A curiosidade dos motoristas diante de um acidente de trânsito não atrapalha apenas o fluxo de veículos, mas traz consequências ainda maiores. Além do congestionamento que pode causar, essa paradinha atrapalha também o trabalho de resgate das ambulâncias e o atendimento da ocorrência por parte da polícia. Pior: pode causar novos acidentes e ainda mais graves do que aquele que o original. Portanto, a orientação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Corpo de Bombeiros é de que o motorista deixe a curiosidade de lado e siga em frente.
Na última terça-feira (29), por exemplo, a fila causada por curiosos em um acidente na BR-376, no Contorno Leste em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, era quase do mesmo tamanho do congestionamento na via que estava interditada pelo incidente. Enquanto que na pista sentido São Paulo, em que um caminhão havia tombado e bloqueado o trânsito, a retenção era de 10 km, no sentido contrário, onde o trânsito era livre, a fila chegou aos 8 km.
“Parece que os motoristas sentem uma necessidade de passar devagar para ver detalhes no estrago dos veículos ou ver o que aconteceu com as vítimas. Além de atrapalhar o fluxo do tráfego, muitas vezes isso gera acidentes ainda mais graves do que o que fez com que ele reduzisse a velocidade”, alerta Fernando Oliveira, chefe do núcleo de comunicação da PRF no Paraná.
O policial lembra de um acidente de janeiro de 2016, na BR-116, em Fazenda Rio Grando, quando uma kombi passou muito lentamente na pista contrária a um acidente envolvendo três veículos e acabou gerando o tombamento de um caminhão. “Para saciar a curiosidade, o motorista da kombi reduziu muito. Ele não viu que tinha um caminhão atrás, que não conseguiu frear a tempo e bateu na traseira da kombi”, exemplifica Oliveira.
Atrapalhando o socorro
A fila de curiosos também acaba deslocando policiais que poderiam atender outras ocorrências. Isso porque é preciso orientar os motoristas para que não reduzam e nem parem para ver o acidente. “Isso prejudica até o auxílio ao acidente”, enfatiza Oliveira.
Segundo o major Leonardo Mendes Santos, do Corpo de Bombeiros de Curitiba, essas situações acontecem não apenas em estradas, mas também dentro da cidade. “O trânsito de Curitiba tem poucas rotas de fuga, então quando as pessoas param para olhar, o trânsito inteiro fica travado e não conseguimos chegar até o local da ocorrência”, explica.
Só um carro parado ou indo muito devagar é o suficiente para causar engarrafamento de quilômetros, enfatiza o major. Com isso, a demora na chegada do serviço de emergência pode custar a vida de alguém. “Cada minuto pode ser a diferença entre a vida e a morte para quem acabou de sofrer um acidente. Por isso os curiosos atrapalham”, aponta o bombeiro.
Quem lida muito com essas situações é o sargento Ednilsson José da Silva, da equipe operacional do Corpo de Bombeiros. “É totalmente inadequado esse tipo de comportamento por curiosidade. Se os motoristas percebem que os serviços de emergência já estão no local,não tem por que parar ou diminuir a velocidade”, opina o bombeiro.
Outras práticas indevidas
Fora a curiosidade, outros comportamentos também atrapalham o atendimento das autoridades. Entre elas, o uso indevido do acostamento das estradas. “Uma vez fomos atender um acidente e como tinha carros usando o acostamento sem necessidade, tivemos que pegar o tráfego normal. Lembro que levamos 6 minutos para percorrer 300 metros. Isso prejudica demais o atendimento”, conta o major Leonardo.
Fotografar ou filmar o acidente também é uma prática reprovável, esclarece o policial rodoviário federal Fernando Oliveira. “Muitas vezes as equipes de emergência nem chegaram e já tem fotos circulando nas redes sociais, e não raro mostrando o rosto das vítimas. É um desrespeito”.