Na Vila Torres

Comunidade escolar protesta em frente a colégio estadual para pedir mais funcionários

O Colégio Estadual Manoel Ribas, na Rua Guabirotuba, na entrada da Vila Torres, em Curitiba, tem merenda para os alunos, mas não tem quem faça. A escola tem mais de 200 alunos, mas, de acordo com os funcionários, não tem professores suficientes. Esses e outros problemas motivou um protesto da comunidade escolar em frente à instituição na manhã desta quarta-feira (23).

O colégio, que tem aulas em período integral, abriu as portas normalmente, mas os alunos não tiveram aulas. Com o protesto, a ideia era mostrar à população os problemas que a comunidade escolar tem enfrentado todos os dias. “Nós temos cinco funcionários, dois para cuidarem da limpeza, dois da cozinha e um para o administrativo. No dia a dia, a gente é até pedagogo, porque não tem quem seja. Se existe uma palavra que defina o que passamos aqui é ‘abandono'”, desabafou a auxiliar de limpeza Leila Sentoni, de 59 anos.

Segundo a mulher, a merenda não falta, nem outros itens básicos, mas manter os alunos na escola tem sido um desafio diário. “Não temos quem faça comida, porque os poucos funcionários precisam ajudar em outras funções. Então, o que adianta ter a comida? Não temos professores suficientes e isso faz com que tenhamos que dar o máximo de esforço para não dispensar os alunos todos os dias”.

Os funcionários contaram à reportagem da Tribuna do Paraná que têm trabalhado pelo menos uma hora a mais todos os dias. “O que nós percebemos é que existe um preconceito muito grande, porque estamos ao lado da Vila Torres. Mas o governo esquece que aqui não temos bandidos, temos crianças e adolescentes em formação, seres humanos, que precisam da gente”, disse a auxiliar de limpeza.

De acordo com quem trabalha no Manoel Ribas, a direção da escola já teve que tirar dinheiro do próprio bolso para comprar materiais como giz para os quadros negros e gás de cozinha. “Sem contar que quando algum professor se oferece para trabalhar com a gente, tem gente que os amedrontam, dizendo que não deveriam vir. Aí os professores vêm e acabam vendo que não tem nada do que falam. Será que é perseguição?”, disse uma funcionária que preferiu não se identificar. 

Os problemas enfrentados no Colégio Manoel Ribas são também estruturais. A manutenção básica da escola, como a poda da grama, por exemplo, teve que ser feita com ajuda. “Foi de graça. A escola só está bonita porque a gente se esforça mesmo, porque se dependêssemos de quem deveríamos, estávamos perdidos”, contou um dos funcionários, que também não quis se identificar. 

O colégio atende alunos do ensino fundamental e médio durante o dia. Os alunos chegam às 8h e só vão embora às 17h. No período da noite, cerca de 80 adultos estudam no sistema EJA (Educação de Jovens e Adultos). “Muitos deles chegam cansados, esperam pelo momento do intervalo para ter algo pra comer, mas não temos quem faça”.

Revolta

A mãe de uma menina de 14 anos resolveu se unir aos professores e funcionários. “Hoje não fui trabalhar, porque o que acontece aqui nesta escola precisa mudar. Daqui a pouco, nos pais teremos que deixar nossos empregos para conseguirmos ajudar a limpar e cuidar da escola. Algo precisa ser feito”, desabafou a vendedora Joanita Kinski, de 62 anos.

A filha de Joanita está no primeiro ano do ensino médio e fica o dia todo na escola. “O colégio é um dos melhores que eu conheço. Apesar todos os problemas e da falta de gente, quem trabalha aqui faz tudo o que faz por amor. O ensino é ótimo e eu me sinto segura em deixar minha filha dentro d,a escola”.

No final da manhã desta quarta-feira (23), representantes da Secretaria Estadual da Educação (SEED) foram até a escola e se mantiveram no interior do colégio em reunião com a diretoria. As aulas no Colégio Manoel Ribas foram suspensas e não devem voltar até que algo seja feito.

Por meio de uma nota, a Secretaria informou a situação da escola. Confira abaixo:

A Secretaria de Estado da Educação informa que o Núcleo Regional de Educação de Curitiba tem realizado chamadas para professores e funcionários temporários para o Colégio Estadual Manuel Ribas. Em 2015, a escola recebeu normalmente recursos do Fundo Rotativo, que serve para aquisição de materiais pedagógicos, de escritório, de limpeza, compra de gás de cozinha, entre outros. A gestão da escola é responsável pelo planejamento, controle e prestação de contas desses recursos.

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