Sobrou pro "amigão"

Bandejas vazias e garçons na mira do desemprego em Curitiba

Com 43 anos de vivência no ramo, Maneko relata que tem 10 funcionários, mas que tem utilizado somente quatro no sistema take away. Foto: Gerson Klaina.

A pandemia de covid-19 resultou em uma triste realidade para quem trabalha servindo aos outros. Os garçons de Curitiba deixaram a bandeja de lado e estão com medo. Possíveis demissões ou até mesmo mesmo a longa permanência em casa geram um sentimento de impotência ao profissional que carregava, com firmeza, o pedido do cliente para a mesa.

Durante duas semanas, entre final de maio e começo de junho, Curitiba voltou a restringir o acesso de clientes a restaurantes e lanchonetes durante a bandeira vermelha. Ao longo deste período restaurantes e lanchonetes puderam funcionar das 10 às 22 horas, em todos os dias da semana, apenas no atendimento nas modalidades delivery, drive thru e a retirada em balcão (take away), vedado o consumo no local.

O trabalho que antes de extrema importância, um contato direto entre o estabelecimento e seus clientes, acabou se tornando desnecessário para o patrão neste período de bandeira vermelha. Lembrando que atualmente Curitiba está em bandeira laranja de restrições à covid-19.

Os dados de demissões exclusivamente para a classe dos garçons não são exatos, pois, em vários casos, a pessoa trabalha de maneira informal ou mesmo por eventos. Alexsandro de Oliveira, 38 anos, mais conhecido como Sid, é garçom desde 2006. Experiência não lhe falta, mas com a chegada do coronavírus, o rendimento mensal teve uma queda acentuada. Antes da pandemia, chegava a fazer no mínimo 20 eventos por mês como freelancer – o que rendia em média R$ 2.500.

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Com a doença e a proibição de festas, a bandeja e o traje branco ficaram de lado. “Eu sempre tive muito trabalho, mas depois da pandemia virou tudo. Cheguei a ficar 8 meses em casa sem trabalho e o que ajudou foi o auxílio do governo federal (R$600). Com a bandeira vermelha ficou mais complicado, pois não tem nada. Tenho feito em média 3 eventos”, disse o simpático Sid, pai de 4 filhos.

O sindicato que representa a categoria (Sindehotéis) imagina que desde março de 2020 ao menos 40 mil pessoas foram impactadas em Curitiba e região metropolitana. José Ademir Petri, presidente do Sindehotéis, relata que em cada restaurante que fecha na cidade, uma média de 4 garçons perdem o emprego. “Estamos muito preocupados com o destino da profissão e alguns estão desistindo. Cada lugar que fecha, são menos 4. Com o delivery ganhando força a cada decreto municipal, o garçom perde espaço. A pessoa que está no caixa atende o telefone, faz o pedido e entrega a comida”, disse Petri.

Segundo o representante sindical, compõem estes números as pessoas do setor gastronômico e hoteleiro como profissionais da limpeza, cozinha, quartos, recepção e outros. Recentemente uma tradicional churrascaria de Curitiba decidiu fechar por quatro meses e ainda culpou a prefeitura por isso, sem contar as várias que acabaram tendo que fechar por causa da pandemia e a crise econômica na cidade.

bares e restaurantes da Rua XV em Curitiba
Ponto tradicional de Curitiba tem movimento zerado por causa das bandeiras. Foto: Gerson Klaina.

Os Impactos

Um dos locais que mais acolhe os garçons em Curitiba é restaurante Madalosso, no bairro gastronômico de Santa Felicidade. Acostumado a ter um volume grande de clientes nos fins de semana com grandes eventos, o local chegava a ter 160 garçons em seus salões.

Glaucia Lima, responsável pela Gestão de Clima, Admissões/ Treinamento e Desenvolvido do Grupo Madalosso, ajustes foram realizados no quadro de funcionários para adequar na reestruturação da empresa. “Anteriormente tínhamos uma alta demanda de eventos e essa média de contratações da equipe de atendimento varia de acordo com o número de convidados. Para um evento de médio porte tínhamos uma média de 30 contratações. Aos domingos, trabalhávamos com uma média de 160 garçons, algo distante da nossa realidade durante a pandemia”, disse Glaucia.

O grupo Madalosso preferiu não informar a quantidade de garçons demitidos, mas reforçou que vários profissionais seguem mantidos no emprego em outras formas de atendimento ao público. “Entendemos que o momento era oportuno para criar e apostar em novas possibilidades de negócio dentro do nosso nicho, afim de garantir as oportunidades e renda de todos os nossos profissionais que atuam conosco, sendo garçons como também a nossa equipe da operação (cozinha) e administrativos. Tivemos o cinema drive in, temos o container-express, e trouxemos o salão para o estacionamento, onde os clientes são atendidos pelos garçons e assim conseguimos minimizar o impacto do nosso capital humano”, comentou Glaucia.  

Desesperados, Garçons de colocaram uma faixa pedindo socorro. Foto: Reprodução.

Patrões no prejuízo 

Ao passar por lugares tradicionais de Curitiba no atendimento ao público, percebe-se um estranho movimento. Balcões vazios e pouco trabalho por parte dos bares/restaurantes. No Bar Triângulo e Bar Mignon, na Rua XV, as mesas estão recolhidas e sem chance de tomar um chopp visualizando o movimento frenético das pessoas. De acordo com os proprietários e gerentes dos estabelecimentos, não ocorreram demissões dos garçons, mas o cenário é de pouca perspectiva e péssimo rendimento financeiro.

Outro lugar que fica localizado no Centro de Curitiba que atravessa dificuldades é Restaurante Dançante Pantera Negra, popularmente chamado de Gato Preto. Um cartaz colocado na porta de entrada informa que os garçons estão passando necessidade e que as autoridades estão tirando a dignidade do povo.

Manoel Alves, proprietário do Maneko´s Bar,tradicional ponto de encontro na Alameda Cabral com 43 anos de vivência no ramo, relata que tem 10 funcionários, mas que tem utilizado somente quatro no sistema take away. “ Temos três garçons, mas não compensa ter todos aqui. Estão em casa, e enquanto isso, estamos com um prejuízo muito grande e não irei recuperar tão cedo. A despesa é grande, e é preciso relaxar as medidas para a gente voltar a trabalhar. Estamos abrindo para dar satisfação ao cliente, pois pode render no futuro e não chegamos a 15% recebido do valor comparado ao presencial”, avisou Maneko.

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