“Se o homem não foi à Lua, a minha vida foi uma piada”, desabafa o professor e astrônomo José Manoel Luís da Silva, de 85 anos. E não é para menos. Apaixonado desde criança pelas estrelas, ele foi um dos 22 brasileiros que trabalharam no projeto Apollo 11, que enviou o homem pela primeira vez à Lua – feito que completa 50 anos neste sábado (20). Com direito a uma linha de comunicação direta com a central de comando da Nasa e aos próprios astronautas, Silva é um dedinho paranaense no grande salto da humanidade no século 20.
Aos 85 anos, o paulista que se considera paranaense de coração é conhecido por ser diretor do Observatório e Planetário do Colégio Estadual do Paraná (CEP) e fala com orgulho de sua participação no programa. “E não apenas na Apollo 11, mas em todo o projeto”, enfatiza o professor, que ajudou nas pesquisas desde 1968, com a missão Apollo 8, até a expedição derradeira, em 1972, com Apollo 17. “Nossa obrigação era ficar atento a fenômenos que chamassem a atenção e alertar o centro de controle da Nasa”.
Para isso, Silva e sua equipe montaram base no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. “Quando os Estados Unidos chamaram o governo brasileiro para participar do projeto, montaram um time de especialistas e me convidaram”, recorda. Além do Brasil, países como Alemanha, Canadá e Irlanda criaram grupos semelhantes.
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Formado em Física e Matemática, ele ficou responsável por observar fenômenos na superfície da Lua e confirmar a situação com a equipe de Neil Armstrong, primeiro homem a pisar no satélite natural da Terra, em 1969. “A gente tinha uma linha direta com os Estados Unidos, que repassavam a comunicação para os astronautas na Lua”.
O papel dos astrônomos brasileiros no projeto Apollo se concentrou em três frentes: observação da superfície da Lua como um todo, da localização dos astronautas a partir do descarte de água da nave e dos chamados fenômenos transitórios lunares — luzes que apareciam em algumas regiões de tempos em tempos. Foram essas luzes que mais encantaram Silva ao longo de sua participação no programa.
O astrônomo guarda até hoje todos os relatórios feitos para o projeto Apollo que descrevem esses fenômenos e que ajudaram cientistas a entender melhor o que acontece na superfície da Lua. “Durante a Apollo 11, detectamos um abrilhantamento incomum na cratera de Aristarco e os astronautas confirmaram — Armstrong entre eles”, revela Silva.
Segundo ele, mais tarde, em 1971, já durante a missão Apollo 15, ele fez uma observação semelhante, o que ajudou a apontar que essa luz misteriosa era fruto de radiação. “Isso deveria ser confirmado com a Apollo 18, mas ela foi cancelada. Foi nossa grande frustração”, lamenta.
Essa comunicação com a equipe na Lua acontecia também no sentido oposto. Em um dos relatórios da Apollo 11 que o professor guarda até hoje, de 19 de julho de 1968 — um dia antes da chegada de Armstrong —, os astronautas falam de outro brilho incomum e pedem para que os cientistas na Terra confirmem se viram também. “Eu tenho um relatório que descreve exatamente essa luz e que foi feito a pedido da base em Houston, no Texas, depois do que os astronautas viram na Lua”, revela.
O homem não pisou na Lua?
Apesar de seu histórico com a Nasa e o projeto Apollo, Silva jura que vê com bom humor as teorias que tentam negar a ida do homem à Lua. “Essa onda negativista sempre existiu e sempre vai existir. Então procuro tolerar e até fazer uma certa gozação”, brinca o professor.
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Como ele mesmo diz, se realmente tudo não passou de uma mentira do governo americano, sua vida inteira de observação dos astros foi uma grande piada. “Você acha que, em plena Guerra Fria, os russos iam ficar quietos diante de uma farsa dessas? E o próprio povo americano?”, questiona.
Mais do que contestar os teóricos da conspiração, ele os desafia. “Em 2025, você vai ter a oportunidade de ver o homem voltar à Lua”, afirma o astrônomo em referência ao programa Artemis, também da Nasa, que pretende enviar a primeira mulher ao satélite já na próxima década. “É só esperar mais um pouquinho para tirar a prova”.
Para essas novas expedições, o professor e astrônomo diz que vai deixar o trabalho para as novas gerações. Se a agência especial norte-americana manter o cronograma, Silva terá 92 anos quando a missão chegar à Lua novamente.
“Vou continuar observando o céu. A saúde é boa, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã. Se eu estiver vivo, vou acompanhar — mas deixo o trabalho para os mais jovens”.
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