Trânsito

Após sequência de acidentes, biarticulados terão que reduzir velocidade

Entre o fim de agosto e o início de novembro, aconteceram três acidentes no mesmo trecho. Foto: Aniele Nascimento

Uma sequência de três atropelamentos no cruzamento entre as avenidas República Argentina e Presidente Kennedy, no bairro Portão, em Curitiba, escancarou um velho problema no trecho: a desatenção dos pedestres, que circulam em grande fluxo, principalmente, por causa dos dois shoppings no local.

Entre o fim de agosto e a primeira semana de novembro, quatro pessoas foram atingidas por biarticulados na região, sendo três adolescentes entre 14 e 16 anos. Muito parecidos, os casos repercutiram e levaram empresas de ônibus a determinarem redução na velocidade dos biarticulados no trecho, que, assim como na Travessa da Lapa, no Centro, agora obrigatoriamente têm de circular a 40 km/h, em um sistema chamado de “cerca virtual”.

De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), o mecanismo consiste em um sistema que dispara um alarme na empresa se o motorista ultrapassar a velocidade de 40 km/h no trecho entre as estações-tubo Itajubá, perto do 8º Distrito Policial, e Carlos Dietzsch, perto da Igreja do Portão. Além disso, antes de sair com o ônibus para a rua, o motorista é relembrado da nova determinação. Caso ultrapasse a velocidade no trecho, ele é chamado e orientado pela empresa a praticar a direção defensiva e percorrer o trecho na nova velocidade.

O Setransp diz que a decisão das empresas Glória, Redentor e Sorriso veio justamente depois dos atropelamentos, numa tentativa de diminuir acidentes com ônibus no cruzamento, um dos mais movimentados do bairro.

Mas quem costuma passar por ali comenta que o fator complicador não é a velocidade dos ônibus ou dos carros, mas a falta de atenção dos pedestres, que nem sempre usam as faixas e respeitam a sinalização local. Extenso, o cruzamento – onde estão os shoppings Palladium, um dos maiores de Curitiba, e Total – tem 11 travessias, que, se seguidas à risca, alongam a caminhada de um lado a outro. Por isso muita gente decide encurtar o caminho e se arrisca entre carros e ônibus.

“Aqui é muita desatenção: gente com celular, que atravessa fora da faixa. É só ficar aqui e olhar como ficam esses cruzamentos entre 16h e 17h. É muita gente, muito carro, muito ônibus. Como uma pessoa vai passar correndo sendo que tem ônibus vindo? E como um ônibus vai parar para evitar o acidente? Não tem nem como explicar”, conta o taxista Davi de Souza, de 49, que está sempre em frente ao Shopping Palladium.

Para o estudante Ricardo dos Santos, 26 anos, os pedestres pecam, mas não são os únicos culpados pelos acidentes. Segundo ele, na pressa, motoristas de carros costumam furar o início do sinal vermelho e, com isso, acabam diminuindo o tempo de travessia dos pedestres. Contudo, o estudante ressalta que a sinalização não pode entrar nesse pacote.“Isso não é falta de sinalização. É mais questão de ordem mesmo. Se fosse respeitado com certeza não ia acontecer nada”, pontua.

Sinal diferenciado

O motorista Jorge Luiz dos Santos, de 49 anos, concorda que a falta de respeito à sinalização aumenta as chances de atropelamentos. Ele trabalha há vinte anos dirigindo ônibus nas canaletas e nunca se envolveu em um acidente no trecho, mas porque afirma redobrar a atenção quando passa pelo cruzamento. Conforme o motorista, na maioria das vezes os pedestres “se jogam” em frente aos ônibus, reduzindo as possibilidades de o condutor evitar uma batida.

“Aqui a velocidade é 60 km/h. Nem é alta, mas para o local se torna alta porque as pessoas são bem desligadas. Por isso agora temos que passar mais devagar. É todo dia gente atravessando com telefone, fone de ouvido. Se a gente dá uma freada vão 100 ,50 pessoas para o chão. Não tem como”, relata Santos, que acredita que a instalação de gradil ou a disponibilidade de agentes de trânsito ajudariam.

Mas a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) afirma que está fazendo estudos para a implantação de um semáforo diferenciado no ponto. A pasta não deu detalhes de qual seria o diferencial, porém, acrescenta que também vai fazer ações educativas no local para orientar tanto pedestres quanto motoristas.

“O cruzamento é bastante movimentado, mas bem sinalizado. É necessário que o pedestre tenha atenção ao cruzar a via, olhando bem para os dois lados, principalmente na canaleta do ônibus, e não manusear o aparelho celular nem utilizar fones de ouvido, que retiram a atenção do pedestre”, orienta a Setran.

No topo do ranking

As duas vias que se cruzam no ponto, a República Argentina e Presidente Kennedy, estão entre as três vias com mais atropelamentos até outubro deste ano em Curitiba. No topo, a República Argentina, em toda a sua extensão, já soma 15 atropelamentos; em seguida, toda a Marechal Floriano, com 14 pessoas atropeladas. Com 11 atropelamentos, a Kennedy aparece em 3º. lugar

A tenente Etiene do Carmo, do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPtran), reforça a falta de atenção como uma das principais causas dos atropelamentos entre a República Argentina e Presidente Kennedy. No entanto, ela afirma que não se pode ignorar o fato de que os dois grandes centro comerciais são um impulso para a intensificação do trânsito no trecho.

“Aquela é uma região bastante movimento tanto de veículos quanto de pedestres por ser região de bastante movimento de comercio, de shoppings, de mercado grande. Esses shoppings atraem muitas pessoas, que vêm com ônibus, a pé, com veículos”, analisa a tenente.

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