À espera do martelo

Chacina na RMC pode ficar sem solução e com suspeitos livres

Cinco mortos e quatro suspeitos absolvidos. É assim que pode terminar o processo criminal sobre a chacina de Piraquara, que completou três anos em 23 de abril. Se os acusados forem absolvidos, como sugeriu o Ministério Público (MP-PR), os advogados acreditam que mesmo que novas investigações sejam abertas, o crime nunca terá solução, já que muito tempo se passou e o inquérito policial foi muito falho.

Na chacina morreram o ambientalista Jorge Roberto Carvalho Grando, o irmão dele, Antônio Luís Carvalho Grando, o empresário Gilmar Reinert, o agente penitenciário Valdir Vicente Lopes e o vizinho do ambientalista Albino Silva. Dois meses depois, a polícia apontou que o motivo das cinco mortes era latrocínio (roubo com morte), a mando da ex-mulher de Jorge, Derise Pereira Faria Grando. Na versão policial, como ela sabia que o ex-marido tinha vendido um terreno e tinha o dinheiro guardado em casa, contratou Edival de Souza Silva, que chamou os irmãos João Carlos e Adilson da Rocha, para cometerem o crime. As outras quatro pessoas só morreram porque participavam do churrasco entre amigos.

Cheque

De acordo com o advogado Alexandre Jarschel de Oliveira, que defende os irmãos João Carlos e Adilson, uma das poucas coisas que sumiu da casa foi um cheque de R$ 6 mil, dado por uma massagista a Jorge por conta da compra de um terreno. Mas, até hoje, o cheque nunca foi sacado. A moto zero quilômetro de Gilmar que estava com a chave na ignição, o carro de Jorge, que estava aberto e com o CD ligado, e carteiras e jóias das vítimas não foram levados. Somente o cheque, R$ 150 em dinheiro e um celular sumiram.

Este e outros motivos levaram a promotora Luisa Nickel a pedir ao juiz, em outubro do ano passado, a absolvição dos réus. A prova mais importante que havia no inquérito, explicou o advogado, era o testemunho de um amigo de Jorge. Mais tarde, perante o juiz, a testemunha disse que apenas “tinha ouvido falar” dos acusados.

A Vara Criminal do Fórum de Piraquara confirmou que o processo está concluído e com a juíza Vivian Cristiane de Almeida desde 6 de março, apenas aguardando a sentença. Diante da fragilidade das provas e da recomendação do MP-PR, os advogados acreditam que os quatro serão absolvidos. Neste caso, o MP-PR também já sugeriu que o processo volte à delegacia de Piraquara para continuidade das investigações.

Amarrados e executados

Na noite de 23 de abril de 2011, Jorge, Antônio, Gilmar e Valdir se reuniram na chácara dos irmãos Grando, na Estrada Nova Tirol, Capoeira dos Dinos, para um churrasco. Albino, que era vizinho, saiu de casa para comprar remédio para o filho recém-nascido e parou para falar com os amigos. Foi neste intervalo de tempo, entre 23h15 de sexta-feira e 0h15 de sábado, que o crime aconteceu. A esposa de Albino, estranhando a demora, foi à chácara perguntar se o companheiro tinha passado lá e encontrou todos mortos na residência de Antônio.

Os cinco estavam com as mãos e pés amarrados e foram executados com tiros na cabeça. Jorge ainda teria sido agredido com pedradas na cabeça. Mas a pedra suja de sangue, recolhida no local do crime, disse uma amiga do ambientalista, sumiu do Instituto de Criminalística. A casa estava toda revirada, como se os assassinos procurassem algo.

Cerca de um mês depois, o delegado de Piraquara, Carlos Mastronardi, que averiguava várias linhas de investigação, foi substituído pelo delegado Amadeu Trevisan, que mais um mês depois, rapidamente solucionou o caso como latrocínio e apontou os quatro suspeitos. Neste meio tempo, o superintendente da delegacia, Marco Aurélio Furtado, morreu de ataque do coração em casa. Um dia antes, ele tinha dito que o crime estava solucionado, mas sem revelar detalhe.

Quem também morreu de forma estranha neste período foi Valdir Assis Cabral, o “Polaco”. Até hoje, nunca ficou bem explicada a participação dele na chacina. Ele foi preso numa manhã, foi levado à delegacia e morreu seis horas d,epois no Complexo Médico Penal com sangramentos pelo corpo. O laudo da necropsia apontou meningite como causa da morte.

O advogado Alexandre disse que seu cliente, João Carlos, estava preso na Colônia Penal Agroindustrial (CPA) no horário do crime. Mesmo cumprindo pena em regime semiaberto, a contagem de presos feita pelos agentes penitenciários naquela noite, ao recolher os detentos às celas, não deu falta de ninguém.

Advogados

Para os três advogados que atuam no processo, Alexandre Jarschel de Oliveira, Antônio Pellizzetti e Diego Rodrigo Gomes, há outras hipóteses para investigar, como represália ao agente penitenciário e venda irregular de terras e até comércio de veículos. Para a afilhada de Jorge, a advogada Marília Lucca, o motivo do crime é o ativismo ambiental de Jorge Grando, que era funcionário público da prefeitura de Pinhais, onde foi Secretário do Meio Ambiente. Ele solicitou vários embargos de obras em áreas de proteção ambiental da cidade, que várias incorporadoras e indústrias tinham interesse em explorar, segundo Marília.

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