Junto com o Dia das Mães, comemorado neste domingo (09), uma data importante também celebrada no mês de maio é a Semana Nacional da Doação de Leite Humano. O período propõe a conscientização a respeito do aleitamento materno e incentiva as doações em todo o Brasil, com foco na nutrição adequada dos recém nascidos que, por algum motivo, não conseguem alimentar-se o suficiente com o leite da própria mãe. Desde o começo da pandemia, no entanto, a data tem inspirado mais apreensão do que comemoração. É que em muitos bancos de leite de Curitiba e Região Metropolitana, os estoques ficaram mais baixos depois do coronavírus.
Pouco leite e muitos bebês internados. Assim define-se a situação no Banco de Leite Humano de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), com quem a Tribuna conversou. O cenário, que encontra-se preocupante desde o ano passado, reflete-se em números. Pra se ter ideia, a média de litros de leite materno pasteurizado pelo banco atingia uma média de 30 a 40 litros mensais. Agora, não passa de vinte e dois.
Inversamente proporcional à queda nas doações é o número de bebês que necessitam de alimento, que aumentou nos últimos meses. Nesses casos, a saída tem sido complementar a demanda com fórmulas que são receitadas às mães, mas que não substituem o aleitamento materno na nutrição dos pequenos.
Com 13 bancos de leite humano e 17 postos de coleta, todo Paraná sofre com estoques baixos na mesma esteira dos demais estados brasileiros. Logo em maio do ano passado, a Fiocruz estimava uma queda de 35% nas doações de leite humano em todo o país, por conta da pandemia do coronavírus. Desde então os bancos vivem em corda bamba. Alguns com estoques suficientes, outros operando no limite.
O banco de leite do Hospital de Clínicas UFPR, viveu na prática essa oscilação. Segundo Anna Carolina Almeida, nutricionista do Complexo HC-UFPR/Esberh, no mês de março de 2020, logo no início da pandemia, os estoques operavam com a metade do habitual e, em agosto, chegaram a funcionar com apenas 26% do normal. Depois, a situação estabilizou-se, mesmo com o isolamento social. “Com as mães em casa as doações felizmente não pararam. Porque, se no começo, muitas tinham medo de sair, depois, o medo passou já que as equipes dos próprios bancos vão à residência para buscar o leite”, explica.
Destinado a bebês internados nas unidades de neonatologia, o leite fruto da doação é dado com prioridade àqueles com condições mais complicadas de saúde. “Quando sobra, o leite vai para a pediatria, mas normalmente os recém nascidos consomem tudo”, ressalta a nutricionista.
Segundo último levantamento da Secretaria de Estado da Saúde (SESA), quase 19 mil doadoras colaboraram com os bancos de leite do estado em 2019, totalizando 20.690 litros doados. Para fins de comparação, os dados referentes a 2020 ainda não foram consolidados pela secretaria, que em maio do ano passado afirmou que os bancos do Paraná apresentavam boa média de doações apresentando índices até mesmo acima da média nacional. Mesmo assim, segundo a própria SESA, a quantidade disponível em 2020, ainda não conseguia suprir a demanda total das UTI’s neonatais do estado. Se considerarmos, portanto, o aumento expressivo na ocupação das UTI’s neonatais do Paraná por conta da covid-19 – que em municípios como Toledo e Maringá chegou a 100% um mês atrás – conclui-se que a situação é mesmo urgente.
Alimento completo
Segundo a nutricionista Anna Carolina Almeida, o leite materno é o alimento ideal para a primeira nutrição infantil, sendo completo nas demandas por proteínas, vitaminas e minerais necessários à saúde dos bebês, além de reduzir em 13% a mortalidade por causas evitáveis em crianças menores de 5 anos.
Poderoso na proteção contra infecções, diarreias e alergias, o leite materno tem também potencial imunizante, tão importante em tempos como agora. “Nenhuma fórmula industrializada, por melhor que seja, fornece a mesma proteção. O leite materno é naturalmente inteligente, feito sob demanda para as necessidades dos recém nascidos”, afirma.
Como doar
Para doar leite materno, alguns requisitos bastante simples devem ser preenchidos pela doadora. Confira:
- ligar para o banco de leite mais próximo antes de doar para mais informações
- deve estar amamentando
- estado de saúde deve estar adequado: livre de infecções como gripe, por exemplo
- não ser fumante/usuária de drogas
- ter em mãos a lista de medicamentos que toma regularmente
- tomar os cuidados de preparo e higiene dos frascos e das mamas antes da ordenha
- armazenar o leite corretamente até a chegada das equipes de coleta
Em Curitiba dois bancos de leite aptos a receberem doações são o do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, que atende pelo telefone (41) 3240-5117 e o do Hospital de Clínicas, pelo telefone (41) 3360-1867.