A situação de Sofia, Manchadinho e Gaúcho, os três cachorros que moram no Terminal do Bairro Alto, em Curitiba, foi resolvida por apenas dois dias. Na última sexta-feira (1º), a Tribuna publicou uma reportagem com relatos de passageiras do transporte coletivo que afirmaram que fiscais da Urbanização de Curitiba (Urbs) estavam dizendo que retirariam os cães de lá e jogariam fora a ração e outros pertences dos animais.
Moradora da região, Maria Vitória procurou a reportagem novamente para contar que no fim de semana o latão que continha a ração doada pelos usuários do transporte foi devolvido ao local em que ficava, dentro do armário de vassouras do terminal.
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No entanto, já na segunda-feira (04) o latão foi novamente retirado por um fiscal da Urbs. Inclusive, Maria Vitória afirma que nesse dia ele colocou a ração para fora do terminal, em um espaço desprotegido.
“Eu não sei o que está acontecendo, qual é o problema? Por que não querem que [a ração] fique em um pedacinho da sala onde ficam as vassouras, para dentro do terminal? Onde estaria protegida da chuva, de roubo e tudo mais”, desabafa.
Ela revela que uma veterinária que mora perto do terminal recolheu o balde com 20 kg de ração e agora, durante essa semana, as duas estão se revezando para levar a comida para os três cachorros. Mas para isso elas precisam entrar no terminal e pagar a passagem.
E aí, Urbs?
Na primeira vez que foi consultada sobre a situação, a Urbs afirmou que não havia nenhuma determinação para retirar os cães do local. No entanto, em uma nova nota enviada para a Tribuna nesta quarta-feira (06), a Urbs revela que os fiscais são instruídos a coibir o armazenamento de qualquer tipo de alimento e/ou ração dentro de pacotes ou recipientes que não seja de consumo imediato dos cães comunitários dentro dos terminais.
De acordo com o órgão, os fiscais também são orientados a não permitir a inclusão de qualquer tipo de casinha, cobertores, comida ou água de novos animais que não têm o devido acompanhamento pela Rede de Proteção Animal. O objetivo é evitar que a população seja motivada a aumentar o abandono desses animais.
A Tribuna procurou a Rede de Proteção Animal da Prefeitura de Curitiba que confirmou que Sofia, Manchadinho e Gaúcho são devidamente acompanhados por eles. Sobre o armazenamento do alimento, a rede diz que não pode interferir no local onde será colocada a ração.
Cães deveriam ser cuidados pela Prefeitura
Um projeto da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba (SMMA) de 2017 chamado Cães Comunitários se responsabilizou em identificar, castrar, vacinar e manter monitorados os cães que vivem em terminais de Curitiba.
Na época, o projeto foi divulgado pela própria prefeitura e recebeu recursos de R$ 200 mil, aprovados pela Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná (FAP), numa parceria também com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Confira o comunicado da Urbs na íntegra:
“A Urbs esclarece que, segundo o Projeto Cão Comunitário, gerido pela Rede de Proteção Animal, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o cão comunitário é aquele que, apesar de não ter proprietário único e definido, estabelece vínculos de dependência e manutenção com a população onde vive; já reside há algum tempo no local (estabelecido), é bem adaptado e possui, no mínimo, dois mantenedores responsáveis (com a devida assinatura do termo de compromisso); é devidamente identificado, cadastrado e castrado, tendo a assistência e cuidados veterinários, básicos e emergenciais prestados pela Rede de Proteção Animal; possui monitoramento e cuidados diários pelos seus mantenedores.
Da mesma forma, é função do empregado público, fiscal do transporte coletivo, dentre todas as atividades relacionadas, além de garantir a fluidez da operação, verificar as condições de conservação e asseio dos Terminais de Integração, adotando as ações necessárias quando constatada alguma irregularidade, a fim de garantir local adequado a utilização dos passageiros.
Os fiscais têm ciência da manutenção dos cães comunitários, os quais têm o devido acompanhamento com a manutenção de casinhas e ou camas de pneus, além dos potes de água e comida. Há convivência pacífica em diversos equipamentos urbanos entre os cães comunitários e os seus tutores, sem quaisquer interferências das equipes de fiscalização que apenas fazem o acompanhamento visual habitual.
Entretanto os fiscais são orientados a não permitir a inclusão de qualquer tipo de casinha, cobertores, comida ou água de novos animais que não têm o devido acompanhamento pela Rede de Proteção Animal para evitar que a população seja motivada a aumentar o abandono desses animais.
Assim como são instruídos a coibir o armazenamento qualquer tipo de alimento e ou ração dentro de pacotes ou recipientes que não seja de consumo imediato dos cães comunitários dentro dos terminais. A medida visa evitar a proliferação de pragas como roedores, baratas e pombos, o que pode comprometer não apenas a saúde desses animais, mas também da população que utiliza esses espaços.
A Urbs pretende reforçar essa orientação junto aos protetores por meio de uma ação conjunta com a Secretaria de Municipal de Meio Ambiente, através da Rede de Proteção Animal.”