Pouco mais da metade dos curitibanos que fumavam regularmente abandonaram o vício nos últimos anos. O resultado foi apurado em uma pesquisa feita por alunos do curso de Ciências Econômicas da FAE, realizada a pedido da Tribuna do Paraná, e atestam que as políticas públicas de combate ao tabagismo têm atingido boa parte de seus objetivos. A pesquisa exclusiva mostra redução do número de fumantes, mas revela popularização do uso dos dispositivos eletrônicos de fumar, mais prejudiciais do que o cigarro comum.
A pesquisa, realizada em um período de 45 dias entre os meses de maio e junho desse ano, foi respondida por 312 pessoas, que descreveram sua relação com o cigarro e com os dispositivos eletrônicos que ganharam popularidade nos últimos anos – cigarros eletrônicos, PODs e vapes.
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Dessas 312 pessoas, 188 (60,3% do total) afirmaram já ter fumado alguma vez na vida – isso significa que três em cada cinco pessoas entrevistadas já foi fumante, mesmo que de forma eventual. Se esse número chega a ser alarmante, no caminho contrário a pesquisa mostrou que a maioria das pessoas que já fumaram em algum momento da vida abandonaram o vício – 99 desses 188 que já haviam fumado disseram não fumar mais, o que corresponde a 52,7%. E desses 188 ainda restam 89 fumantes.
Mas são desses 89 fumantes que vêm outro número positivo que a pesquisa revelou. Apenas uma pequena parcela não pretende parar de fumar ou mesmo reduzir o consumo. Das 89 pessoas que disseram ainda fumar, 24 afirmaram que pretendem parar; 44 disseram que querem reduzir o consumo; e somente 25 declararam que não mudarão esse hábito.
Percepção de riscos à saúde
O levantamento feito para a Tribuna traz também outros dados alarmantes, especialmente no que diz respeito à percepção dos riscos à saúde provocados pelos dispositivos eletrônicos que substituem o cigarro.
Se os riscos provocados pelo uso do cigarro comum são de conhecimento da grande maioria (68,5% consideram o cigarro muito prejudicial à saúde), o mesmo não pode ser dito, especialmente, em relação aos dois dispositivos que são os mais populares entre os jovens, os PODs (a maioria deles descartáveis após o uso) e os vapes (que são recarregáveis), considerados como versões “evoluídas” dos cigarros eletrônicos.
O grande diferencial desses dispositivos é a infinidade de essências e sabores com que são comercializados, o que causa uma impressão de que seriam inofensivos. Eles são vistos como menos prejudiciais pelos jovens, mesmo tendo, em alguns casos, concentração de nicotina equivalente a até 18 cigarros comuns.
Entre os usuários dos cigarros eletrônicos, 43,8% consideram que o produto traz muitos riscos à saúde. Número que cai para apenas 36% entre os que usam os PODs e para 34,8% entre usuários dos vapes. E vale lembrar que, apesar do uso indiscriminado desses aparelhos, eles têm comercialização proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde agosto de 2009.
Outro dado alarmante que a pesquisa registrou é em relação à idade em que as pessoas começam a fumar. Pouco menos de um quarto (23,8%) das pessoas que dizem ter fumado em algum momento da vida teve contato com o cigarro ou assemelhados com 14 anos ou menos. E outros 55% começaram a fumar na faixa etária de 15 a 18 anos.
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Legislação deve ser mais rígida
Para o vereador Tico Kuzma (Pros), presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba e autor da lei municipal antifumo, aprovada em 2009, a legislação colaborou muito para a mudança dos hábitos da população ao longo das duas últimas décadas, contribuindo também para a preservação da saúde de todas as pessoas que até então eram expostas aos males do tabaco, mesmo sem fumar.
“É importante reconhecer que a lei antifumo ajudou a mudar o hábito de muita gente. À época, a norma foi construída com apoio da Secretaria Municipal de Saúde e o objetivo, mais do que punições, sempre foi preservar a saúde da população e gerar uma cultura de prevenção e educação, prevenindo a iniciação ao tabagismo, principalmente entre crianças, adolescentes e jovens, evitando que os mais jovens entrem no vício.
Quanto aos fumantes, os números do Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde mostram quedas constantes a mais de uma década após a adoção de políticas de combate ao fumo, como a lei antifumo. De qualquer forma, a pesquisa da FAE tem um indicador preocupante na porcentagem de pessoas que afirmam já ter fumado, especialmente se levarmos em consideração que as políticas atuais são pensadas para evitar essa iniciação”, explica o vereador.
Ele ressalta a importância da lei, que proíbe o fumo não apenas nos ambientes fechados, mas em todos os locais de uso comum ou coletivo, evitando a exposição dos não-fumantes às substâncias tóxicas do cigarro.
“Hoje, é impensável as pessoas voltarem a tolerar o consumo de fumígenos em ambientes fechados. Ninguém mais tolera isso. Muita gente fala para mim que deixou de fumar por conta da lei. Os esforços foram acertados, precisam continuar e, inclusive, serem aperfeiçoados”, destaca Kuzma.
Pouca idade
Tico Kuzma demonstra preocupação com alguns outros fatores detectados na pesquisa, como a baixa idade dos fumantes; a difusão descontrolada dos dispositivos eletrônicos; e o fato de que a maioria das pessoas que fumam disseram ter iniciado o hábito principalmente por influência dos amigos; para “curtir”; ou por curiosidade; pela ordem das respostas mais citadas.
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“Ainda que esteja se tornando popular, ressalto que, segundo a Anvisa, a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) são proibidas no Brasil. Esta vedação se deu por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovem as alegações atribuídas a esses produtos.
Em maio deste ano, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou uma Indicação de sugestão ao Poder Executivo de Tico Kuzma alertando sobre os riscos à saúde dos usuários dos DEFs. “No texto, sugeri que a Prefeitura retome a realização de blitze educativas para orientar sobre a proibição do consumo de produtos fumígenos em bares, restaurantes, casas noturnas, bem como em todos os locais fechados. Muitos estabelecimentos não estão fiscalizando e exigindo que as pessoas não usem esses dispositivos eletrônicos, vindo a contrariar a legislação”, alerta o vereador.
O combate aos dispositivos eletrônicos e à falsa impressão de que eles oferecem menos riscos são, na opinião de Tico Kuzma, os pontos principais a serem abordados daqui para a frente, até para que não se percam as conquistas obtidas no combate ao tabagismo nos últimos anos.
“O balanço é o mais positivo possível. A lei antifumo em Curitiba é uma das minhas maiores conquistas na vida pública. É um orgulho saber que pude ajudar tanta gente a largar o vício e evitar que outros entrassem nele”, finaliza Kuzma.
Pesquisa
A pesquisa que levantou os dados sobre os hábitos de consumo de cigarros e seus derivados foi realizada pelo setor de Ciências Econômicas da FAE Centro Universitário, a pedido da Tribuna do Paraná. O estudo foi realizado pelos alunos Bruno Turkot, João Marcon, Camila Prado, Gabriel Torrens, Kenedi Camargo e Nicolas Dacol, sob supervisão do professor Adriano Toledo.
O nível de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro padrão é de 5,53%. Foram aplicados 314 questionários, sendo que 312 pessoas responderam à pesquisa (duas entregaram os questionários sem respostas) – 160 homens e 152 mulheres, com média de idade de 27 anos.