Passageiros que desembarcavam no ponto final do expresso Pinheirinho, no Centro de Curitiba, na manhã desta segunda-feira (3), encaravam com ar de surpresa as condições da estação, localizada na praça Rui Barbosa, uma das mais importantes da cidade. Abrigo para pessoas em situação de rua durante a madrugada, o ponto amanheceu com acúmulo de roupas velhas, calçados, comida e embalagens. Quem passa por ali diariamente diz que a situação, no entanto, é mais comum do que se pensa.
“Eles sempre dormem aí, principalmente quando chove. Aí vem a guarda [municipal], tira, eles voltam, e essa sujeirada vai juntando”, relatou o vendedor de pipoca Paulo de Tarso, de 68 anos.
Tarso trabalha em frente à estação-tubo e conta que, com a chegada do inverno, mais pessoas sem abrigo têm procurado o tubo para se proteger, o que explica o acúmulo de objetos largados na estação. “Hoje de manhã a guarda veio aí, pediu para eles saírem porque estavam atrapalhando o desembarque e eles obedeceram.Durante o dia eles não incomodam. À noite é que eu não sei”, pontua.
A aposentada Armezinda Dias Martins , de 61 anos, veio de Matinhos e aproveitou para resolver umas pendências no Centro de Curitiba. Acostumada a passar pela praça Rui Barbosa, ela conta que nunca viu a estação tão suja. “Mas pelo cheiro que está aí acho que não é de hoje isso”, avalia. “Você acha que nunca vai ver essas coisas em Curitiba, estão sempre prometendo que vão melhorar, mas parece que está cada vez pior”.
Procurada, a Urbs ainda não se manifestou sobre os esquemas de limpeza nas estações-tubo de Curitiba.
Pontos viram abrigos
A reportagem não encontrou situação parecida em outras estações-tubo da região central da cidade, embora, nesta manhã, muitos pontos de ônibus continuassem a servir de abrigo para pessoas em situação de rua. Há cerca de duas semanas, a Gazeta do Povo mostrou como a ocupação dos pontos tem crescido na cidade e gerado insegurança entre os usuários do transporte público.
Nesta segunda-feira pela manhã, uma pessoa dormia na parte de desembarque da estação Carlos Gomes, onde param expressos que saem do Boqueirão. Apesar de ser novidade para os curitibanos, a turista de São Paulo Rosângela Viegas da Costa, de 51 anos – que aproveitava uma parada em Curitiba para conhecer os pontos turísticos da cidade – disse que a situação é muito parecida com a que ela vê diariamente na capital paulista. “Lá a gente está acostumado, mas em Curitiba não esperava ver isso também”, comentou.
A Fundação da Ação Social (FAS) informou recentemente que nenhum cidadão tem permissão para colocar qualquer objeto que não seja pertence pessoal nas ruas e calçadas da cidade. De acordo com a entidade, o número de pessoas em situação de rua tem crescido nos últimos anos. No ano passado, um levantamento divulgado pela fundação apontava em torno de 1.715 pessoas sem lar na cidade.