Depois de muita reclamação e até mesmo protestos por parte dos moradores do Santa Cândida, em Curitiba, os movimentos que apoiam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso há mais de 100 dias em Curitiba, alugaram um novo terreno. O espaço, alugado nesta segunda-feira (16), fica na Rua Professor Sandália Monzon, bem em frente à sede da Polícia Federal (PF), onde o petista segue detido.
A ideia desse novo terreno é fazer com que a vigília Lula Livre fique neste espaço. “Depois de proibirem a gente de deixar as barracas na Praça Olga Benário (que fica na Rua Guilherme Matter), os movimentos resolveram locar o terreno, que é privado, onde vai funcionar como ponto para os nossos atos”, explicou Regina Cruz, a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Paraná. Segundo Regina, a ideia é fazer com que o terreno abrigue algumas tendas e seja um ponto mais fixo principalmente para o “bom dia” e “boa noite” Lula. “Mas nós não pretendemos sair dos pontos onde já estamos. A ideia é a de manter todos os espaços”, reforçou a representante da CUT.
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O aluguel do imóvel acontece justamente após a Justiça autorizar o uso de força policial para retirar as barracas dos simpatizantes de Lula no entorno da PF. Dia 15 de junho, o juiz Jailton Juan Carlos Tontini, 3ª Vara da Fazenda Pública, determinou o deslocamento de um oficial de Justiça para averiguar a situação no Santa Cândida. Se o oficial constatasse a presença de barracas no entorno da PF, seria solicitado auxílio de força policial para desmontar as estruturas. A Polícia Militar (PM), inclusive, já havia levantado o efetivo para a ação: 162 policiais que aguardavam apenas o aval da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) para agir.
Entretanto, o impasse jurídico do “solta-não-solta-Lula” entre os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, fez com que a PM tivesse de rever o planejamento. No despacho, Tontini permite o uso da polícia caso os manifestantes não cumpram a determinação judicial anterior, expedida no fim de maio, a favor da prefeitura de Curitiba. Na decisão de segunda instância do desembargador Fernando da Silva Wolff Filho, ficou acordado que para garantir a circulação normal tanto de quem trabalha na área como de moradores, bem como de quem busca atendimento no prédio da PF, as reuniões e manifestações só estariam liberadas nos finais de semana, com duração máxima de seis horas no intervalo entre 9h e 19h. Além disso, ficou definido intervalo mínimo de duas semanas entre uma reunião e outra para não atrapalhar o período de repouso dos moradores.
De onde vem o dinheiro?
O dinheiro usado para pagar o terreno seria de movimentos que apoiam o ex-presidente como o Partido dos Trabalhadores (PT), o Movimento Sem Terra (MST) e também a CUT. “Agora teremos um local apropriado para que possamos estar, sempre mantendo o apoio ao Lula e estando de uma forma pacifica como estivemos durante todo este tempo”, disse Regina, que não entrou em detalhes sobre valores e também não explicou de que forma os movimentos pretendem continuar nos pontos em que já estavam anteriormente.
O advogado Daniel Godoy, que representa a Vigília Lula Livre, explicou que o aluguel do terreno se deu para garantir mais tranquilidade a quem queira se manifestar a favor do ex-presidente e que os policiais militares não podem barrar a entrada e a saída das pessoas. “Não existe irregularidade nenhuma, pois é uma área privada, então não pode ser inclusive alvo de qualquer ação policial”, defendeu.
Moradores na bronca
Mesmo com a mudança, os moradores do bairro continuam revoltados com a presença dos apoiadores do ex-presidente no entorno da PF. “Eles tiraram algumas tendas e disseram que vão começar a respeitar a liminar, que não ficariam mais em frente às nossas casas, mas hoje já estava todo mundo de volta”, contou uma moradora da Rua Guilherme Matter.
Para a mulher, os movimentos não vão sair dos pontos já ocupados. “Nossa opinião é de que estão fazendo mídia, querem aparecer. Não vão sair, estão inclusive reformando uma das casas que foram alugadas, na Guilherme Matter. Pelo menos agora, alugando um terreno bem próximo à PF, eles vão dar bom dia, boa tarde e boa noite para o presidiário ainda mais de perto”.
Audiência de conciliação
Depois de uma confusão, registrada entre os moradores e os manifestantes em junho, que acabou com bandeiras queimadas e alguns objetos quebrados, uma audiência de conciliação foi marcada. Na época, os apoiadores de Lula afirmavam que até poderia haver um acordo, mas que dependeria do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
A tentativa de acordo, sobre a liminar que proíbe a permanência da vigília na Rua Guilherme Matter, vai ser feita na tarde desta segunda-feira, no TJ-PR. O advogado que representa a Vigília Lula Livre explicou que, além das questões já conhecidas como a presença dos manifestantes na região, pretende também levar a situação do novo terreno alugado.
Os moradores do entorno da PF também vão acompanhar a audiência, mas não acreditam em muitos avanços. “Agora pouco passou uma mulher em frente à nossa casa e perguntou se éramos pessoas normais. Eu já nem sei mais o que é normal e nem sei mais o que esperar”, desabafou a moradora, que não se identificou.