A alteração na ordem da fila de prioridades na vacinação contra a Covid-19 feita pelo governo do Paraná, e anunciada na terça-feira (4), acabou gerando confusão em Curitiba, onde a prefeitura da cidade alegou, nesta quarta-feira (5), que houve prejuízo na imunização de grávidas e puérperas. Já a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afirma que a alteração na ordem da fila de prioridades – o governo estadual anunciou a antecipação da vacinação dos profissionais da educação – não deveria ter afetado o cronograma da vacinação das grávidas e puérperas, e acrescenta que, se isso ocorreu, foi porque a própria prefeitura de Curitiba fez remanejamentos.
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A situação começou a partir da décima sexta remessa de vacinas feita pelo Ministério da Saúde ao Paraná, entre os dias 1º e 3 de maio. Foram enviadas 438.860 doses (14.600 da Coronavac, 391.500 da Astrazeneca e 32.760 da Pfizer) destinadas, segundo o planejamento do Ministério da Saúde, a pessoas com comorbidades, gestantes e puérperas, pessoas com deficiência permanente grave, pessoas com 60 a 64 anos, profissionais da segurança pública e salvamento e das Forças Armadas, além de trabalhadores de saúde. Mas, parte destas doses (32.760 da Astrazeneca), por decisão do governo do Paraná, foram reservadas para profissionais da educação de todo o estado.
No plano nacional e estadual de vacinação, os trabalhadores da área da educação integram o grupo prioritário, mas, na fila definida nos dois documentos, eles ainda precisariam aguardar a vacinação de outros grupos. Para fazer a antecipação, o governo do Paraná alega que tem pressa no retorno das aulas presenciais – marcado para 10 de maio – e quer acelerar a vacinação de professores e servidores das escolas. As 32.760 doses serão distribuídas para todo o Estado “nos próximos dias”, de acordo com a Sesa. Somente para trabalhadores da educação em Curitiba, são 6.830 doses, de acordo com a Sesa.
Ainda na terça-feira (4), questionada pela Gazeta do Povo sobre a decisão do governo estadual, de antecipar a vacina para a área da educação, a prefeitura de Curitiba explicou que ainda não tinha sido informada oficialmente sobre a mudança e que aguardava isso para reavaliar seu cronograma de vacinação. Nesta quarta-feira (5), durante entrevista ao Meio Dia Paraná, da RPC, a secretária municipal da Saúde, Márcia Huçulak, afirmou que foi surpreendida com a decisão e revelou que as doses que o governo estadual segurou para o pessoal da educação atrapalhou os planos da prefeitura de iniciar a vacinação das grávidas nesta quinta-feira (6).
Em reação à entrevista, o governo estadual distribuiu uma nota à imprensa na qual afirmou que “não procede a informação divulgada pelo município de Curitiba de que as gestantes e puérperas não poderão ser vacinadas pela falta de doses, em razão do anúncio pelo governo do Estado em iniciar a imunização dos trabalhadores da Educação”. O governo estadual reforça que considera “fundamental que Curitiba vacine as suas gestantes e puérperas, principalmente pelo aumento dos números de casos da Covid-19 nestes grupos”.
“O próprio município de Curitiba recebeu um lote de 32.760 doses da Pfizer, pelo Ministério da Saúde, nesta quarta-feira (5), específico para iniciar a vacinação de gestantes, pessoas como comorbidades, puérperas e pessoas com deficiência permanente, segundo o 15º Informe Técnico da Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A Secretaria de Saúde de Curitiba ainda afirma que vai utilizar a vacina da Pfizer, que está destinada para os grupos já mencionados, para dar continuidade na vacinação de trabalhadores da saúde. Portanto, o município está fazendo um remanejamento próprio das doses e não está cumprindo fielmente o PNI, e o plano estadual de vacinação, diferente do que informa”, continua a nota.
A prefeitura de Curitiba ainda vacina trabalhadores da saúde – primeiro grupo na fila de prioridades – porque a quantidade de doses recebidas até agora não teria sido suficiente para contemplar todos os profissionais na área. O alerta já foi feito ao Ministério da Saúde pela prefeitura e também pela Sesa.
O Ministério da Saúde tem orientado para que estados e municípios “sigam à risca” o plano nacional de vacinação e a ordem da fila de prioridades indicada no documento.
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“Não há interesse, por parte de Curitiba, em disputar versões”
A prefeitura de Curitiba também reagiu à manifestação do governo do Paraná. No início da noite desta quarta-feira (5), a prefeitura encaminhou uma nota à Gazeta do Povo na qual afirma que “não há interesse, por parte do município de Curitiba, em disputar versões” e que “segue rigorosamente” a ordem da fila prevista no PNI.
Segundo a prefeitura, as doses repassadas da vacina Pfizer até agora cobrem a imunização de apenas 1,6% do grupo de comorbidades, gestantes e puérperas e pessoas com deficiência. “Considerando que Curitiba tem dentro desse grupo de comorbidades um público-alvo estimado de 300 mil pessoas, a quantidade de doses Pfizer enviadas nessa remessa contempla o atendimento de apenas 4.800 pessoas (1,6%), o que seria insuficiente para vacinar o sub-grupo de gestantes e puérperas, estimado em quase 28 mil pessoas. Com o reduzido número de doses previstas, o município optou por iniciar pelos menores sub-grupos previstos dentro do grupo de comorbidades: pessoas com deficiência e pacientes que realizam tratamento nas clínicas de hemodiálise”, explica a prefeitura.
“Além disso, o município já havia feito o agendamento de vacinação de 18 mil profissionais de saúde (primeiro grupo prioritário do PNI e que ainda não foi finalizado até o momento). Esse agendamento havia sido realizado baseado na programação de envios realizados pelo Ministério da Saúde aos municípios, via governo estadual. Esta programação previa que o município receberia, além de 32.760 doses da Pfizer, outras 32 mil do imunizante Astrazeneca. Embora o governo do estado tenha recebido 424.260 doses de vacinas Pfizer e Astrazeneca nesta semana, podendo assim cumprir a programação do Ministério da Saúde e entregar as doses previstas a Curitiba, o município foi surpreendido pelo anúncio do governo estadual, na terça-feira (4), de que usaria 32 mil doses de Astrazeneca para antecipar a imunização de professores de todo o estado, desrespeitando a ordem prevista no PNI”, continua a nota.
Ao final, a prefeitura afirma que “a preocupação do município sempre foi, em razão da escassez de vacinas, seguir o plano, que foi discutido e pactuado com estados e municípios”: “O mais importante é que todos os níveis de gestão do SUS sigam o que foi acordado, evitando confundir e criar animosidade, num momento tão delicado que passa o país”.