Doze anos após ter sido desativado, o aterro da Caximba – que recebeu resíduos domiciliares por 20 anos – continua custando meio milhão de reais mensais aos cofres públicos. O gasto que deve permanecer por algumas décadas, a depender do comportamento do aterro da capital paranaense.
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Os dados são da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), que mostram ainda que, entre os maiores custos financeiros na manutenção e monitoramento da estrutura desativada, está o sistema de tratamento do efluente – os resíduos que se formam dentro da montanha de lixo, gases e líquidos – além da energia necessária para operações como bombeamento, aeração e tratamento, que consomem R$ 100 mil mensais.
Os maiores custos da operação de aterros desativados, relacionados ao tratamento do chorume, envolvem o uso de produtos químicos nas lagoas de tratamento, conforme explica a professora de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ana Flávia Locateli. Esses espaços, de acordo com ela, que devem ser monitorados com funcionamento adequado, para que não se devolva material poluente aos corpos d’água. “Um aterro, mesmo desativado, não é inerte. Ele segue com as características de quando estava em operação, apenas não recebendo mais novos resíduos. Praticamente quase todos os gastos que existiam antes de o aterro ser fechado continuam os mesmos”, diz Ana Flávia.
Equipe de trabalho e estrutura de cuidado
Somam-se aos gastos atuais, segundo o diretor do departamento municipal de Limpeza Pública, Edelcio Marques dos Reis, uma equipe de mais de 30 pessoas trabalhando diariamente, incluindo um químico disponível 24 horas por dia e seguranças que garantem que ninguém entre na área, que comporta 12 milhões de toneladas de resíduos depositados. “Além disso, há veículos, equipamentos e materiais usados na manutenção, inclusive na conservação das estradas internas e das áreas no entorno, que devem estar roçadas”, explica ele.
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Marques dos Reis assinala ainda que, junto com o passivo ambiental, o custo do aterro desativado está atrelado à impossibilidade de se dar, em um futuro próximo, outro uso àquela área, que ocupa 410 mil metros quadrados e que deverá estar disponível somente após décadas.
Os recursos utilizados na manutenção são provenientes da Prefeitura de Curitiba, com operação da SMMA e supervisão e fiscalização do Instituto de Água e Terras (IAT), do Governo do Estado.
Aterro desativado, mas ainda “vivo”
Com grande composição de matéria orgânica – somente resíduos industriais não eram depositados no Aterro da Caximba -, há atividades dentro do corpo de aterro, pois esse material ainda gera chorume e gases. “Os resíduos continuam a degradar. Por um período de 20 a 30 anos, o aterro ainda deve gerar esses resíduos, que devem ser monitorados e tratados”, ressalta a professora Ana Flávia.
Mesmo tendo sido construído dentro do preconizado pela engenharia sanitária, com fundo impermeabilizado e sistema de coleta de chorume e canaletas de drenagem de águas pluviais, para que a chuva não carreie substâncias prejudicais ao ambiente, o entupimento de um sistema de drenagem do chorume pode fazer com que a chuva carreie esse material sem tratamento para corpos hídricos, podendo ocasionar poluição ambiental.
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Nas lagoas de tratamento para onde o chorume é encaminhado, por exemplo, são muitos os monitoramentos rotineiros, entre eles da presença de óleos vegetais e gorduras animais, cianeto total, benzeno, fenóis totais, bário, arsênio, cadmio, chumbo. Após o tratamento, essa água é enviada aos rios, que também são monitorados. “Verificamos 100 metros à montante e 100 metros à jusante do Rio Iguaçu, para ver como fica a qualidade da água tanto na hora que ela chega, quanto na hora em que o efluente tratado é liberado. Percebemos, por exemplo, que ali o rio chega com grande grau de poluição e verificamos que, após receber o efluente tratado, o rio fica menos poluído que antes”, garante Marques dos Reis.
O monitoramento é crucial para acompanhamento dos gases formados sob o solo, aponta a professora da UFFPR, e para evitar risco de acidente. “O biogás, se não monitorado, canalizado e liberado ou queimado constantemente, torna-se uma bomba-relógio, porque seu acúmulo embaixo da terra causa um sério risco de explosão”, explica ela.
Como o aterro é estruturado em camadas, uma infiltração de água mal monitorada também pode causar deslizamentos, assim como alterações naturais da conformação do terreno, uma acomodação causada pela redução paulatina da matéria orgânica, que vai sendo degradada.
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“O monitoramento geotécnico é exigido, visto que o aterro trabalha com a diminuição do volume orgânico, avaliando a atividade no corpo do aterro e se há um movimento que mereça atenção, para que se adotem intervenções que previnam acidentes”, diz Marques dos Reis.
Ele cita que essa acomodação faz surgir espaços entre as camadas, que no Caximba foram dispostas como cinco metros de lixo, intercaladas por um metro de terra, formando uma “camada de bolo”. “Até o momento, não percebemos uma movimentação grande, mas vemos que houve uma redução de geração de gás e de chorume, porém o acompanhamento pode durar 30 anos, há aterros pelo mundo que são monitorados por mais de 50 anos”, compara ele.
Novo uso ao espaço imobilizado pelo lixo na Caximba
Como o aterro desativado da Caximba permanecerá por décadas inviável de receber alguma modificação substancial na estrutura, a prefeitura de Curitiba decidiu instalar placas fotovoltaicas no local, no que é chamada de Pirâmide Solar do Caximba.
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As obras foram licitadas e a empresa vencedora teve a ordem de serviço assinada em fevereiro. Agora caminham os projetos executivos (fase final, de acordo com a prefeitura), com instalação dos canteiros de obras. A capacidade instalada dessa estrutura será de 4,5 MWp e deve começar a funcionar em janeiro de 2023, com energia que deve abater parte dos custos do aterro desativado.
Tratamento do lixo de Curitiba e RMC
Depois de mais de dois anos após suspensão pelo Tribunal de Contas do Paraná, o edital de licitação para o tratamento do lixo de Curitiba e Região Metropolitana teve data de publicação informada: será em 6 de setembro. A proposta promete descentralizar a triagem e o tratamento dos resíduos e reduzir o papel dos aterros, atendendo à Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pelo governo federal em abril e que reforça a determinação para o encerramento de todos os lixões no país até 2024.
O foco em aterro zero é uma tendência mundial nas grandes cidades, segundo Ana Flávia, visto que não é a melhor saída simplesmente enterrar o resíduo, o que gera um passivo muito grande. “O foco é reciclagem dos materiais e a compostagem de resíduos orgânicos, que são transformados em adubo, que volta para a terra em forma de nutrientes. Enterrar resíduo é enterrar recursos e matérias-primas, algo descartado em países desenvolvidos”.