Moradores e comerciantes do Centro de Curitiba clamam há muitos anos que a região passe por uma revitalização completa, com o fortalecimento do comércio e a melhoria na segurança. A demanda, apesar de antiga, segue sem uma solução concreta. Mas os atores envolvidos na questão concordam que a saída passa, necessariamente, pelo mercado imobiliário.
Imóveis abandonados são uma cena comum na região central da capital paranaense, o que ficou mais evidente após a pandemia de Covid-19. Para evitar grandes deslocamentos, a própria população acabou fortalecendo o comércio nos bairros, forçando o fechamento de diversos estabelecimentos no centro. Da mesma forma, os moradores da área central migraram para outras regiões da cidade, abrindo espaço nos prédios residenciais, que seguem vazios em busca de compradores ou inquilinos.
Para o setor imobiliário, a premissa é simples, apesar do desafio para execução: quanto mais moradores na região, mais o comércio cresce e melhor o centro fica. A dificuldade está em como atrair as pessoas para viverem na área central. Isso porque o próprio mercado defende que não tem condições de alavancar os imóveis e que isso depende do apoio do poder público.
“Precisamos resgatar o círculo virtuoso do centro. Os empreendedores podem receber algum tipo de subsídio para revitalizarem seus imóveis, trazendo pessoas para o centro. Nós trazemos o comércio novamente. E com isso o centro da cidade volta a ser vivo”, defende o coordenador do Conselho de Bairros do Comércio Vivo e Centro Vivo da Associação Comercial do Paraná (ACP), Jean-Michel Galiano.
Hoje, segundo o Índice FipeZAP, os imóveis residenciais da região central estão se valorizando, seguindo a tendência de alta na cidade como um todo. Em outubro, o metro quadrado de um imóvel na região custava, em média, R$ 9.373 — o oitavo bairro mais caro da capital. No intervalo de 12 meses, a variação foi de 17,1%. São números que demonstram o interesse pela habitação no centro, mas que não se consolidam em termos de quantidade.
A diretora da SZL Imóveis, Augusta Coutinho Loch, também ressalta que a revitalização do Centro de Curitiba depende da resolução do problema dos imóveis. Por isso, ela acredita que a prefeitura deve abrir o caminho para facilitar esse processo. “Uma possível solução seria a prefeitura implementar ações para fomentar o uso desses espaços, como facilitar a conversão de prédios comerciais em residenciais e simplificar o processo de emissão de alvarás para estabelecimentos comerciais no centro, mesmo em casos de irregularidades menores”, sugere.
Prefeitura aposta na atualização do Plano Diretor para revitalizar a região central
Em 2025 está prevista a atualização do Plano Diretor de Curitiba, que é o mecanismo que orienta o desenvolvimento da cidade e tem impacto direto na questão imobiliária em todas as regiões. Essa é a ferramenta que a prefeitura de Curitiba aposta para colocar em marcha o plano de revitalização do centro, destravando algumas limitações para atração de investimentos na região.
O vice-prefeito e prefeito eleito, Eduardo Pimentel (PSD), disse à Gazeta do Povo que o Plano Diretor pode incentivar o retorno de familias para o centro da cidade com a construção de empreendimentos como opção para os novos moradores na região central. “Existe também o retrofit, a revitalização de prédios que hoje ou estão subutilizados ou estão abandonados”, acrescentou.
Durante a campanha eleitoral, a revitalização do Centro de Curitiba foi um tema recorrente. O então candidato defendeu a transformação de imóveis comerciais em residenciais, ajudando a ocupar a região, inclusive durante a noite. O comércio curitibano é autorizado a abrir até mais tarde, mas a falta de movimento impede, segundo os comerciantes, que os estabelecimentos estendam o horário de funcionamento, além da questão da segurança.
Segundo Pimentel, outra estratégia que a prefeitura pretende adotar é incentivar os trabalhadores do centro a morarem na região, fomentando o comércio local e reduzindo os deslocamento. “Que a gente possa utilizar como habitação de interesse social as faixas 1 e 2 da Cohab para trazer as pessoas que trabalham no centro com objetivo de melhorar a qualidade de vida, morando perto do trabalho”, planeja.
A diretora da SZL Imóveis, Augusta Coutinho Loch, pondera que a região central de Curitiba tem muitos imóveis tombados, que enfrentam dificuldades de locação e ficam fechados por anos. Para ela, a prefeitura precisa reduzir os entraves burocráticos para incentivar o renascimento desses locais.
“Uma alternativa seria a prefeitura conceder alvarás provisórios, oferecendo um prazo para que os proprietários regularizem a situação dos imóveis. Afinal, imóveis tombados ou localizados em áreas de Interesse de Preservação (UIP) frequentemente apresentam custos elevados para revitalização e recuperação”, comenta Loch.
Ações a curto prazo abrem revitalização do Centro de Curitiba
Apesar de ser considerada urgente, a ocupação imobiliária no Centro de Curitiba não será resolvida em pouco tempo. O prefeito eleito reconhece que se trata de um movimento de médio a longo prazo.
Pimentel garantiu que assim que assumir o mandato, em janeiro de 2025, vai criar uma comissão com diversos atores da região central para discutir as medidas que precisam ser tomadas para revitalização da área. “A curto prazo tem obras de calçada, fortalecimento da iluminação, cuidado com moradores em situação de rua, que é uma pauta importante”, adianta.
Além disso, comerciantes e moradores apostam de imediato na criação do polo gastronômico na rua São Francisco, um projeto que está em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba. Caso o projeto seja aprovado, empreendedores poderão receber incentivos por meio da flexibilização de projetos de caráter provisório.
Com isso, a expectativa é que mais pessoas circulem pela região, inclusive no período noturno. “A partir do momento que o centro voltar a ter vida, as pessoas mal intencionadas vão desocupar a região”, opina o coordenador do Centro Vivo da ACP, Jean-Michel Galiano.
Para ele, outro aspecto que precisa ser colocado na mesa é o incentivo ao turismo na área central para mostrar a parte histórica da cidade, como a Praça Tiradentes, a Catedral Basílica de Curitiba, o Paço Municipal, a Rua XV, e fazer com que mais pessoas movimentem o comércio da região. “Isso é fundamental para toda a sociedade de Curitiba”, completa Galiano.
Leia o conteúdo original na Gazeta do Povo.