A briga entre um motorista de ônibus e o dono de um Honda Civic sexta-feira (22) escancarou um problema antigo dos moradores da Rua Maurício Nunes Garcia, no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. O local é ponto de reclamação dos motoristas do transporte coletivo, que muitas vezes são obrigados a parar no meio da rua para embarcar/desembarcar passageiros por causa dos veículos estacionados no ponto de ônibus – exatamente o que foi flagrado no vídeo feito por um morador do prédio vizinho e que viralizou nas mídias sociais.
“Aqui é complicado demais. Isso acontece faz tempo. As pessoas que param o carro no ponto ainda reclamam da gente, ameaçam, xingam e neste caso deu briga”, atesta o motorista Celio Machado, que atua na linha Alcides Munhoz/Jardim Botânico, que atende os moradores do bairro. “Pior para os idosos que correm risco ao descer da plataforma. Todo dia tem um carro parado aqui”, complementa Celio.
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Sandro Antunes, motorista de ônibus que aparece se defendendo do dono do Honda Civil no vídeo, afirma que foi agredido após ter de desembarcar duas pessoas no meio da rua. “Nosso procedimento dentro a empresa nestes casos é registrar com fotos para que algo seja feito. Neste momento, o cidadão saiu da casa do amigo e já começou a me xingar. Me chamou de vagabundo e outras coisas pesadas. Ele me agrediu com socos e tentei me defender”, relata.
Sandro voltou nesta segunda-feira (25) ao trabalho na linha Alcides Munhoz/Jardim Botânico, na qual atua há três anos. Ele espera não ter mais problemas após o confronto lamentável a que foi exposto. “Estou bem abalado emocionalmente. A imagem da briga não sai da memória. Sei que não fiz a coisa errada, mas deixa a gente pensativo”, lamenta o motorista do ônibus.
O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) vai prestar queixa contra o dono do Honda Civic na Polícia Civil. Além disso, prestará suporte psicológico e jurídico a Sandro. “Este fato trouxe uma revolta para a categoria. Os trabalhadores estão sofrendo uma pressão muito grande. Infelizmente, isso é muito comum”, afirma o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira.
Placa retirada
No ponto onde houve a briga sexta-feira havia uma placa que sinalizava que somente o ônibus tinha permissão para estacionar no local. Entretanto, ela não está lá há algum tempo. “Não sei se a placa foi retirada por alguém na madrugada, mas ajudava um pouco. No entanto, muitas pessoas paravam mesmo com a placa”, relata Jair do Nascimento, 72 anos, morador do prédio em frente ao ponto.
Mesmo sem a placa, a cobertura do ponto de ônibus segue no local, o que é um indicativo mais do que claro de que ali é local de parada do transporte coletivo. Além disso, a faixa amarela pintada no asfalto também indica que ali é proibido estacionar.
Retirada do ponto
Depois da polêmica, a vizinhança espera que o ponto final da Linha Alcides Munhoz/Jardim Botânico não seja removido. “Isto seria um enorme erro. Não podemos pagar pelo que aconteceu com os outros. Os passageiros aqui na grande maioria são pessoas idosas e até com dificuldade de locomoção”, argumenta Jair.
A reportagem da Tribuna do Paraná entrou em contato com a Urbs, empresa municipal que gerencia o transporte coletivo de Curitiba, que informou não existir projeto para alterar o ponto de ônibus de lugar.