fumantes. Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo

Entre os curitibanos do sexo masculino, 14,9% declaram-se fumantes. O índice deixa a capital paranaense atrás apenas de Campo Grande e Distrito Federal, em pesquisa nacional sobre o tema, a Vigitel, publicada em maio. O número, menor do que dez anos atrás, quando um a cada cinco assim se autodeclaravam, ainda é considerado preocupante do ponto de vista da saúde pública.

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O alto índice de experimentação, na infância e adolescência, não apenas de cigarros, mas também de narguilé (cachimbo de água) e cigarro eletrônico é apontado como uma possível causa para esse destaque negativo paranaense entre os fumantes no panorama nacional. O mesmo comportamento foi observado em outro levantamento, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, conduzida pelo Ministério da Saúde, IBGE e Ministério da Economia, cuja última edição é de 2019.

Se a experimentação do tabagismo por escolares de 13 a 17 anos de Curitiba que disseram ter fumado cigarro alguma vez na vida foi de 21,5% no público masculino, entre quem experimentou o narguilé o índice foi de 49%. O cigarro eletrônico foi experimentado por 27,5% dos jovens curitibanos, deixando a cidade em quarto lugar entre as capitais.

A relativa proximidade de Curitiba com a fronteira também ajudaria a tornar mais fácil o acesso a esses dispositivos eletrônicos de fumar, contribuindo com os altos números de fumantes na capital paranaense, aponta Cleverson Fragoso, diretor de Atenção Primária em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba. “O Paraná também tem grandes plantações de fumo, assim como outros estados do Sul, o que pode ter feito com que o hábito de fumar tenha sido mais disseminado por aqui”.

Apesar de o cenário ser visto com preocupação pela Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, não há um trabalho específico para a faixa etária de crianças e adolescentes em torno do combate ao tabagismo. “Atendemos à população geral com nosso Programa de Combate ao Tabagismo e todas as unidades de saúde são portas de entrada para quem quer parar de fumar na cidade”, diz Fragoso.

Cigarro eletrônico conquista mais jovens

Um dos potenciais vilões, o cigarro eletrônico tem maior adesão entre os mais jovens, fato confirmado pela pesquisa Covitel com dados do primeiro trimestre de 2022 com entrevistados da Região Sul: 35,9% de jovens entre 18 e 24 anos responderam ter tido contato com cigarro eletrônico, além de 12,9% na faixa etária entre 25 a 34 anos, o que justifica a preocupação de que esta seja uma porta de entrada para o tabagismo.

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Essa pesquisa, o Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, foi realizada pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas com 1,8 mil indivíduos por macrorregião, somando 9 mil entrevistados.

O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para desenvolver uma série de doenças crônicas, tais como câncer, doenças pulmonares e doenças cardiovasculares, sendo o tabaco o líder global entre as causas de mortes evitáveis, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Riscos escondidos por sabores palatáveis

Pesam na alta experimentação de produtos com tabaco por crianças e adolescentes a vontade de conhecer de tudo um pouco nessa faixa etária, explica o pediatra João Paulo Becker Lotufo, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) para o assunto álcool, drogas e tabaco na infância e adolescência. “E para ficar mais palatável a esse grupo e mascarar o gosto amargo, a indústria investe em sabores oferecendo uma infinidade de essências como, por exemplo, o de frutas como manga, que é o principal sabor vendido nos Estados Unidos, onde o dispositivo é legalizado”, diz ele.

Lotufo explica que assim como a maconha e o álcool, cigarro eletrônico e narguilé são vistos erroneamente pelos jovens como algo que não faz mal. “Hoje vemos, com frequência, pais ou presenteando filhos em festa de 15 anos com narguilés, sem saberem que uma hora de consumo desses cachimbos de água equivale a fumar 100 cigarros, ou minimizando os danos dos cigarros eletrônicos, que podem ter até 15 vezes a concentração de nicotina presente em um cigarro tradicional em apenas uma ampola”, diz.

Além de ser quimicamente mais viciante do que maconha e álcool, a nicotina causa dependências comportamental e psicológica, que atingem mais fortemente crianças e adolescentes. “Como o cérebro se desenvolve até os 21 anos, qualquer droga cujo uso seja iniciado antes disso aumenta a chance de desenvolvimento de dependência”, diz Lotufo, que aponta ser uma fake news das indústrias de que esses dispositivos eletrônicos possam ajudar fumantes que desejam parar e não conseguem. “O que acontece hoje é aquilo que ocorria ao jovem na década de 1950, que fumava cigarro escondido no banheiro da escola: atualmente adolescentes têm fumado cigarro eletrônico escondidos no banheiro da escola, por isso a importância de alertarmos as pessoas e proibirmos novos dispositivos”, diz ele.

Anvisa discute se mantém restrição

Neste ano, a Anvisa abriu uma Tomada Pública de Subsídios por um mês, até o último 11 de maio, para receber informações técnicas a respeito dos cigarros eletrônicos e decidir se mantém a restrição ou se libera o uso e comercialização. No momento, a área técnica avalia os subsídios e deve concluir o relatório final da Análise de Impacto Regulatório.

No Paraná, uma proposta em tramitação na Assembleia Legislativa quer, antes mesmo de que a Anvisa tome sua decisão, proibir no estado o uso, a comercialização, a importação ou a produção de dispositivos eletrônicos para fumar. O projeto de lei é de autoria do deputado Dr. Batista (União), que também proíbe o uso de qualquer acessório ou refil destinado ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar.

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