Um desvio para a realização das obras nas rachaduras do km 33, da BR-277, está “acabando” com o sonho da empresária Median Pereira, 39 anos, dona de uma lanchonete na beira da estrada, no sentido Litoral do Paraná. A rodovia tem dois trechos críticos em obras. O segundo fica no km 42, onde ocorreu um deslizamento de terra no ano passado.
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Após esses problemas na rodovia – e uma sequência de dias chuvosos ao longo do último verão –, a BR-277 tem sofrido várias interdições totais ou parciais. O mesmo ocorre em outras estradas que ligam Curitiba ao Litoral, como a BR-376 e Estrada da Graciosa.
“Não sei até quando vou conseguir manter as contas”
Sabe-se que obras costumam causar transtornos, mas quando o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) iniciou o serviço no km 33, a vida da Median Pereira deu uma guinada de 180 graus, só que para pior. “Não aparece mais nenhum cliente. Eu não desisto, abro todos os dias, mas não sei até quando vou conseguir manter as contas em dia. Aluguel. água, luz, internet e boletos de fornecedores”, lamenta a empresária.
O desvio para obras que o DNIT abriu no trecho do km 33 corta, justamente, a lanchonete da Median. “Bloquearam o meu acesso. Simplesmente, nenhum motorista pode entrar aqui. Do outro lado da BR, a outra lanchonete concorrente funciona normal. Poderiam ter pensado nisso. Abrir um desvio que não acabasse com o meu negócio”, reclama.
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No trecho, visitado pela equipe da Tribuna no último dia 16, há mesmo a impressão de que o DNIT somente se preocupou com a obra e segurança da passagem de motoristas, mas não com o impacto que o serviço de reparo de rachaduras teria na economia da região, principalmente com a lanchonete da Merian.
O estabelecimento funciona há dois anos sob a gerência dela. Foi aberto por causa dos filhos. “Queria ter um serviço próprio. Eu sempre fui empregada, não tinha aquele contato com eles, que a gente ficasse junto A família, minha mãe, meu pai. É a realização de um sonho que está ameaçada”, diz a Median.
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A família ajuda no negócio. A filha, de 13 anos, o filho, com 19 anos, e os pais dela. A Median ainda tem uma filha de 3 anos. O marido trabalha fora. Segundo a empresária, antes do fechamento do acesso, com desvio do DNIT, eram vendidos entre 30 e 40 almoços, fora as marmitas e lanches. Na temporada do verão, o número aumenta por causa dos turistas. A lanchonete abre 6h30.
“Os clientes já eram amigos. São motoristas que aguardavam o agendamento do Porto de Paranaguá. Além da refeição, tinha aérea de banho e descanso. Pela manhã, o ônibus escolar também parava por aqui. Criançada fazia lanche, na ida e na volta. Agora, até isso está perigoso. Para ir pra escola, a criançada tem que cruzar rodovia ou descer até o retorno. Eu morro de medo e, por isso, passei a levar a minha filha”, lamenta.
No dia em que a equipe da Tribuna esteve lá, Median comemorava a venda de cerca de 10 almoços e 11 marmitas, servidos aos trabalhadores que atuam no km 33. “Foi bom, graças a Deus. Mas eu queria continuar trabalhando igual eu estava. Já estive mais nervosa, mas prefiro pensar que, uma hora ou outro, vai aparecer uma solução”, finaliza.
DNIT
Procurado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o impacto social do desvio. O órgão afirma que trabalha para recuperar o pavimento de forma mais breve possível, mas não se posiciona sobre os prejuízos aos comerciantes da região.
Já sobre as obras no km 33, o DNIT informou em nota enviada na última sexta-feira (24), que o projeto está em fase final, e tem como objetivo realizar a contenção do aterro. Neste momento, os serviços de instalação de dreno profundo, no local, estão sendo concluídos.