É só olhar nas páginas de buscas por imóveis na região do Mossunguê, em Curitiba, para descobrir que o metro quadrado não é barato por ali. No outono, a região costuma ser bastante visitada por causa da Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, famosa rua do outono, onde as folhas das árvores ficam avermelhadas em meio a canaleta dos ônibus biarticulados, como um chamariz para fotografias instagramáveis.
Aproveitando a deixa, a Tribuna foi saber se, de alguma forma, a fama da rua interfere nos preços – por vezes salgados – dos imóveis. A reposta foi sim, mas de maneira indireta. A Deputado Heitor Alencar Furtado, na verdade, serve de incentivo e ganha destaque nos textos dos anúncios e nos argumentos dos corretores.
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“Super valoriza toda a região”, explica a corretora Eliza Dantas, que atua no ramo há 11 anos. Segundo ela, quando os corretores fazem os anúncios, sempre colocam que o imóvel fica próximo da rua do outono. “Essa rua tem um visual lindíssimo, isso atrai mais interessados, com certeza”, completa a corretora.
Mas a Eliza Dantas também explica que, em termos de percentual de acréscimo ao preço do imóvel, por conta da rua, não há uma estatística que comprove a valorização. “Porque o valor do metro quadrado praticado aqui já inclui este benefício e muitos outros. Como, por exemplo, estar perto do Parque Barigui, teatro e faculdade Positivo”, diz ela, apontando que o valor do metro quadrado já é diferente “no finalzinho do Mossunguê”.
O bairro tem sido valorizado já há alguns anos. Há na região inúmeros imóveis de alto padrão, incluindo apartamentos, coberturas, gardens e residências térreas. Algumas das explicações para isso, segundo a Eliza Dantas, é o tempo de deslocamento de cerca de 15 minutos até o Centro e o bairro ser quase que estritamente residencial. “O predomínio é de condomínios imponentes”, finaliza.
Rua do outono
A Deputado Heitor Alencar Furtado se torna uma atração quando as folhagens avermelhadas das 853 árvores passam a enfeitar o outono da rua. Famílias, casais de namorados, noivos, mulheres grávidas e turistas disputam espaço para um registro fotográfico no charmoso endereço. E as folhas já ganharam cor há cerca de dez dias, atraindo muita visita por ali.
Famoso no Instagram, o “corredor vermelho” do Mossunguê ganhou visibilidade Brasil afora por conta das árvores de folhas em forma de estrela que, nessa época do ano, conferem à rua o aspecto bucólico e um visual de encher os olhos, a ponto de transformar a região residencial em ponto turístico. O nome da árvore é complicado: “Liquidambar”. E, na internet, há quem diga que a graça de frequentar aquele cenário está no fato de o endereço “nem parecer no Brasil”.
Conforme destaca Superintendência de Trânsito de Curitiba (Setran), a rua é uma via compartilhada entre ciclistas e motoristas, seguindo projeto do Plano de Estrutura Cicloviária de Curitiba, cuja velocidade máxima permitida já é de 30 km/hora.
Mesmo assim, com a temporada aberta para a captura de imagens instagramáveis a prefeitura de Curitiba pede que as pessoas não entrem na canaleta exclusiva dos ônibus para fazerem fotos. Segundo a administração, essa “conduta imprudente pode causar acidentes e graves atropelamentos”.
O alerta da Urbs, que administra o transporte coletivo na capital, é para que os registros fotográficos sejam feitos apenas da calçada, em locais seguros, longe da canaleta.
E da onde veio a árvore?
Nos idos de 2001, Roberto Salgueiro, engenheiro florestal do Horto Municipal da Barreirinha, ligado à Prefeitura Curitiba, não imaginava que as pequenas mudas escolhidas para a arborização do trajeto que começa nas imediações da Rua Mario Tourinho e segue até o Terminal Campo Comprido, virariam atração turística vinte anos mais tarde.
Foi ele o responsável pela escolha, cultivo e plantio da espécie Liquidambar na cidade. “Naquele tempo a região do Mossunguê começava a erguer-se como polo residencial. Sem muitos prédios e com o longo trecho da canaleta do expresso, a ideia era construir um corredor verde para a passagem do ônibus. Optamos pelo Liquidambar devido à estética e não imaginávamos que, no fim das contas, os tons de vermelho cairiam tão bem à rua”, revelou em uma entrevista dada à Tribuna há alguns anos.
Importados dos Estados Unidos e plantados quase artesanalmente pela equipe da prefeitura, oitocentos e cinquenta e três Liquidambares – que levam o nome por conta da resina cor de âmbar que produzem – foram instalados um a um, a cada dez metros, às margens da rua. “A gente ia subindo a pé fazendo as marcações para cada árvore. Os recursos eram diferentes naquele tempo. Hoje a gente usa um spray que torna tudo bem mais prático”, lembra Roberto que, a princípio, tinha em mente plantar as mudas na Rua Padre Anchieta, no Bigorrilho.
No fim das contas, elas adaptaram-se melhor lá mesmo, no Mossunguê. “Jamais imaginei que as árvores fossem agradar tanto e que se tornariam cenário para as fotos de tanta gente. Fico emocionado ao saber que o público de Curitiba valoriza a paisagem local com tanto carinho”, disse Roberto na entrevista.