A investigação da morte do superintendente da Delegacia de Campo Largo, Marcos Gogola, será encerrada sem responder a duas perguntas: porque ele foi morto, e porque o preso que ele escoltava foi arrebatado.
Na manhã desta quarta-feira (27) foi feita uma reconstituição do crime, a pedido do Ministério Público. A quadra da Rua Dom Pedro II, no Centro da cidade, perto da praça da Igreja Matriz, foi interditada por volta das 8h.
Equipes da Guarda Municipal prestaram apoio ao Centro de Operações Policiais Especiais e ao Instituto de Criminalística, que conduziram a reconstituição, observados pela promotora do Ministério Público que acompanha o andamento do processo.
O secretário de segurança de Campo Largo, Juscelino Bayer, amigo de Gogola, também acompanhou o trabalho da polícia. O primeiro a participar da encenação foi o preso Anderson Luiz Barbosa da Luz.
Ele foi quem conduziu o veículo da fuga. Policiais encapuzados interpretaram os outros integrantes da quadrilha e interpretaram tudo o que Anderson disse que aconteceu naquele dia.
Distâncias foram medidas e depoimentos anotados pelo perito Alexandre Lara. Depois de Anderson, Iago Gonçalves participou. Com muita frieza, ele lançou olhares ameaçadores a quem acompanhava a reconstituição.
Ele alegou que portava um revólver calibre 38 e ficou na entrada do consultório, rendendo uma atendente enquanto os comparsas arrebatavam Dionatan Mendes de Quadros, 23 anos.
O depoimento das testemunhas, entretanto, confronta esta versão. Todos garantem que Iago entrou na área de atendimento do consultório, e que nenhuma funcionária estava na entrada no dia do crime.
Há boatos de que, na cadeia, Iago dizia para os colegas de cela que foi ele quem matou Gogola. O terceiro a fazer a reconstituição foi Jean Fernando Portela de Matos.
Ele negou participação no crime, porém as digitais dele foram encontradas no carro onde a quadrilha fugiu com Dionatan, e ele foi reconhecido por testemunhas como sendo um dos três marginais que entraram no consultório para arrebatar o preso. A encenação continuou com o depoimento de Marcus Vieira Nyhus, o “Chiquito”, o agente de cadeia pública que foi baleado ao lado de Gogola.
Ainda com curativos nas costas e uma cicatriz perto da nuca, ele mostrou como retirou Dionatan da viatura juntamente com Gogola, como entrou no consultório, e tudo o que aconteceu lá dentro. Foi a parte mais demorada da reconstituição. “Chiquito” não quis falar com a imprensa.
Já por volta das 10h, Dionatan chegou em uma ambulância do Departamento Penitenciário, trazido do Complexo Médico Penal. No mesmo dia em que foi arrebatado, ele se envolveu em um confronto com policiais e foi baleado. Ele teve o braço direito amputado e está com vários pinos nas pernas.
Ele foi carregado em uma maca até o ponto onde desceu da viatura no dia do arrebatamento, e lá declarou que não lembra de mais nada do que aconteceu depois que foi levado até a parte interna do consultório. A reconstituição acabou por volta das 11h.
Aliocha Maurício |
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Dionatan disse não lembrar de nada. |
Esclarecimento
De acordo com o delegado Cássio André Dias Conceição, do COPE, a reconstituição ajudou a esclarecer alguns pontos dos quais a polícia já tinha certeza, mas precisava provar materialmente.
“Isso vai ajudar o juiz na dosimetria da pena”, afirma o delegado. O inquérito já havia sido entregue ao MP, mas foi devolvido, com solicitação de algumas diligências, e deve ser entregue novamente nos próximos dias.
Foi possível ,concluir que Pedro Thiago Kochinski Ferreira, o “Semente”, foi quem matou Gogola. Ele morreu no confronto com a polícia horas depois do arrebatamento. Ele efetuou os disparos depois de ouvir Iago dizer “Mata! Mata!”.
Ainda de acordo com as investigações, Iago foi quem atirou em “Chiquito”. Porque ele deu a ordem para a morte de Gogola ainda é um mistério. O policial já estava desarmado e de joelhos quando foi baleado.
Porque Dionatan era tão importante para a quadrilha que foi alvo de uma operação de arrebatamento, também não se sabe ao certo. Alguns dizem que ele tinha dívidas com uma organização criminosa, e outros dizem que ele foi arrebatado para matar outra pessoa.
O crime
Gogola e “Chiquito” acompanharam Dionatan para atendimento em um consultório de dentista na manhã de 5 de setembro. Enquanto Dionatan era atendido, um Kia Seratto estacionou em frente ao consultório.
Um rapaz ficou no carro, e três entraram para arrebatar o preso. Eles mataram Gogola e roubaram a pistola dele. “Chiquito” foi baleado nas costas. A quadrilha levou Dionatan e a arma de Gogola.
À noite, todos foram localizados no bairro Cristo Rei, ainda em Campo Largo. “Semente” morreu no confronto e Dionatan, que estava com a arma de Gogola, foi baleado. Todos os outros envolvidos no arrebatamento foram presos, inclusive os pais de Dionatan, que marcaram a consulta no dentista.
Os pais dele já estão em liberdade. Gogola trabalhava na polícia a 27 anos e deixou a esposa e três filhos. Era um policial admirado e benquisto por colegas e moradores de Campo Largo.