“A Cibele é uma mulher muito forte, é uma guerreira mesmo, porque passar por tudo o que ela passou e seguir em frente não é uma coisa fácil”. As palavras de Aristides Barboza Júnior elogiando a companheira de décadas não deixam dúvida de que falamos de uma pessoa realmente especial. E só se comprovam quando se conhece mais de perto a Cibele Assunção Dias Barboza, a valente esposa do Aristides, que após perder a visão há 18 anos teve que encontrar outras formas para superar as dificuldades do dia a dia.
Ela encontrou no artesanato e nos livros a energia para se reerguer após os acontecimentos traumáticos que viveu entre o final de 2005 e início de 2006. Cibele vende informalmente chinelos decorados e peças de resina para familiares e amigos.
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“Eu tinha 27 anos quando tive uma trombose na retina e perdi a visão, primeiro do olho esquerdo, no dia 27 de dezembro de 2005, e depois do direito, no dia 3 de janeiro de 2006”, conta, relembrando com precisão as datas que mudaram sua vida para sempre. A trombose nas duas retinas foram apenas alguns dos casos de trombose que ela sofreu, entre elas uma tromboembolia pulmonar, até descobrir que tinha uma predisposição genética para esses problemas de circulação.
Após perder completamente a visão em apenas sete dias, a Cibele sentiu o baque e levou algum tempo para se reerguer depois de receber o diagnóstico de que não havia mais chance dela voltar a enxergar.
“Foram quatro meses em que eu fui para o fundo do poço e voltei. Quando perdi a visão eu procurei uma psicóloga e ela me encaminhou para uma terapeuta visual. Mas logo eu descobri que não iria enxergar novamente. Meu filho tinha nove anos na época e foi por ele que eu juntei forças para seguir em frente. Tive que me readaptar para fazer as coisas que sempre fiz em casa e passei a frequentar o Instituto Paranaense de Cegos para aprender ao menos o básico de braile. Antes de perder a visão eu só sabia que um cego usa bengala e lê em braile, então eu fui tentar conhecer melhor a minha nova realidade”.
Aposentada devido à doença, ela deixou o emprego de recepcionista em um restaurante em Santa Felicidade, bairro em que mora até hoje, e passou a dedicar seu tempo para fazer cursos. E foi então que ela descobriu o artesanato, que logo virou uma terapia e também uma fonte de renda extra.
“Eu fiz um curso técnico de administração no Colégio Francisco Zardo, mas na época eu não consegui voltar a trabalhar. É muito complicado porque, na prática, essa história de inclusão não funciona tão bem assim. Mas dentro de casa eu sempre tive o apoio total do meu marido e do meu filho. Eu sempre procurei mostrar que ele tem todas as condições de fazer todas as coisas que precisa. E hoje é ele que me cobra a fazer isso, e me estimula a não ficar parada. Eu não consigo ficar sem fazer nada e por isso o artesanato me ajudou bastante”, conta Cibele, que não esconde o orgulho pelo filho Gabriel, hoje com 27 anos e formado em ciências contábeis.
Depois de aprender a fazer chinelos decorados e outras peças, Cibele segue surpreendendo a família e os amigos com as peças que produz.
“Eu preciso de alguma ajuda na hora de comprar e também para separar as pedras, escolher as cores que combinam. Depois eu faço tudo sozinha. Em épocas especiais, como no último Natal, eu aproveito para produzir mais peças. Em dezembro agora eu fiz 30 pares de chinelos, além de outras peças diversas”, explica a artesã.
“Eu acho impressionante o que ela faz mesmo sem enxergar. É um chinelo mais bonito que o outro. Dá muito orgulho ver o trabalho dela e como ela superou tudo o que passou”, destaca o marido, fã declarado do trabalho da esposa.
Além da dedicação ao artesanato, Cibele também contou com o ajuda da tecnologia para resgatar outra paixão que cultivava quando ainda enxergava, a literatura.
“Eu até lia um pouco em braile, mas depois que comecei a usar o computador tudo ficou mais prático. Felizmente a tecnologia evoluiu muito nesses 18 anos e agora existem programas de celular que leem livros. Eu já ouvi mais de 300 livros assim e nunca vou parar”.