Coceira, aflição e pano para afugentar a enorme quantidade de mosquitos. A cena é comum no fim da tarde de verão no Parque São Lourenço, um grande espaço público que costuma atrair famílias em busca de tranquilidade, mas que estão voltando para casa com marcas e inchaços de picadas.

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A fama de vilão é do borrachudo, mas a culpa é da “borrachuda” (fêmea). É ela que provoca o terror nos pais que desejam evitar marcas nas crianças. O repelente é a principal forma de combater a inimiga, mas nem sempre passando dá certo, pois uma pequena parte do corpo sem proteção, é picada na certa.

Digo isso por experiência própria. No último sábado (04), levei ao lado da esposa, o filho para o São Lourenço, perto de casa. Em todos os pontos do parque, é fácil notar os frequentadores balançando os braços ou se coçando. No parquinho com areia e brinquedos, acredito que os borrachudos ficam mais à vontade, uma espécie de resort com tudo incluso.

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Os insetos tem sangue novo (crianças), misturado (adultos) e versão retrô dos avós. É um rodízio perfeito e quem paga a conta são os humanos. O passeio que era para ser divertido até foi, mas o pequeno voltou com a orelha parecendo um lutador de jiu-jitsu de tão inchada e vermelha. Com o uso de pomadas, voltou ao normal depois de 48 horas.

Biologicamente, o ciclo de vida do borrachudo (a) tem quatro fases. Começa com os ovos, postos pela fêmea no rio, que três dias depois passam à larva, tornando-se adultos 25 dias depois. A fêmea faz de 3 a 6 posturas por ciclo de vida, sendo que em cada uma são de 200 a 600 ovos, com fecundidade acima dos 95%.

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Hematófogo, o borrachudo precisa de sangue para a maturação dos ovos, ou seja, é aí que entra o perigo. O deslocamento dos borrachudos pode chegar a 40 quilômetros, mas os insetos tem pertinho o que precisa.

No São Lourenço e outros parques de Curitiba que possuem rios, o mosquito faz a festa. A vítima percebe que foi picada quando ocorre uma reação alérgica, causando incômodo, trauma, coceira e alergia. A picada da fêmea pode resultar ainda em doenças como a oncocercose e a mansonelose. 

Existe um biolarvicida, feito a partir da bactéria Bacillus thuringiensis, que pode ser utilizado para o controle dos borrachudos. Ele é chamado de BTI e é usado em várias cidades do Brasil. O BTI tem toxicidade seletiva às larvas dos borrachudos. Ele não contamina as plantas nos rios, não contamina o ambiente e não causa danos aos outros organismos. A toxina só é liberada dentro do sistema digestivo do borrachudo, que deixa de se alimentar e morre.

Preocupação fora dos parques

Foto: Átila Alberti

A preocupação com os borrachudos não é de agora. Em 2024, o assunto foi debatido na Câmara Municipal de Curitiba. Na oportunidade, Fernanda Gaensly, doutora em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Formédica sugeriu que a aplicação da larvicida deveria ocorrer com mais frequência na cidade.

“A minha recomendação seria até uma aplicação semanal, no primeiro mês, progredindo para aplicações quinzenais, por três meses, para se pensar depois em aplicações semestrais. Mas, nesse início, precisa ter aplicação em múltiplos pontos, com auxílio da comunidade, porque Curitiba é permeada por muitas nascentes e riachos. Aplicações pontuais não são suficientes para conter os borrachudos”, afirmou Fernanda.

Outra forma de fazer o controle dos borrachudos é retirar entulhos dos rios, mas pouco deve alterar o ritmo frenético dos insetos em um lugar que já tem uma superpopulação de borrachudos. “Estamos deixando de aproveitar a cidade. Precisa de investimento planejado, aproveitando que a população está cada vez mais engajada em ajudar, e pode auxiliar na aplicação do BTI”, sugeriu a especialista.

E aí prefeitura?

Em nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente informou que segue aplicando larvicidas biológicos nos locais com maior incidência de borrachudos (simulídeos) a cada 15 dias. Nas regiões tratadas, constatou-se a redução da proliferação de simulídeos através do monitoramento quantitativo das formas imaturas. O trabalho vem sendo executado ininterruptamente, independente da estação do ano, pois é a constância que gera os resultados esperados.

O trabalho é feito por equipes de limpeza dos rios nos Parques Barigui, Tingui, São Lourenço e demais rios pertencentes às Bacias Passaúna, Belém e Barigui que abrangem os bairros Lamenha Pequena, Santa Felicidade, Cascatinha, Santo Inácio, Mossunguê, São João, Taboão, Abranches, Vista Alegre, São Lourenço, Pilarzinho, Bom Retiro e Boa Vista.

“Nos locais onde há a aplicação do larvicida biológico (BTI), de acordo com os procedimentos recomendados pelo fabricante, o produto tem se mostrado eficaz com a redução da população de imaturos em mais de 90%”, comunicou a prefeitura.

Ainda na nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, reforçou que desde início do Programa de Controle aos Borrachudos, em 2023, até o presente momento, a regional de Santa Felicidade apresentou redução de 57% do índice de solicitações registradas por meio da Central 156.

Como se proteger?

O repelente é fundamental, e uma dica é bem importante. Antes de se proteger dos mosquitos, passe o protetor solar. Prefira em forma de creme, pois não evapora. A partir disso, passe o repelente que pode ser em spray.

Priorize os repelentes com Icaridina, a substância mais recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS); e se possível, roupas de algodão fino e de mangas compridas.