“Mais uma dose, é claro que eu tô a fim. A noite nunca tem fim, por que que a gente é assim”. O refrão da música “Por que a gente é assim”, do Barão Vermelho, do disco “Maior Abandonado”, sucesso em 1984, define uma balada das antigas de Curitiba, que ainda segue na boca e na memória do povo. A Angel´s Flight, funcionou por dez anos garantindo para os curitibanos curtição, paquera, refri com guardanapo e muito passinhos. Relembre e veja fotos abaixo.
VIU ESSA? Do Sistema X para o Xuxa Hits: Aracno Dance marcou época em Curitiba
A Tribuna do Paraná trouxe o saudosismo para os leitores em outubro, com reportagens sobre antigas casas noturnas de Curitiba. Várias baladas voltaram a ter o nome falado ou escrito pelas pessoas, fazendo os amigos relembrarem de grandes momentos. Nas redes sociais, pura nostalgia com sugestões e imagens de ingressos e festas. E um espaço foi citado várias vezes, sem dúvida, vale registrar o feito histórico que a Angel´s Flight alcançou na night curitibana, na década de 80 e no começo dos anos 90.
RELEMBRE
>> Sistema X, El Potato, Sunshine, Rave e mais: Baladas de Curitiba dos anos 90 deixam saudade
Localizada na Rua Professor Fernando Moreira, mais conhecida como Rua dos Chorões, no Centro, a Angel´s chegava a reunir mais de 2 mil pessoas aos domingos. Era um ponto democrático dos jovens, que se aventuram nas primeiras baladas da vida para curtir um som, que para muitos eram novidade. Na época do disco de vinil ou mesmo dos primeiros walkmans (aparelho portátil que reproduzia áudio de fitas), não era moleza ouvir um sucesso internacional, como acontece hoje com apenas um clique.
DJ no comando
O desafio de comandar o salão com equipamentos grandes e nem sempre confiáveis, passava nas mãos poderosas do DJ Rogério. Na época, apelidos não eram tão frequentes entre os profissionais que tinham o dever de levar alegria para o salão musical. Rogério Muniz Resende, hoje com 56 anos, trabalhou na função de DJ de 1986 a 1989, e depois retornou por mais dois anos para fechar o ciclo.
LEIA TAMBÉM – Passinhos dos anos 80 estão de volta! Grupo Flashback faz sucesso em Curitiba
“A Angel´s tinha um estilo musical diferente das outras casas que usavam mais o eletrônico, o ‘poperô’. Ela investiu no período pós-punk, e tornou a casa inesquecível. A primeira vez que fui, entrei duas horas antes em um domingo, e fiquei escondido no banheiro. Quando saí, a emoção tomou conta e percebi que ali era meu lugar. A identificação das pessoas com o lugar era enorme, um marco de Curitiba”, disse o DJ Rogério.
LEIA MAIS – Fim de semana em Curitiba: seis atividades culturais e gastronômicas!
O trabalho de um DJ em uma casa noturna como a Angel´s Flight foi valorizado por todos os envolvidos. E Rogério lembra que era preciso trabalhar muito naquela época, para se ter a novidade da noite.
“Eu tinha uma assinatura de uma revista especializada, mensal, identificando músicas e bandas que tinham lançado tal canção. Mas era preciso pesquisar onde tinha esse disco, puro garimpo. Lembro de um caso, em 1987, comecei a folhear os discos em uma loja. Coloquei na vitrola e ouvi uma banda chamada “Nenhum de Nós”, nunca tinha ouvido falar. Apaixonei pela música “Camila Camila”, coloquei no domingo, e o público adorou. A banda fez sucesso um ano depois com a música”, recordou Rogério.
Passarela e bastidores
A Angel´s Flight tinha uma passarela, onde as pessoas cruzavam de um lado ao outro do salão. Era ali que alguns olhares eram trocados ou mesmo se oferecia um refri com guardanapo para chegar na conquista. Além disso, a passarela era usada para concursos de beleza, como Miss Paraná, Curitiba e Garota Angel´s Flight.
Algo meio maluco é imaginar que passarela não tinha proteção lateral, inacreditável para os dias de hoje. “Nunca ninguém caiu, não tinha guarda-corpo. No domingo, como o pessoal era mais moleque, a passarela funcionava somente como passagem de serviço. Se criou um público dos domingueiros, que lotavam as casas, e até hoje curtem o som. Isso não foi exclusivo da Angel´s, outras casas noturnas de Curitiba também tiveram esse público mais jovem”, reforçou Rogério.
LEIA AINDA – Comida com afeto: Jeito Mineiro cativa com sabor, preço honesto e buffet livre
Uma das forças e estratégias para atrair os domingueiros ou mesmo o público considerado mais velho que frequentava a Angel´s nas sextas e sábado, e eventualmente nas quintas-feiras, eram os equipamentos. As caixas para o som ficavam suspensas em cada ponto e também no chão nos lados da pista, ou seja, a batida chegava de todos os lados.
“As pessoas ficam fascinadas até hoje com aquilo, mas tivemos problemas. Lembro que usava um ventilador para ter em vento no amplificador que ficava muito quente com o uso. Chegava a queimar o ventilador, e aí o fusível queimava. O próprio disco de vinil tinha risco e pulava a música. Ganhava vaias, mas tudo com bom humor”, lembrou o DJ.
Fama e Convite
Trabalhando como representante comercial, Rogério chegou a deixar as pistas por 20 anos. Em 2013, na extinta rede social Orkut (os novos talvez não conheçam), viu uma postagem sobre uma festa que iria relembrar a Angel´s. Nos comentários, escreveu que tinha trabalhado na balada, e foi convidado para tocar.
“Tive receio, pois o tempo era outro. Deu certo, e hoje participo de algumas festas. No próximo dia 28 de outubro, estarei no Halloween do Jokers Pub, uma festa anos 80. A ideia é colocar a pessoa em uma máquina do tempo, é um resgate. Faço o convite para todos comparecerem, vai ser uma noite especial”, completou o eterno DJ Rogério da Angel´s Flight.
Manda pra Tribuna!
Você conhece pessoas que fazem coisas incríveis, viu alguma irregularidade na sua região? Quer mandar uma foto, vídeo ou fazer uma denúncia? Entre em contato com a gente pelo WhatsApp dos Caçadores de Notícias, pelo número (41) 9 9683-9504. Ah, quando falar com a gente, conte sobre essa matéria aqui! 😉