Medo vem da rua

Comerciantes do Centro não aguentam mais tantos furtos

Os comerciantes do Centro têm medo de perder o lucro do fim de ano para bandidos. Passado o reforço do policiamento nas ruas da Operação Natal, o medo de arrombamentos e furtos volta a tomar conta dos trabalhadores. Muitos atribuem os crimes a pessoas que vivem nas ruas e que, sem policiais para aumentar a vigilância, se sentem à vontade para atacar os comércios.

“Segurança não pode ser só no fim do ano ou em feriado, principalmente na nossa região”, afirma o presidente da associação dos comerciantes da região central, Ibrahim Nasri Youssef. No ano passado, a loja dele foi arrombada duas vezes. “Já tivemos inúmeros estabelecimentos arrombados e não se toma providência nenhuma”, afirma.

Ibrahim atribuiu o perigo à localização do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), da Fundação de Ação Social (FAS), na Avenida Visconde de Guarapuava, em frente à Câmara de Curitiba. “Aumentou a mendicância. Muitas pessoas ficam o dia inteiro incomodando, pedindo esmola”, diz. A falta de iluminação é outro fator apontado pelo comerciante para a maior incidência dos crimes.

Honestos

O comerciante Hikmat Youssef, porém, não acredita que moradores de rua sejam os autores dos crimes. “Um funcionário que reformou uma das minhas lojas dormia no Centro POP. Tem gente boa lá”. Hikmat constatou que o policiamento no fim do ano foi até 40% mais efetivo que em períodos anteriores. Porém, no decorrer do ano, para ele, o número de arrombamentos nas lojas do centro foi maior.

Proprietário de quatro estabelecimentos centrais, teve dois invadidos por ladrões, com prejuízo de cerca de R$ 25 mil. “Houve casos semelhantes em várias outras lojas aqui perto. Já fizemos abaixo-assinado para ter maior policiamento e câmeras de segurança”, conta.

O ano não começou bem para Simone de Araújo, dona de um restaurante na Rua Lourenço Pinto. Em uma semana, o local foi arrombado duas vezes. “Não estou aguentando mais, me sinto abandonada”, desabafa. Por conta do prejuízo, ontem, ela instalou cerca elétrica e não conseguiu abrir o restaurante.

Aumento

Simone também atribui parte dos crimes ao Centro POP. “Estou aqui há oito anos e desde que esse lugar foi instalado, há cerca de dois anos, piorou muito. Eles vêm pedir comida na hora de movimento, xingam a gente e acabam espantando os clientes”, comenta.

Dados da Secretaria de Segurança Pública mostram que, no ano passado, até setembro, foram registrados 5.068 furtos em comércios na capital, 4,92% menos que em 2012, quando foram 5.033 ocorrências dessa natureza. Os números do último trimestre devem ser divulgados somente no fim do mês, pela Sesp.

Problemas

O delegado Rubens Recalcatti, do 1.º Distrito Policial, responsável pela área central, defende a mudança de endereço do Centro POP. Segundo o delegado, pelo menos 50% dos presos do distritos são “vivem nas ruas desordenadamente”, conforme suas palavras. “As pessoas que frequentam o Centro POP rotineiramente causam problemas. Elas usam drogas, ingerem bebida alcoólica nas praças e aí vão para a FAS, onde têm banho e comida”, ressalta.

Recalcatti atribui grande parte dos crimes ao uso e tráfico de drogas. “Furtos e arrombamentos aos comércios e roubos a transeuntes são praticadas por essas pessoas”, diz. Recalcatti admite que a transferência do abrigo pode gerar problema para outra região. “O centro da cidade já é pecaminoso, já tem uma horda de criminosos – estelionatários, traficantes, ladrões e mais essa galera ainda, explode, não há o que aguente”, destaca.

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