Eleições 2024

Crise de representação: votar nulo ou branco, a anulação vale a pena?

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Nas últimas eleições se tornou comum ver compartilhamentos de mensagens afirmando que o voto nulo ou o voto branco possui o poder de anular uma eleição. Mas isso não passa de uma notícia falsa. A verdade é que o voto nulo ou voto branco não alteram o resultado final do processo eleitoral.

Conforme explica o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), o voto branco é aquele em que o eleitor não possui preferência por nenhum candidato. Já o voto nulo é voltado para os eleitores que se recusam a escolher um candidato, optando por anular o próprio voto.

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Na hora de fazer a contagem dos votos esse tipo de manifestação é registrada, mas não muda o resultado final. Ou seja, alguém ainda será eleito. Nas duas últimas eleições municipais, em 2016 e 2020, alguns curitibanos escolheram essas opções.

Em 2016 a porcentagem foi maior do que na última eleição para prefeito. Em 2016 foram 91.034 (8,45%) votos brancos e 105.349 (9,78%) votos nulos no 1º turno. No 2º turno daquele ano foram 44.834 (4,55%) votos brancos e 117.920 (11,45%) votos nulos.

Já em 2020 mais eleitores optaram por escolher um candidato. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registraram 47.055 (4,99%) votos brancos e 58.780 (6,24%) votos nulos. Mas já que ele não altera em nada, por que algumas pessoas decidem anular o voto?

Doutor em Ciência Política e professor na Universidade Positivo, Eduardo Miranda aponta que podem ser diversos fatores. No entanto, o que ele percebe como justificativa mais presente na realidade brasileira é uma tentativa do eleitor demonstrar que não se sente representado no sistema político vigente.

“Isso a gente consegue por meio de pesquisas, principalmente qualitativas, quando a gente vai investigar as pessoas que votam nulo, no sentido de tentar conhecer e aplicar questionários. [Para] o motivo da pessoa votar nulo ou branco a principal resposta é essa. A gente tem até uma espécie de expectativa porque não é uma realidade só brasileira, é um fenômeno que vem acontecendo ao longo do tempo, essa espécie de crise de representação”, afirma o professor.

Sobre essa justificativa, o cientista político também chama atenção para o comportamento do próprio eleitor antes da votação. “As vezes a pessoa não se sente representada porque deixa para apenas no dia da votação se sentir representada. Ela não constrói um caminho de aproximação com o mundo político anterior e, de fato, se ela tiver que decidir em três, quatro dias em um cenário de muitas opções que ela mal conhece, ela pode sentir essa espécie de frieza, distanciamento do mundo político”, diz.

Por isso, ele aconselha que os cidadãos sempre busquem participar do processo a fim de encontrar um candidato com ideais similares. “O Brasil tem uma realidade política de ampla participação. Tem diversos partidos, várias forças políticas, ideológicas. Se a pessoa participar dos processos mais locais, dos bairros, associações, sindicatos, das instituições sociais que ajudam no coletivo da sociedade, eu penso que essa pessoa automaticamente se sentiria mais próxima de uma ideologia, de um partido, de uma força política com mais facilidade e não se sentiria tão não representada assim”, completa Miranda.

Além disso, o especialista também considera “custoso” abrir mão do voto e não participar do processo eleitoral. “As vezes a gente fica muito passivo. A gente fica esperando uma representação aparecer [na TV enquanto estamos sentados] no sofá da nossa casa. Muitas vezes a gente precisa construir isso com as pessoas que pensam como a gente, que tem a mesma ideia de sociedade que a gente e isso exige um pouco de atitude ativa e não somente passiva”.

Polarização contribui para votos nulos ou brancos?

Miranda acredita que a polarização possui o efeito de incentivar o eleitor a votar, mesmo que ele esteja em um cenário no qual não se sinta representado. Para o professor nem sempre isso possui um significado positivo, visto que acontece porque o eleitor se encontra com opções que não são confortáveis, mas assim, ele se sente “motivado” em escolher um candidato que considera menos pior.

“Então [a pessoa] tem mais incentivos nesse sentido a votar do que votar nulo ou branco, porque votando nulo ou branco ela estaria contribuindo para aquele cenário que ela mesma vislumbra como o pior de todos”, acrescenta.

No dia 6 de outubro cerca de 1.421.372 eleitores devem ir às urnas em Curitiba para votar nos candidatos à prefeitura e Câmara Municipal.

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