Que triste

Bebê morre depois de esperar por 7 horas por vaga na UTI

Sete horas de espera por uma vaga em UTI neonatal resultou na morte de um bebê de apenas 47 dias, na manhã de ontem. Davi Luccas Alves não resistiu à terceira parada cardiorrespiratória e morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Boa Vista.

A mãe, Kelli Jucoski Alves, 32 anos, contou que Davi teve uma parada no início da madrugada e a família chamou o Samu por volta de 1h45. Por telefone, os atendentes do Samu foram orientando a família, que conseguiu reanimar a criança ouvindo as orientações. Logo em seguida, o Samu chegou e o bebê teve outra parada na ambulância, mas foi reanimado.

Kelli disse que ficaram bastante tempo rodando a cidade, enquanto os atendentes do Samu iam tentando via rádio uma internação. Depois que o Samu deixou a família na UPA, Davi teve a respiração mantida com inalador e estimulação manual e, por volta das 4h, estava estabilizado e normal. Mas teve outra parada respiratória às 6h e seu quadro foi piorando.

“Toda a equipe da UPA estava tentando a internação. As enfermeiras ligavam a todo instante para a Central de Leitos e direto nos hospitais. Até os médicos gritavam no telefone implorando por vaga”, relatou a mãe. Neste meio tempo, a família encontrou vaga. Mas era um hospital particular, o Vita da BR-116, que acreditava que a criança precisava de pelo menos 10 dias internada. Mas a condição para internamento era o depósito antecipado total, de R$ 65 mil, dinheiro que o casal, ela cabeleireira e ele motoboy, não tinham disponível. Às 8h, um leito público vagou pela central de leitos, no Hospital do Trabalhador. Mas Davi faleceu tão logo veio a notícia.

Todo esforço

A Secretaria Municipal de Saúde explicou que desde que o Samu chegou à casa da família, no Abranches, e constatou o estado da criança, a Central de Leitos foi acionada. Davi era prioridade e a primeira vaga que aparecesse era dele. Até mesmo um helicóptero foi mantido de sobreaviso no aeroporto do Bacacheri para transportá-lo, quando surgisse a vaga.

Mas, como não é comum os médicos em hospitais darem alta a pacientes durante a madrugada, diz a secretaria, apenas às 8h é que a primeira vaga apareceu. Só que quando surgiu o leito, outro fato impediu a remoção do bebê. Segundo a secretaria, só é possível transportar um paciente quando ele está estabilizado. E como Davi teve uma terceira parada cardiorrespiratória às 6h e seu quadro só piorou, não era possível removê-lo.

A secretaria diz que, mesmo que a remoção fosse possível, o quadro de saúde de Davi era muito grave e talvez nem a internação na UTI poderia reverter o quadro.

Vagas

No fim da tarde de ontem, a Central de Leitos tinha 18 vagas de UTI neonatal disponíveis em Curitiba. Carmem dos Santos, diretora de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde, disse ao Paraná TV 2.ª edição, da RPCTV, que verificou os relatórios tanto da Central de Leitos, quanto da Central do Samu, e acredita que nenhum procedimento foi errado neste caso.

A Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba, do Ministério Público, vai investigar não somente a demora para se conseguir uma vaga na UTI, como também a atitude do hospital particular em exigir o depósito adiantado de R$ 65 mil para internação. Se a exigência for comprovada, responsáveis pelo hospital podem pagar multa e serem presos.

Davi será sepultado às 9h de hoje no Cemitério Jardim da Paz, na Avenida Anita Garibaldi, no Abranches. Ele era o quarto filho do casal, que já tem três meninas de um ano e meio, 13 e 17 anos.

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