“Já estamos numa pandemia, mas uma situação de roubo todo dia ninguém aguenta”. Esse é o desabafo de Marcelo José Cristovão, proprietário de um restaurante no Bigorrilho, em Curitiba. Desde março, quando os primeiros casos de covid-19 foram registrados na capital, seu estabelecimento foi arrombado sete vezes – um prejuízo que ultrapassa R$ 10 mil.
Infelizmente, Marcelo não é o único empreendedor de Curitiba a ter a frustração dupla de ter o estabelecimento fechado e arrombado durante a pandemia. Outros tantos donos de bares e restaurantes vem sofrendo com a violência desde o início da crise do coronavírus.
Na madrugada da última terça-feira (19), um homem que tentava roubar o restaurante de Marcelo foi preso em flagrante pela Polícia Militar (PM). Ele é suspeito de ter praticado arrombamentos anteriores no local. Mesmo com a prisão em flagrante, o empresário ainda se sente inseguro.
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“Estou gastando com mais segurança para ver se consigo coibir a situação. É arrombamento quase que diariamente. Levaram computador, levaram notebook, bebidas, perdemos muita carne. Como vamos coibir? Se o poder público não apoia, fica muito difícil”, conta o empresário.
Segundo Marcelo, é difícil lutar contra a falta de segurança sozinho. “Não tem o que fazer. Eu sou pequeno, não sou nada. Minha recomendação é para que esses que forem presos fiquem realmente presos”, cobra.
A falta de impotência também vem de outros empresários. Com medo, dois donos de restaurantes que sofreram arrombamentos nos últimos dias não quiseram dar entrevista.
De acordo com a Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba (SindiAbrabar), os proprietários de Curitiba pedem socorro e também providências para acabar com a onda de arrombamentos e roubos nas regiões do Centro, Juvevê, Alto da Glória, Cristo Rei, Bigorrilho e Água Verde.
“Estamos alertando desde o início da pandemia que isso vem aumentando. Alguém tem que tomar uma providência, os empresários estão nos cobrando e temos que ajudar a resolver esses casos”, explica Fabio Aguayo, presidente do SindiAbrabar.
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Segundo ele, a situação da falta de segurança só agrava a situação financeira e mental dos empresários, que estão tentando sobreviver com todos os transtornos provocados pela pandemia.
Atearam fogo
Na noite desta quinta-feira (22), Gabriela Carvalho, proprietária do restaurante Quintana, no Batel, recebeu uma ligação que deu “um nó na barriga e outro no coração”. O Corpo de Bombeiros ligou avisando que estava controlando um incêndio em seu restaurante.
“Meu vizinho percebeu que alguém botou fogo e chamou os bombeiros. E hoje ele me falou que presenciou várias vezes pessoas tentando entrar, para roubar bebida, besteiras”, conta a proprietária. As chamas queimaram a fachada do restaurante, com toldo de lona e plantas, e estourou vidros. Os suspeitos não chegaram a levar nenhum pertence de dentro do estabelecimento.
Diante a situação, Gabriela faz um desabafo: “além de todas as dificuldades, do risco do vírus e do comprometimento financeiro, agora tem que lidar com esse tipo de invasão”. E com a falta de segurança, a empresária sente que a situação ainda vai se agravar. “Eu to quebrada por uma dezena de meses, agora tenho que investir em segurança. É um reflexo de um país enfraquecido na sua raiz”, conta.
Disfarçados, roubam durante o dia
No último sábado (16), por volta das 10 horas da manhã, um bar no bairro Água Verde foi roubado por ladrões disfarçados de carrinheiros. “Eles entraram pelo estacionamento atrás do bar. Tiraram uma ferramenta de dentro do carrinho e quebraram o cadeado, abriram o portão”, conta o proprietário da casa, Alessandro Reis. A dupla levou uma geladeira no carrinho de reciclados, disfarçado com caixas de papelão por cima.
A situação não foi a única no mesmo estabelecimento. Três dias antes, o bar também foi alvo de outra situação inusitada. “Uma pessoa foi na frente do bar, roubou o cadeado, arrancou parte da fiação e ainda defecou na rampa do estacionamento. Está bastante complicado”, revela o empresário. Segundo ele, as autoridades precisam ajudar reforçando o policiamento com as ruas vazias durante a pandemia.
Além da falta de segurança, o dono do bar conta que ainda precisa lidar com a crise econômica. “É muito complicado. Eu tenho 53 funcionários e quase 90% da equipe está afastada. Eu estou me virando do jeito que posso. Faço delivery e venda no balcão, que não representa 10% do faturamento. Ainda tem o dito financiamento que o governo estava prometendo, mas nem 1% dos empressários está conseguindo. Não tem outra alternativa senão começar com as demissões”, conta Alessandro, desanimado.
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Com a casa há 23 anos aberta, o empresário se vê num beco sem saída. “A gente fica extremamente chateado porque a ajuda não está vindo. Aí é geladeira quem tem que pagar, fiação para reconstruir, trocar o motor do portão, fazer nova grade para evitar tudo isso. Não está entrando nada e ainda tem que gastar”, salienta.
O que diz a polícia
De acordo com o SindiAbrabar, a maioria dos casos de arrombamentos tiveram Boletins de Ocorrência registrados na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). Em nota, a Polícia Civil diz que todos as queixas registradas estão sendo investigadas.
Também em nota, a Polícia Militar disse que o policiamento preventivo é feito constantemente em toda a cidade, abrangendo também áreas comerciais. O 1º Comando Regional readequou o policiamento feito pelas Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) para reforçar o atendimento dos casos de arrombamentos e roubos pela cidade.
A PM orienta que a população faça denúncias e acione a Central 190 por telefone ou aplicativo ao perceber situações de crime. O Boletim de Ocorrência também é importante ser feito, pois direciona a aplicação das equipes policiais nas ruas.