Cabeleireiro, motorista, artesão, cozinheiro e assistente administrativo estão entre os 29 presos no esquema que causou um rombo de R$ 7,3 milhões nos cofres da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com o desvio de recursos de bolsas de pesquisa. Segundo a Polícia Federal (PF), os suspeitos chegaram a receber entre 2013 e 2016 uma média de R$ 5 mil por mês – valores que nem mesmo um professor com doutorado consegue obter com pesquisas na instituição. Além das prisões, a Operação Research, deflagrada pela PF nesta quarta-feira (15), cumpre 73 mandados judiciais no Paraná, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, com o apoio da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU).
“A maioria desses beneficiários não tem nível superior. São autônomos, profissionais como cabeleireiros, motoristas, artesão”, explica o delegado da PF delegado Felipe Hayashi. Como exemplo, o TCU acrescentou que, em casos que ainda estão sendo confirmados, um motorista de furgão recebeu entre 2013 e 2016 R$ 15,3 mil; um cozinheiro acumulou no mesmo período R$ 318 mil; enquanto um assistente de administração de empresa aposentado por invalidez levou R$ 739 mil. Um cabeleireiro, segundo apuração da reportagem, faturou R$ 627 mil.
Ainda não se sabe se os detidos que não tinham vínculo algum com a UFPR eram apenas laranjas ou se eles se beneficiaram diretamente com as verbas desviadas. Provas colhidas pela investigação atestam que os valores eram depositados diretamente nas contas bancárias de cada um deles.
O delegado Hayashi afirma que ex-pró-reitores de Pesquisa e Pós-Graduação e Planejamento, Orçamento e Finanças da UFPR também estão sendo investigados. “Pró-reitores assinaram processos de pagamentos fraudulentos. Precisamos apurar se a pessoa agiu dolosamente ou assinou isso de outra forma”, disse Hayashi.
Além da investigação da PF, a própria UFPR já abriu sindicância interna para averiguar desvio de conduta de servidores. Em entrevista à Gazeta do Povo no dia 3 de fevereiro, o retor Ricardo Marcelo Fonseca confirmou que foi notificado dos desvios assim que assumiu a administração da universidade em dezembro – a reportagem do jornal também vinha apurando a suspeita de desvio nas bolsas desde dezembro.
Os trabalhos realizados até agora mostram que os pagamentos fraudulentos eram feitos a partir de verbas repassadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do governo federal vinculado a pesquisas acadêmicas. De acordo com a PF, nenhuma documentação dos pagamentos forjados seguia padrões normalmente usados em repasses de pesquisa, o que indica falha no processo interno de fiscalização.
“Várias instâncias, em tese,deveriam ter se atentado àquele procedimento interno. Por isso estamos apurando agora para delimitar a conduta de cada um nessa investigação policial”, acrescentou o delegado.
O próprio reitor da UFPR admitiu que os sistemas de controle da universidade “eram insuficientes”. A informação também foi confirmada na entrevista à Gazeta do Povo no dia 3 de fevereiro. Fonseca admitiu que o controle das contas das bolsas eram insuficientes tanto dentro da própria UFPR, como nos órgãos externos que acompanham as contas da universidade.