Depois da chacina que tirou a vida de oito pessoas na Vila União, Uberaba, o medo tomou conta de moradores de bairros próximos. No Cajuru, separado do Uberaba apenas pela BR-277 e marcado pelo confronto de gangues de traficantes, boatos sobre toque de recolher se espalham de boca em boca. Com medo de ser vítimas, moradores da região optam por mudar a rotina.
Uma moradora do Jardim Acrópole, que vive no bairro há 16 anos, relatou que a ordem é não por os pés para fora de casa depois das 21h. “Outro dia passou um piá na rua gritando para ninguém sair na rua”, contou. Na Vila Autódromo, o toque de recolher seria a partir das 22h. “A gente escuta falar, mas prefere obedecer em vez de ser morto”, comentou uma jovem.
Igreja
Outro morador da vila disse que, há alguns dias, até os fiéis deixaram de ir à igreja com medo da tal ordem. “A gente ouve falar, mas nunca se sabe quem começa a notícia.”
Na capela Santa Catarina de Sena, a novena foi cancelada na noite de quarta-feira passada. “Foi apenas precaução, pois não podemos colocar nossos irmãos em risco.”
Na creche das irmãs vicentinas, a diretora irmã Itatília Machado disse que a rotina não mudou. “Seguimos os mesmos horários e nossos professores estão trabalhando normalmente”, afirmou. Ela disse também que, no dia seguinte à chacina, a mãe de um aluno foi buscá-lo mais cedo, dizendo que tinha recebido o alerta.
“Foi só essa vez, mas acreditamos que ela estava impressionada pela violência que havia acontecido no Uberaba. Se fosse verdade, outros pais, moradores na comunidade também comentariam.”
Fantasia
De acordo com o tenente Araújo, do 20.º Batalhão da Polícia Militar, frequentemente a polícia recebe denúncias a respeito desse tipo de aviso e todas são averiguadas. “Sempre percebemos que não passa de pessoas querendo alarmar a população.”
O delegado Hamilton da Paz, titular da Delegacia de Homicídios, disse que o toque de recolher é uma fantasia. “Ninguém sabe de onde surge, apenas dizem que um menino passou avisando, ou até mesmo um carro de som, o que realmente é um absurdo. Até hoje, ninguém anotou placa do carro, ou contou quem é esse menino.”
