A depiladora Samanta Roberto, de 43 anos, atende uma média de sete clientes por dia. Às sextas-feiras, chega a atender mais de 20 mulheres. “Em época de feriado e dias quentes, tem cliente o dia inteiro”, conta a profissional que está há 23 anos na área. Em um mês, tira de R$ 7 mil a R$ 8 mil de salário. Uma pesquisa do instituto Qualibest revelou que 97% das mulheres brasileiras fazem depilação íntima – uma particularidade de um país com quase 7,5 mil quilômetros de litoral e clima predominantemente tropical.

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A constatação de que as brasileiras visitam mais a maca das depiladoras do que a sala dos ginecologistas inspirou um projeto inovador em Curitiba. O curso de Medicina da Universidade Positivo (UP) criou o programa “Depiladora Amiga”, para capacitar profissionais de depilação com informação a respeito de sintomas de doenças sexualmente transmissíveis e também com orientações sobre o funcionamento das unidades de saúde. Dessa forma, as depiladoras podem estimular suas clientes a realizarem consultas e exames preventivos.

A primeira edição do programa aconteceu em 2015 e os resultados já puderam ser notados, com aumento do engajamento da população no atendimento ginecológico. “A prevenção é o melhor e mais seguro caminho para manter a saúde, principalmente das mulheres, que têm alta incidência de doenças como câncer de mama e de colo de útero, por exemplo”, explica a professora de Saúde da Família da UP, Andressa Gulin, que criou o projeto em conjunto com a enfermeira Tatiane Herreira Trigueiro, também professora na universidade.

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As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) estão entre os maiores desafios a serem superados por profissionais de saúde de todo o mundo. Dados do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde apontam que cerca de 1 milhão de brasileiros são infectados por DSTs a cada ano.

Em 2016, o projeto tomou força e, além de informar sobre as DSTs e equipamentos de proteção para o trabalho profissional, o curso capacita as depiladoras a identificarem sinais de violência contra a mulher. Tatiane explica que o papel da depiladora, que normalmente tem bastante intimidade com suas clientes, é o de identificar se a região íntima é sadia.

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Nos casos negativos, a cliente é orientada a buscar atendimento no serviço de saúde. “Graças ao vínculo com suas pacientes, a depiladora tem um grande potencial e pode se tornar uma promotora de saúde”, destaca. Ouzanas Maria Félix, que trabalha como depiladora há 12 anos, gostou muito da proposta do curso, por proporcionar mais capacitação para o seu trabalho cotidiano. “A gente costuma ter muita liberdade com as clientes e quando elas vêm com dúvidas sobre infecção ou algum outro problema, eu já recomendo a buscarem a ajuda de um profissional de saúde”, argumenta.

Treinamento

A última etapa da capacitação das depiladoras aconteceu no dia 28 de novembro, com profissionais dos distritos Santa Felicidade, Boa Vista e Matriz. Na próxima segunda-feira, 5 de dezembro, o curso gratuito será oferecido no auditório do Hospital Zilda Arns, para as profissionais que atuam nos distritos sanitários Pinheirinho, Tatuquara e Bairro Novo.

Tatiane salienta que a intenção não é de que a depiladora faça um diagnóstico, mas sim que oriente outras mulheres a procurarem a unidade de saúde. Durante 4 horas, as 150 depiladoras participantes serão orientadas por médicos e enfermeiros sobre anatomia, lesões em região inguinal, fluxograma em unidades de saúde, técnicas de depilação, equipamentos de proteção, informações sanitárias, como identificar sinais de violência contra a mulher e como encaminhar clientes para atendimento nas unidades. Interessadas podem buscar informações nas unidades de saúde ou pelo telefone (41) 3350-9335.

Assista ao vídeo sobre o projeto:


Serviço
Curso de capacitação “Depiladora Amiga”
Data: 5 de dezembro de 2016, das 9h às 12h
Local: Hospital Zilda Arns (Rua Lothário Boutin, 90 – Pinheirinho – Curitiba – PR)