Vendas abaixo da média, desconfiança e receio por parte do consumidor, diminuição do número de postos de trabalho, dificuldades para cobrir os custos operacionais e até fechamento de lojas. Estes são alguns dos problemas enfrentados nacionalmente e também, pelo comércio paranaense, nos mais variados segmentos. Condições que ainda devem demorar para mudar.

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Segundo o presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Antônio Miguel Espolador Neto, com o agravamento da crise, somente no ano passado 5 mil lojas fecharam as portas no Estado. “As vendas estão em queda e as dificuldades financeiras só aumentam. Além disto, prejudicam o setor os juros altos, a inflação e o aumento dos impostos estaduais, como ICMS e IPVA. Ainda assim, a maioria dos empresários trabalhou no limite. Muitos tiveram prejuízo e continuam no vermelho, enfrentando sacrifícios e muita burocracia para seguirem com as portas abertas”.

Para ele, as perspectivas para o futuro são nebulosas. “Neste clima de pessimismo, caso haja aumento da carga tributária, o desemprego e a informalidade podem aumentar. A inflação alta tem corroído o salário da população, aumentado o endividamento e a inadimplência, e freado o consumo. Esperamos que mudanças na política oxigenem a economia. Senão teremos mais empresas em recuperação judicial ou fechando. Sabemos que os próximos dois anos serão de ajustes”.

Prejudicados

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Pontos comerciais em shoppings, lojas de rua, pequenos e grandes comércios têm sofrido com a crise. Até mesmo supermercados e farmácias que vendem bens de primeira necessidade têm registrado diminuição no volume de vendas e no ticket médio das compras. Lojas de grandes redes fecharam as portas em Curitiba em 2015. Os setores mais afetados – e que mais demitiram – são os que vendem bens duráveis e produtos mais caros, como vestuário, lojas de departamento e concessionárias de veículos.

Expectativa é que vendas sigam abaixo da média.

Dia das Mães também vai ser fraco 

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Para o lojista e consultor do Sindicato dos Lojistas do Comércio Estabelecido em Shopping Centers de Curitiba (Sindishopping), Nelson Barbalat, a crise no comércio é algo que não se via há anos. “Estamos tendo dificuldades de toda a ordem. Para se manter, o lojista tem que enxugar custos, deixar de contratar, reduzir estoques e negociar contratos. E isto é uma reação em cadeia, que afeta outros segmentos, como o de embalagens e fretes. Nos shoppings e nas ruas vemos lojas fechadas ou que deixaram de ser inauguradas e isto não é uma exclusividade de Curitiba ou do Paraná, é uma situação nacional”, aponta.

Para o Dia das Mães, período considerado pelo comércio, em termos de faturamento, como um “segundo Natal”, a expectativa é que este ano as vendas sigam abaixo da média, se comparadas com anos anteriores. “Não será diferente do que vimos na Páscoa, que já apresentou uma queda acentuada, com clima de pessimismo e receio. As pessoas ainda comprarão presentes, mas as compras deverão ser de menor valor, concentradas mais próximas do dia 8 de maio”, afirma.

Para incentivar as vendas, a Associação Comercial do Paraná (ACP) criou uma campanha especial para a data. “Para incentivar os consumidores de Curitiba, região metropolitana e litoral, a ACP criou uma campanha, que vai sortear 10 caminhões de prêmios, com cupons entregues a cada R$ 50 em compras”, adianta o presidente da ACP, Antônio Miguel Espolador Neto.

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Houve queda de 8,6% nas vendas no ano passado.

2016 pior que 2015

Para o diretor de planejamento e gestão da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio-PR), Rodrigo Sepulcri Rosalem, os últimos resultados são um termômetro de como anda o comércio. “O que nos chamou a atenção ao longo do ano passado foi a queda de 8,6% nas vendas, no acumulado entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2016. O empresário apesar de sofrer, conseguiu resistir e evitar as demissões até janeiro deste ano. Mas as empresas, especialmente as pequenas, não tem mais como reduzir seus quadros de funcionários. Esta é uma situação que começou em 2014 com uma instabilidade, se intensificou com a crise de 2015 e tem piorado em 2016”.

Rosalem ainda alerta que as dificuldades levam a um grave ciclo vicioso: “o cidadão que não tem trabalho deixa de consumir, o que diminui as vendas no comércio e na indústria, aumentando o desemprego e o fechamento de empresas nestes setores, levando inclusive a um prejuízo para o governo, pela queda na arrecadação de impostos”.

O dirigente empresarial acredita que para que as coisas comecem a melhorar na economia, é preciso que antes exista uma definição do cenário político. “O governo, seja ele qual for, precisa fazer algo. Vivemos em um momento de incerteza. Medidas de austeridade fiscal são fundamentais para que possamos sair desta crise, mas o remédio não pode matar o paciente, ele não pode ser o aumento de impostos. Se algo significativo acontecer em dois ou três meses, teremos um ápice da volta do otimismo. E depois voltaremos à realidade, pensando já em 2017, pois 2016 foi um ano perdido”, ressalta.

Campeão de demissões

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, revelam que 108.017 vagas com carteira assinada foram fechadas no Paraná de março de 2015 a março deste ano, o que corresponde ao pior resultado em mais de 20 anos. Somente no comércio, foram eliminados 18.145 empregos. Apenas em março, foram cortados 1.674 postos de trabalho. O segmento registra o maior saldo negativo no Estado no acumulado do primeiro trimestre de 2016: 7.598 vagas a menos que em igual período do ano passado.

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 95,4 mil lojas encerraram suas atividades em 2015, o maior número registrado pelo setor nos últimos 15 anos. E a situação ainda pode piorar. De acordo com projeções da CNC, o nível de emprego no comércio varejista nacional deve encolher 3,3% até o fim do ano, o que significa o fechamento de mais de 253 mil vagas com carteira assinada.