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Entrar no Armazém Santa Ana, na Avenida Salgado Filho, no Uberaba, parece uma viagem no tempo. Um armazém daqueles de antigamente, com de tudo um pouco e com muita atenção de quem estiver atrás do balcão. Casa de madeira, algumas mesas e muita opção para quem quer degustar quitutes tradicionais ou comprar alguma iguaria que nem sempre é encontrada no supermercado. Exemplos disso são os doces, como a goiabada cascão ou o doce de figo com nozes, armazenados em caixinhas de madeira. Coisa que não se acha mais com facilidade. Mas no Armazém Santa Ana tem.
Tem ainda queijos variados, embutidos, aquele torresminho, doces diversos… Além do cardápio recheado de delícias como o eisbein (joelho de porco defumado), pierogi, dobradinha, feijoada, barreado e a tradicional carne de onça. “Quarta, por exemplo, é dia do eisbein. Eu separo toda a cozinha para isto. Mas quem vier nos outros dias também vai encontrar. Todos os dias tem eisbein e pierogi”, conta Ana Szpak, que cuida do armazém ao lado do irmão Fábio e da mãe, dona Orlanda.
Ana é neta dos fundadores do Santa Ana, Paulo Szpak e Julia Zielonka Szpak. Ele imigrante ucraniano e ela filha de imigrantes poloneses. Os dois abriram o armazém em 1934 e o estabelecimento funciona ininterruptamente. Tudo começou como uma parada para os antigos tropeiros e agricultores, principalmente de São José dos Pinhais, que precisavam ir até Curitiba. A Avenida Salgado Filho também era a única ligação de Santa Catarina para a capital paranaense. O armazém se transformou nesta referência e, como em toda parada, os viajantes não dispensavam as iguarias preparadas pelos donos, como os embutidos.
Allan Costa Pinto |
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Tropeiros foram os primeiros fregueses do local, que continua nas mãos da família Szpak. Veja na galeria de fotos o Armazém. |
Posteriormente, o armazém passou a vender diversas mercadorias, até mesmo móveis e colchões. Hoje, quem passa no Santa Ana, encontra panelas e chapas de ferro; tamancos; e até penicos. Os produtos expostos se misturam àqueles que foram aposentados e viraram decoração, como rádios antigos, balanças, moedores de carnes, separador de grãos… Um outro mundo no meio de Curitiba, que não para. Ou para, pelo menos quando se entra no Armazém Santa Ana.
Cliente, não: clube de amigos!
Os clientes antigos e fiéis praticamente se tornaram amigos da família que comanda o Armazém Santa Ana. Os novos vão lá depois de alguma divulgação ou depois de ouvirem histórias sobre o lugar. E se tornam clientes cativos. “Fiquei sabendo do armazém por meio da minha sócia, que vinha aqui quando era criança. Sempre que passo por Curitiba não deixo de vir no armazém. Tudo é feito com muito carinho”, comenta Sebastião Martins, que mora e trabalha no litoral do Paraná.
É comum que Ana Szpak chame os clientes pelo nome ou pelo menos os reconheça. “Isto tudo está agarrado em mim e eu não consigo largar”, afirma Ana, que já leva o filho pequeno para acompanhar parte da rotina do armazém. A mesma rotina que ela fazia quando era crian&c,cedil;a. E o garoto gosta e comenta com todo mundo. “É difícil manter esta tradição. São muitas pessoas antigas, são muitas histórias, que vão se perdendo”, comenta.
Ana acredita que o Armazém Santa Ana seja o último do gênero em Curitiba. Pelo menos com funcionamento sem qualquer interrupção. No ano que vem, o armazém completa 80 anos, com muitos desafios. A nova lei seca, por exemplo, afetou o movimento do armazém. Os clientes que gostam das cachaças diferentes, das cervejas ou dos vinhos artesanais já pensam duas vezes antes de consumir estes produtos. Mas Ana acredita que pode surgir o diferencial de investir cada vez mais nos quitutes tradicionais que a família prepara há tanto tempo. Oferecer mercadorias diferentes, que não são encontradas nas grandes redes de supermercados, pode fazer o armazém continuar sendo um dos patrimônios culturais de Curitiba.
Allan Costa Pinto |
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Ana Szpak entre as iguarias: além do queijo, tem costelinha defumada, eisben, goiabada… |
Veja na galeria de fotos o Armazém e confira no vídeo a conversa com uma das proprietárias.