Milhares de candidatos em todo o Brasil foram impedidos de fazer a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) neste domingo (17) por lotação das salas de prova. Em diversos estados do país, inclusive no Paraná, os estudantes relatam que foram barrados pelos fiscais de prova com a justificativa de que as salas já tinham atingido a capacidade máxima de participantes. Em Curitiba, não foi diferente.
A professora Danielle Lago, professora da ONG Em Ação, que ministra aulas para alunos sem condições de pagar por um cursinho, recebeu vários relatos de alunos contando que foram impedidos de fazer a prova. “Os alunos foram fazer a prova, ainda que estivessem muito inseguros com o risco da pandemia. No entanto, ao chegar para fazer a prova, dentro do horário estabelecido, foram impedidos de adentrar a sala”, lamentou.
Um deles mandou a seguinte mensagem: “Oi prof, tudo bem? Não sei se você viu sobre os alunos banidos da prova. Infelizmente aconteceu comigo também. Quando estava na porta da sala o fiscal falou que ocorreram mudanças e que apenas 50%, ou seja, apenas 15 alunos podiam entrar, e que era para eu remarcar a prova no site do Enem, pois não poderia fazê-la hoje. Me mandaram para casa. Só que não há nenhuma informação oficial, não consigo contato e nem remarcar. Não sei o que fazer. A professora tem uma ideia ou ou conselho?”, desabafou.
O que mais preocupa, além do descaso, é que os alunos estão perdidos e sem informações. “Não houve nenhum registro escrito de que tais alunos compareceram ao local de prova, no horário estabelecido”, lamentou Danielle, demonstrando preocupação com os próximos capítulos dessa polêmica.
A professora desabafou, pois sabe o esforço dos alunos durante a preparação para a prova, especialmente durante a pandemia. “É uma situação de impotência muito grande. Sei o quanto meus alunos confiam no que eu digo e eu disse a eles que essa prova era importante”, disse. “Eu os ensinei a lidar com o nervosismo, com as inseguranças, com o pouco tempo de prova, mas eu jamais pensei que eles seriam privados do direito de mostrar seus conhecimentos”, reclamou.
E concluiu. “Hoje o sentimento é de impotência, porque eles estão me pedindo ajuda e eu não sei o que dizer, porque nunca pude imaginar algo parecido com isso. E um professor sem respostas é um professor impotente”.
E a responsabilidade?
A distribuição dos candidatos por sala é de responsabilidade do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que havia assegurado ter espaços o suficiente para que todos os 5,7 milhões de inscritos fizessem a prova com segurança.
Uma reportagem da Folha de São Paulo já havia mostrado que o Inep não garantiu que todas as salas de aplicação foram organizadas para receber candidatos até 50% da capacidade dos espaços. A aposta de integrantes do órgão era de que muitos alunos deixariam de ir fazer a prova, o que garantiria baixa ocupação.
O Inep não respondeu sobre os candidatos que foram impedidos de fazer a prova.
Outros casos pelo Brasil
Jhennifer Silva, 24, foi fazer a prova na escola estadual Pedro Malozze, em Mogi das Cruzes. Ela entrou no local às 12h30, meia hora antes do fechamento dos portões, mas foi impedida de entrar na sala.
“Uma fiscal estava segurando todo mundo que chegava, dizendo que eles não tinham mais espaço para nos colocar. Cerca de 60 pessoas na minha escola foram impedidos de fazer a prova”, disse.
A fiscal pediu que os candidatos escrevessem seus nomes em uma lista e os orientou a ligar para o Inep e solicitar a remarcação do exame. “Tenho medo de não conseguir fazer a prova, não me deram nenhum documento que me assegure isso.”
Situação parecida ocorreu em Pelotas (RS), com Arthur Tavares, 19, que também foi barrado de entrar na sala de prova. Ele disse que entrou na escola estadual Sylvia Mello por volta das 12h30.
“Quando entrei já tinha uma fila, com outras 20 pessoas, que estavam esperando para ver se conseguiriam nos realocar. No fim, disseram que não tinha espaço e nos mandaram embora.”